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from Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

questionamento

Me lembro que quando criança (8 anos), escutando uma roda de adultos em que só se falava coisas como “graças a Deus”, “Deus tudo pode”, e etc., perguntei “como vocês sabem que Deus existe?”. Levei um tapão na cara que olha... Mas não me tornei ateu, acho que aprendi foi nada :)

 
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from jackson

Isto não é uma despedida, é apenas um até logo...

Conheci o grupo Valekers Imperdíveis através do “Curso Escrita é Reescrita” da Aline Valek, cujo preço, a partir de R$ 20, até agora me parece muito abaixo do valor inerente ao potencial de sua proposta, mas inteiramente dentro de minhas possibilidades financeiras (de pessoa que, infelizmente e desde aquela época, ainda sobrevive com um pouquinho a mais que a metade de um salário mínimo, por sorte, numa capital onde o custo de vida permite tal existência).

Pequeno parênteses: quando menciono esse fato, é para justificar que nem sempre posso pagar por coisas que a maioria considera acessível, não para se apiedarem de mim. Eu não sou o único nessa condição e estou me esforçando, dentro de minhas limitações e possibilidades, para melhorar minha situação profissional. Fim do pequeno parênteses.

Naquele tempo, eu já tinha o desejo de revisar alguns escritos para publicação e o curso, inicialmente com três aulas, e até hoje disponível (apesar de a última ainda ser uma promessa), contemplava esse desejo inicial. Mas além das aulas, ele também oferece materiais extras, como, por exemplo, o acesso ao grupo dos Valekers no aplicativo WhatsApp, plataforma à qual eu tinha acabado de retornar, depois de alguma ausência.

Assisti às duas primeiras aulas como quem bebe água gelada sob o sol do meio-dia num deserto, muito feliz e satisfeito, mas sempre sedento de mais, especificamente, na esperança daquela terceira aula que nunca veio (isso não é uma cobrança, risos amarelos).

Então, na busca da fonte daquele possível oásis, ingressei no grupo como quem entra num restaurante muito caro sem ser convidado, completamente mudo. Até que, apesar de tentar passar despercebido, fui compelido a me apresentar e a fazer o ritual de ingresso, o qual não posso comentar, pois, secreto (risos falsos de maquinações maquiavélicas).

Me apresentei, mas não fiz a “oferenda” completa (opa, quase entreguei o ritual), porque ela prescinde da necessidade de você já ter utilizado o aplicativo, o que não era o meu caso, algo que foi prontamente perdoado. Depois disso, continuei como entrei, calado, porém, curioso.

Até que um dia, encaminhei por engano um pedido de ajuda sobre uma receita médica escrita em alguma língua alienígena e, para minha surpresa, alguém do grupo deu a resposta antes que eu pudesse apagar o meu erro (que imediatamente se provou não ser assim um grande equívoco).

Depois desse acontecimento, comecei a interagir mais e a perceber que as pessoas lá tinham um comportamento realmente amigável, em comparação a outros grupos dos quais tive a obrigação de participar, e isso me surpreendeu bastante!

Eu passei a acessar mais o grupo e, devido à cordialidade dos participantes, até esqueci de minhas falhas de comunicação, apesar de me expressar bem por escrito (coisas totalmente diferentes). E foi assim que descobri uma quantidade absurda de conhecimentos relacionados, não apenas à escrita, meu foco inicial, mas também a outras modalidades artísticas.

Já nesse tempo, eu senti que fui atraído para um esquema de pirâmide (compre um curso e conheça umas pessoas legais), uma armadilha! Mas diferente, uma de espécie desconhecida, que pega a gente pelos sonhos, eu realmente sonhei com o grupo! “Grupo tarefa para consertar realidades defeituosas…” é um rascunho resultado de um desses sonhos que pretendo desenvolver futuramente.

A Aline Valek (mãe do grupo) é uma dessas pessoas incríveis que na Bahia chamamos de manifestação. No caso dela, ela é uma das manifestações da própria arte e do fazer artístico! Se acessar sua página, vai entender o que quero dizer, ela faz quase tudo!

E é óbvio que ela é uma das musas inspiradoras de muita gente além dos participantes do grupo. Além disso, ela também tem a capacidade sobrenatural de aglutinar espíritos iguais ao dela, artísticos, e o grupo está repleto deles! Aceite ou não, ela é a singularidade na qual orbitam todos nós, fazedores de todos os tipos de coisas que tocam o coração.

Em breve saio do aplicativo e, por consequência, do grupo, com sentimento de tristeza pela futura ausência, mas de enorme gratidão por tudo que aprendi lá e, tudo de excelente que ele me proporcionou.

Só para citar três exemplos, (1) a leitura de pessoas que escrevem lindamente, (2) minha regularidade na escrita e (3) a publicação de meu primeiro livro! Eu não teria conseguido nada disso sem o grupo e, por isso, cada batida de meu coração reverbera, ainda que em tons e acordes diferentes, uma única palavra (sentimento): obrigado.

“O grupo mais imperdível da galáxia! Uma baguncinha organizada” é a descrição do grupo no WhatsApp, uma descrição que realmente reflete a realidade ali presente. Ele também tem uma página disponível neste link: Valekers Imperdíveis.

 
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from Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

queda

Versão final

Que alegria! Fui chamado para cumprir uma tarefa: comprar um frango assado. Fui de bicicleta, só assim tem graça. Andar a pé é tão lento. Uma quadra plana, outra em subida, ambas em cascalho. Sou ignorado muitas vezes, até que um atendente, ignorando minhas vestes, me entrega o galeto. Pergunta se é só isso. Eu queria um pedaço de costela e uma porção de maionese também. Mas, bem educadinho, mandei um “hoje é só isso mesmo, obrigado”. Volto mais rápido que o pensamento, a sacola pendurada entre a mão e o guidão, na parte baixa. Delícia correr no asfalto. Entro na descida, aumento a velocidade, e a sacola enrosca entre a roda e o garfo, me fazendo capotar sobre mim mesmo. Pedaços de frango pendurados na bicicleta, o resto na rua, eu esfolado, com a ponta do dedão pendurado. Duas longas quadras mancando, chorando, muita dor, empurrando a bicicleta, andando devagar. Que merda.

Primeira versão

Que alegria! Fui chamado para cumprir uma importante tarefa familiar: comprar o frango assado de domingo. Obviamente fui de bicicleta. Andar a pé é tão lento… Dinheiro no bolso, cumpri o trajeto de três quadras, pedalando. Uma quadra plana, outra em subida, ambas em cascalho, e finalmente, a civilização, limpa, bonita, invejável, no esplendor de uma via rápida asfaltada, com belas casas. Chego ao comércio, enfrento o problema de onde deixar a bike, não trouxe corrente. Tenho que ficar de olho, lá de dentro. Confio na sorte. Muita gente sendo atendida, por ser criança sou ignorado muitas vezes, até que um atendente, não ligando para minhas vestes, me entrega o galeto e a notinha pra pagar. Pergunta se é só isso, como eu queria um pedacinho de costela e uma porção de maionese também… Mas, bem educadinho, apenas respondi que “hoje é só isso mesmo”. Volto feliz em minha monark 10 marchas, mais rápido que o pensamento, sacola pendurada entre a mão e o guidão, na parte baixa, que dá mais velocidade. Delícia correr no asfalto, dobro a esquina, baixa descida. Aumenta a velocidade, a sacola enrosca entre a roda e o garfo, me fazendo capotar sobre mim mesmo. Pedaços de frango pendurados na bicicleta, o resto na rua, eu esfolado, com a ponta do dedão pendurado. Duas longas quadras mancando, chorando, muita dor, empurrando a bicicleta, andando devagar. Nesse mês não teve o frango de domingo na semana de pagamento. Falhei miseravelmente na missão, que merda.

 
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from skadi

Recentemente, descobri que muitas imagens criadas com o Canva continham meu nome inserido automaticamente nos metadados. Exceto que... eu não quero que meu nome fique gravado nos metadados. :p

Descobri isso quando ativei o menu lateral de informações no gerenciador de arquivos Dolphin (F11 ou Menu > Show Panels > Information).

Percebi que o título da imagem nos metadados era o nome do arquivo original no Canva. Ou seja, ainda que eu renome a imagem no computador, nos metadados do arquivo o titulo permanecerá o definido no Canva.

Vou compartilhar aqui como fiz para remover os metadados de centenas de imagens de uma só vez!

(No momento, não consigo compartilhar cópias da tela aqui, então vai em texto cru mesmo. :p)

Para isso, usei o programa Digikam.

Ao abri-lo, importe as imagens que você quer modificar em massa e selecione-as.

No menu superior, clique em Batch Queue Manager.

A janela que abrir possui varios painéis. No painel abaixo à esquerda Queue Settings, defina os parâmetros de acordo com o que você deseja.

No meu caso, em Target, optei por desabilitar a opção “Use original Album” e selecionei “New Album” para criar um álbum para receber as imagens modificadas.

Em File Renaming, na primeira tentativa, cometi um erro e renomeei tudo errado (falarei disso logo mais abaixo), então, depois, apenas deixei selecionada a opção padrão “Use original filenames”.

Em Behaviour e Raw Decoding, não mexi.

Em Saving Images, como a qualidade JPG está definida em 75%, eu mudei para 100%.

No painel de controle do lado direito (Control Panel), fui até o final na opção “Metadata” e selecionei “Remove Metadata”. Ao clicar duas vezes ali, o recurso é aberto nos painéis superiores. No painel “Tool Settings”, selecionei as três opções: Exif, IPTC e XMP.

E é só. Depois, basta clicar em “RUN” e verificar se os metadados foram removidos e se o procedimento funcionou. É possível verificar no próprio Digikam, ou no painel de informações do Dolphin, no GIMP ou mesmo no terminal (precisa instalar o plugin ExifTool e depois lançar o comando “exiftool nomedoarquivo.jpg” no terminal).

Ah, vale dizer que os gerenciadores de arquivos de algumas distros Linux nem sempre mostram todos os metadados possíveis ao clicar em “Propriedades > Detalhes” de uma imagem. O Gwenview também é incompleto. O Dolphin, que é o gerenciador de arquivos padrão do KDE, não é exaustivo no que escolhe mostrar. Por essas e outras precisei instalar o Digikam.

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Renomear arquivos em massa

Como eu disse antes, da primeira vez eu cometi um erro na customização do nome e acabei renomeando errado os arquivos cujos metadados foram removidos. Coisa boba mesmo, repeti uma opção e um modificador em Renaming Options. Este é um recurso muito bacana e tem opções avançadas, eu quis “brincar” um pouco mas não deu certo de primeira. 😁

Mas só percebi isso depois.

Eu não domino o Digikam, e talvez seja possível renomear os arquivos em massa. No entanto, como estou acostumada a usar o KRename (https://userbase.kde.org/KRename), seria mais rápido renomear os arquivos em massa por meio dele do que me aventurar no Digikam, que uso muito pouco, e ter que gastar tempo procurando como fazer na internet ou tateando dentro do programa mesmo.

Era 1h30 da madrugada, vamos de KRename.

(mas eu realmente queria dominar o Digikam e esse era um use case bom para testar novas coisas, mas o hábito falou mais forte...)

Renomear arquivos em massa no KRename é muuuuuito simples.

Basta abrir o programa, clicar em “Add” e escolher os arquivos desejados. Na próxima tela, você verá que existem 4 etapas no menu acima do painel dos arquivos: Files, Destination, Plugins e Filename.

Em “Destination”, deixei na mesma pasta e selecionei a opção para sobrescrever os arquivos (“Overwrite existing files”). Mas, se você não conhece o programa e tem medo de fazer besteira, crie uma pasta nova com os arquivos renomeados, em vez de substituir os existentes de cara.

Depois, fui direto para a 4° etapa (Filename), que tem inúmeras opções. No meu caso, eu precisava usar um regex. Para isso, fui em “Find and Replace > Add”, inseri meu regex no campo “Find” e selecionei “Find is a Regular Expression”. Clicar OK.

Também é possível acrescentar outras condições de substituição.

Ao dar o segundo OK, os arquivos foram pré-renomeados. Você pode verificar se está tudo certinho. Se estiver tudo certo, você clica no botão Finish.

Somente ao dar o comando “Finish” é que ele vai realmente renomear os arquivos no disco rígido.

Se como eu você precisar usar e abusar do regex, não hesite testar se ele funciona em um arquivo somente.

 
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from Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

Senhora idosa brava ao ver um fusca azul.

Em uma certa praça, em algum lugar do Brasil, uma senhora está sempre presente. Muito atenciosa, por vezes pedindo ajuda, em dinheiro, ou um lanche.

Mas, do nada, ela se agita tanto, que escolhe alvos aleatórios na praça, pra dar socos no ombro. E sai gritando “fusca azul, fusca azul”!

O pior é que a inusitada agressão nem machuca, mas o que deixa as pessoas atordoadas é a plateia que se forma, e nunca ver o maldito fusca azul.

 
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from jackson

Um dos princípios mais conhecidos da escrita é a Arma de Tchekhov, que nas palavras de Raimundo Carrero, no seu livro “A preparação do escritor”, diz:

... se o narrador coloca uma corda na parede, ela tem que ter alguma função, nem que seja para enforcar o narrador.

Relembrando, como ele ainda diz: “Narrador não é autor. Autor não é narrador.” Autor somos nós, brincando de deus nos mundos que criamos, narrador são nossas personagens, as vozes que usamos para contar (ou não) sobre os mundos que habitam; “o autor escreve, o narrador conta.”

O que chamo de mal(bem)dição do escritor não é bem um princípio, mas uma percepção não dita por nós que escrevemos, que é olhar uma única cena e re(vi)ver suas múltiplas possibilidades. No livro “Exercices de Style” de Raymond Queneau, ele mostra como contar a mesma história 99 vezes, cada uma com um estilo diferente. No caso da mal(bem)dição, a variação vai além do estilo.

Imagine pedir para um grupo de pessoas escrever uma cena na qual alguém, numa cozinha, pega um copo d'água na pia. Cada pessoa vai escrever a sua própria versão, provavelmente diferentes entre si. E antes que cada uma decida sobre seu texto final, provavelmente ainda vão reescrever algumas versões antes disso. Essa é a mal(bem)dição do escritor.

Somos uma única pessoa autora, escrevendo sobre uma única cena, mas com várias vozes na nossa cabeça dizendo como cada versão deveria ser.

É uma benção porque faz parte da atividade de escrita a imaginação dessas várias possibilidades, o que chamamos de criatividade. É uma maldição porque, geralmente, é preciso escolher apenas uma delas, para continuar; uma redução das possibilidades de nosso multiverso narrativo. Ou como bem resumiu o Thiago, lá no Mastodon, a mal(bem)dição do escritor é um processo de computação quântica…

 
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from jackson

Quando criança (e participante do catecismo), pedia perdão a deus por desejar ser surdo. Ficava triste com esse pensamento, gostava de ouvir música (ainda gosto). Recentemente, assustei uma amiga: não conseguir esconder um desses episódios de “desconforto” auditivo. Ela me perguntou se doía, rapidamente assenti. Só depois, já em casa, pensei que melhor seria: sim, mas por dentro (e ânsia de vômito e desgaste físico).

O mais curioso, é que eu já era meio “surdo” antes, e nem sabia! Só me dei conta depois da primeira limpeza de ouvido. Um dia inesquecível, a sensação de ouvir tudo, sem conseguir focar, desorientação total. Por sorte, não estava só. É intrigante saber que o acúmulo de cera me protegeu por tanto tempo. Mas desde aquele dia, não fosse os fones de ouvidos…

 
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from Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

Luiz Carlos Prestes, jovem

Prestes, Capitão do exército, em serviço no Rio Grande do Sul, 1923-1924. Imagem recortada de uma foto presente em [1].

Comecei a ler a biografia de Luiz Carlos Prestes, escrita por Anita Prestes [1], e sou apresentado a um certo embate entre ele, em sua postura ética com as contas do Estado, contra Simonsen, outro jovem, mas já se beneficiando de recursos estatais como um parasita.

Estamos num momento em que o jovem militar estava forjando seu entendimento político sobre nosso país, não numa perspectiva socialista, mas num viés pequeno-burguês ainda.

Essa relação de Simonsen com o governo, se apresenta na construção de quarteis, à qual Prestes devia fiscalizar, e que era tocada por empresas privadas em contrato com o Ministério da Guerra, majoritariamente a Companhia Construtora de Santos.

Muito contrariado com a falta de condições para realizar os trabalhos que lhe eram atribuídos, Prestes executava o que podia, com o mais absoluto rigor, e começava a bater de frente com as oligarquias e suas indecentes relações com o Estado brasileiro.

E essas oligarquias tinham um grande representante e um império em construção: Roberto Simonsen, hábil em beneficiar-se de seus “contatinhos” e contratões.

Roberto Simonsen

Roberto Simonsen

Segundo Maza ([2], p. 79), “Simonsen é talvez a prova mais cabal de que os empresários industriais paulistas possuíam um projeto de hegemonia política que foi sendo construído no decorrer dos anos trinta”.

Tendo a industrialização do país como meta, Simonsen deparava-se com grandes obstáculos para seus interesses, advindos, segundo ele, principalmente de nosso passado colonial e posição subalterna em relação ao cenário internacional:

”(...) a falta de combustível, a deficiência dos transportes, as dificuldades de técnicos e de mão de obra apropriada, a falta de capitais.” ([2], p. 82).

Interessante que ele tenha trabalhado, logo depois de formado, na Southern Brazil Railway, empresa do empresário estadunidense Percival Farquhar, responsável entre outras coisas, pelo conflito conhecido como Guerra do Contestado, que oprimiu, matou e expulsou colonos, por conta da construção da estrada de ferro entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Além disso, também trabalhou na diretoria-geral de obras na prefeitura de Santos, e como engenheiro-chefe da Comissão de Melhoramentos de Santos, ocupações que devem ter possibilitado o tal networking que privilegiaria seus futuros empreendimentos.

Depois dessa sua atuação na administração pública, é a sua ação prática junto aos governos que nos interessa. Em 1912 funda a Companhia Construtora de Santos, conseguindo contrato com a prefeitura para construção de habitações populares na cidade, além de outras obras.

Para isso, consegue com o prefeito à época, uma lei que dava incentivos a investidores para essas atividades. Já aqui, críticas são aventadas por esse possível benefício direto concedido, à sua empresa, pelo poder público.

Mas para além de Santos, o que marca sua história são os quartéis, pelo país, construídos por sua empresa graças a contratos com o Ministério da Guerra:

“As obras de construção de quartéis, entre os anos de 1922 e 1925, realizadas pela sua companhia, deram-lhe a ideia de construção em série e fez com que seu interesse se voltasse aos processos de industrialização. De fato, neste episódio, o processo de racionalização não se limitou apenas à organização do trabalho, mas estendeu-se à padronização dos materiais, das instalações e dos aspectos arquitetônicos.” ([2], pp. 84-5).

Esses contratos foram conseguidos de forma nada republicana: “Atrás de suas cordiais relações com Pandiá Calógeras, ministro da Guerra do governo Epitácio Pessoa, Simonsen consegue contrato para a construção de 103 estabelecimentos militares em 26 cidades de nove estados, obedecendo a um projeto oficial de expansão e melhoria das instalações do Exército.” ([2], p.100).

Entre muitas suspeitas e polêmicas, chega-se ao ponto em que Simonsen concede a si um auto perdão:

”()... a empreitada sofreu com múltiplos problemas de logística que envolveram dificuldades de transportes e políticas, como por exemplo, as revoltas tenentistas no sul do país. (...) sem contar as críticas de falta de concorrência das obras oferecidas à Companhia Construtora de Santos. A apuração de irregularidades que seria procedida em 1930 sobre esses contratos firmados “confirmaria a correção dos serviços prestados pela Companhia Construtora de Santos”, levando Simonsen a publicar, em 1931, sua obra A construção dos quartéis para o Exército, onde se defendeu de todas as acusações.” ([2], pp. 100-1).

Mas Prestes, jovem e virtuoso tenente, descobriu, anotou e denunciou as muitas irregularidades que encontrou.

Prestes auditando compras e obras

Sem provas de seu envolvimento com a revolta tenentista de 1922, Prestes é enviado do Rio de Janeiro para o interior do Rio Grande do Sul, como uma forma de punição, ainda que informal ([1], pp. 36-7).

A ele foi delegada a missão de fiscalizar a construção de quartéis nas cidades de Santo Ângelo, Santiago do Boqueirão e São Nicolau, pela “chefia da Comissão Fiscalizadora da Construção de Quartéis” ([1], p. 37). Estas cidades compunham um dos contratos entre o Ministério da Guerra e a Companhia Construtora de Santos, propriedade de Roberto Simonsen.

As condições para sua tarefa não estavam dadas, pois não existiam especificações escritas para que a auditagem pudesse averiguar e comparar o feito com o exigido. Entre idas e vindas, entre o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, ele tenta se demitir por fala de condições para exercer seu trabalho.

O contrato, considerado por Prestes como “terrível”, responsabilizava a Companhia de Santos por pagar todas as despesas locais, e, uma vez aprovadas as notas, receberia um adicional de 10% sobre esses valores. Quanto mais rápido aprovadas essas contas, mais rápido recebiam do Ministério da Guerra.

O que Prestes avaliava como “normal”, era liberado, no que tinha dúvidas, mandava relatórios detalhados questionando a qualidade entregue ou outros motivos, o que atrasava todo o processo.

Certa feita, embargou uma grande entrega que chegou de trem, vinda de São Paulo, com material de péssima qualidade. Questionou a razão desse material vir de longe, com baixa qualidade, com custos maiores do que se isso fosse feito localmente.

Recebeu telegrama da Chefia ordenando a suspensão do embargo, mas, dada a sua avaliação, manteve sua posição, respondendo com outro ofício, e o embargo manteve-se.

Em um quartel, verificou que não havia um projeto adequado para o esgoto, e ele mesmo elaborou um projeto, visto que havia a possibilidade de que “descarregando num edifício, se levantasse em outro [risos]” ([1], p. 39).

Chegam os operários especializados para essa construção, mas iam apenas fazer o trabalho sem seguir qualquer plano (e recebendo diárias). Prestes embargou a obra, e foi, finalmente, demitido da função, “por necessidade de serviço [risos]” ([1], p. 40), sendo transferido para o batalhão ferroviário de Santo Ângelo.

E, nas palavras do camarada, “De maneira que essa foi minha vida com a Companhia Construtora de Santos” ([1], p. 40).

Anita ressalta que:

“Ao referir-se a essa empresa de propriedade de Roberto Simonsen, Prestes ressaltava que esse grande empresário era muito amigo do general Cândido Mariano Rondon, que, por sua vez ocupava o cargo de diretor do Serviço de Engenharia – o Departamento de Engenharia do Exército –, subordinado ao ministro do Exército. Nos escritórios da Companhia Construtora de Santos havia sempre um grande retrato do general Rondon.” ([1], p. 40).

Por fim, após todo esse processo, Prestes recebe um emissário do general Barcelos instruindo que contas não aceitas por ele deviam apenas serem devolvidas sem relatórios, o que Prestes também negou. ([1], p. 40).

Penso que essa experiência de Prestes reforça sua oposição, até então, “moralista” ao governo, que o manteria conspirando e suscitaria o que o levaria a um conhecimento do Brasil profundo, com a Coluna, e outro aprofundamento de posição, mas agora para a revolução proletária, no pós-marcha.

Referências

  • PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro. São Paulo: Boitempo, 2015. 37-47.
  • MAZA, Fábio. “Simonsen: industrialização, empresa e liderança empresarial” in Os Donos do Capital: a trajetória das principais famílias empresariais do capitalismo brasileiro. org. Pedro Henrique Pedreira Campos & Rafael Vaz da Motta Brandão, 78-103. Rio de Janeiro: Autografia; 2017.
 
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from skadi

Tenho trabalhado como tradutora voluntária em alguns projetos de código aberto. Meu objetivo é trazer o idioma português para projetos que gosto.

Quando me candidatei a voluntária em um grande projeto como tradutora, tive que responder algumas perguntas sobre COMO faço meu trabalho de tradução. Na primeira vez que vi essa pergunta, pensei: bem, eu apenas traduzo palavras que conheço, percorrendo meu dicionario mental. Mas certamente não é isso que eles queriam saber, e provavelmente querem comparar o seu repertório de estratégias para fazer as traduções com o repertório de outros candidatos no que diz respeito a traduções que não são tão simples de fazer quanto percorrer um dicionário mental.

Mas quais são as etapas que eu sigo? Então, tentei dissecar o que costumo fazer quando estou traduzindo, e aqui estão as etapas que sigo:

1- Primeiro de tudo, ler o texto inteiro e ver se entendeu 2- Procurar os termos desconhecidos 3- Entender o contexto, significado e traduzir frase por frase (não palavra por palavra) 4- Verificar a gramática/sintaxe 5- Fazer uma revisão

Mas essas etapas podem ser mais trabalhosas do que inicialmente se imagina:

  • Diante de algumas palavras menos conhecidas, consulto um dicionário online para obter definições, sinônimos e as melhores palavras equivalentes em outro idioma. Muitas vezes, ainda que eu conheça o significado da palavra, eu olho a definição assim mesmo para ter certeza que o que eu achava era isso mesmo, pois o problema de aprender outros idiomas de forma não muito formal é que às vezes a gente aprendeu errado.
  • Como falo fluentemente três idiomas, se tenho dúvida sobre como traduzir algo do francês ou inglês para o português e não acho resposta, vou consultar como os espanhóis fizeram. Às vezes, quando a tradução literal não funciona, olho a tradução francesa de uma palavra inglesa e vice-versa para adaptá-la ao português. O fato de saber uma terceira língua já me salvou várias vezes.
  • Crio um dicionário com as expressões mais comuns para que eu não perca tempo nas próximas traduções. Alguns projetos já possuem dicionario próprio que você tem que respeitar, o que é bem prático. Mas nem todos são bem estruturados.
  • Verifico a gramática e a ortografia antes de enviar. Eventualmente espero um pouco mais antes de revisar para dar uma “distanciada” da tradução recentemente terminada.
  • Ao traduzir as legendas de vídeos, levo em conta o contexto, o tom e o estilo. Precisa tomar cuidado para encontrar o equilíbrio ideal entre o tempo de um quadro de vídeo e a extensão do texto na tela e ser sucinta, buscando usar palavras eficientes que resumem a ideia que está sendo passada.
  • Se eu não entender uma palavra ou não saber se já existe uma tradução para um termo técnico, tenho que pesquisar para entender o assunto. Isso pode incluir passar um bom tempo lendo documentação técnica ou até instalar apps de concorrentes. Somente peço ajuda para os universitários (outros tradutores) em última instância, até porque os projetos em que tenho trabalhado não possuem comunidades ativas.
  • Se o conteúdo for realmente técnico e eu perceber que não tenho capacidade (ou tempo) de fazer uma boa tradução, deixo para o próximo. Percebi que normalmente bloqueio na hora de traduzir termos de infraestrutura/devops/protocolos então é um esforço que parei de fazer pelos resultados que me deixavam ansiosa e com medo de estar errada. Na dúvida, não traduza.

Quando saí do piloto automático e parei para pensar no que estava fazendo, percebi que, ainda que eu faça isso de graça e não seja profissional, é um trabalho que exige disciplina e rigor. Tenho tendência a menosprezar coisas que faço com facilidade e prazer, mas, dessas raras vezes em que paro para refletir sobre o significado de tal atividade e sobre o tempo que dedico a projetos de pessoas que nem conheço, encontro algumas qualidades e fico agradecida por ter conhecimento específicos que são úteis a outros, e por ter motivação e abnegação para aplicá-los em projetos que não são meus, sem nenhuma expectativa de retribuição.

 
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from skadi

XMPP logo Influenciada por discussões no Mastodon, tenho me interessado bastante sobre protocolos de mensageiros instantâneos como o #XMPP e tenho guardado nos meus arquivos os links de artigos sobre o assunto que tenho lido.

Decidi compartilhar aqui a lista de artigos encontrados com outros interessados. A ideia é ir acrescentando novos links conforme mais leituras forem feitas.

Os artigos estão em inglês, salvo se sinalizados com 🇧🇷 ou 🇫🇷.

Indice:

  1. Geral 1.2. Artigos em português 1.3. Artigos em francês
  2. Servidores XMPP
  3. OMEMO
  4. Na mídia

1. Geral

-** Comparison XMPP/Matrix** https://www.freie-messenger.de/en/systemvergleich/xmpp-matrix/

1.2. Artigos em português: 🇧🇷

Explicações em português feitas pela comunidade brasileira no Mastodon:

1.3. Artigos em francês: 🇫🇷

  • Messagerie instantanée – XMPP

https://www.chapril.org/-XMPP-.html

2. Servidores XMPP

2.1. Ejabberd

2.2. Prosody

3. Sobre OMEMO (criptografia utilizada pelo XMPP):

Omemo logo

0384: OMEMO Encryption: Specifications https://xmpp.org/extensions/xep-0384.html

OMEMO Multi-End Message and Object Encryption https://conversations.im/omemo

PDF: OMEMO: Cryptographic analysis repo (resultado de auditoria) https://conversations.im/omemo/audit.pdf

Signal Encryption vs. XMPP Omemo https://www.reddit.com/r/signal/comments/10edi7b/signal_encryption_vs_xmpp_omemo/

Blind Trust Before Verification https://gultsch.de/trust.html

4. Na mídia

This Is the Code the FBI Used to Wiretap the World (2022) https://www.vice.com/en/article/anom-app-source-code-operation-trojan-shield-an0m/

Hack Exposes Reams of Private Jabber Chats (2017) https://www.vice.com/en/article/hack-exposes-reams-of-private-jabber-chats/

The NSA Uses the Same Chat Protocol as Hackers and Activists (2014) https://www.vice.com/en/article/the-nsa-uses-the-same-chat-protocol-as-hackers-and-activists/

 
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from jackson

O racismo me parece um processo de desumanização de mão dupla, no sentido em que, para desumanizar a pessoa negra, do jeito que ele fez e continua fazendo através da mente e corpo, é preciso que o homem branco já tenha antes também se desumanizado, ainda que ele não perceba; o que não o exime de sua responsabilidade (seja ela por ignorância e/ou má-fé)!

Não me intriga o racismo ser a pior coisa já concebida pelo homem branco (e devemos sempre apontar a responsabilidade deste problema), porque a gente já viu não haver limites para maldade, mas o fato dele ser recente, numa escala histórica; e hoje, nós vivemos nessa distopia, como se ela estivesse aí desde sempre…

Solidariedade a todas as pessoas negras que sofrem com o racismo. Tenho esperança que, num futuro próximo, olharemos para hoje, da mesma forma que olhamos para o mais famoso holocausto (pois os mais letais, impostos às populações africanas pelo dita “civilização” europeia, o racismo, ainda não nos deixa enxergar), com olhar de repugnância.

E quando este dia chegar, também espero nos perguntar como conseguimos aceitar conviver com tamanha atrocidade. Porque a única diferença entre o conhecido holocausto do passado e o “desconhecido” racismo de hoje, é que este último continua matando, eficientemente, to-dos-os-di-as!

Um escritor que gosto (o Raimundo Carrero) diz que o jornal é a dor do mundo. Para mim, a dor do mundo, a real desgraça do nosso mundo mesmo, é o racismo.

Já escrevi “Sobre o racismo…”

 
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from jackson

Somos instantes (realmente)…

Hoje, na primeira aula de escrita criativa, estava todo feliz por conseguir me matricular e a aula estava indo tão bem, com a professora referenciando várias pessoas autoras que eu já conhecia, a turma também empolgada, tudo ótimo…

Até que, no final, entreguei a ela o livro coletivo, resultado de uma oficina de haicai, de que participei na pandemia e, enquanto ela lia a capa, comentou que o organizador da obra (e mediador do curso) havia falecido.

Nessa hora, só tive como reação colocar a mão no rosto, por uns segundos (e nesse breve intervalo, rever toda a nossa curta, mais intensa interação naquela oficina). Acho que nunca saberei expressar com palavras esse sentimento de vertigem que a gente sente quando ouve uma notícia dessas, a percepção da ausência…

Ele foi uma pessoa com quem tive contato por apenas algumas semanas, mas o nosso grupo se deu tão bem (tanto que publicamos o livro), que parecíamos que já nos conhecíamos há muito tempo. Estávamos todos preocupados naqueles tempos de morte, mas mesmo assim, nos encontrávamos assídua e remotamente para estudar e escrever. Então, assim como a jovem psicanalista do meu conto Sobre “fraquezas”…, não tive como não esconder minha reação.

A professora pediu desculpas, mas também não tinha como ela saber que eu não sabia daquela informação (e isso me acontece com mais frequência do que gostaria). De qualquer forma, tentei e acho que me recompus rápido, acho.

Foi a segunda vez que isso me ocorreu esse ano, a anterior foi antes de eu apresentar uma avaliação final numa disciplina e um antigo coordenador, que nunca me enviava mensagem, enviar uma (por isso achei de ler na hora) avisando da morte de um amigo do curso no qual dávamos aula.

Enfim, a morte sempre é algo triste, mas parece muito pior quando vem assim, sem avisos e injustamente antes do tempo, essas duas pessoas eram tão jovens…

Link para o livro

Este texto não é um rascunho, apenas um registro pessoal, por isso não vai para o sitezinho.

 
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from notamental

If you're trying to upgrade Proxmox from 7 to 8 using K or S OVH Type Servers, and you are loosing network connection after the reboot this is for you.

A kernel regression could affect the kernel network devices detection.

To fix this you need to add pci=noear to your grub config before rebot.

Example

root@yourserver:~# cat /etc/default/grub|grep quiet
GRUB_CMDLINE_LINUX_DEFAULT="quiet pci=noaer"

How to do it?

vim /etc/default/grub

Change

GRUB_CMDLINE_LINUX_DEFAULT="quiet"

To

GRUB_CMDLINE_LINUX_DEFAULT="quiet pci=noaer"

Update grub config

update-grub

Then reboot.

reboot

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  • k7

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from postmortem

Pessoal,

Nosso servidor no DatabaseMart começou a se comportar de forma inesperada.

O I/O de disco começou a subir muito e ficou impraticável manter a operação lá.

O suporte não conseguiu solucionar, portanto, fizemos rollback para OVH.

Estamos de volta na OVH, finalizando ainda algumas configurações.

O que podemos melhorar?

Vamos colocar o bolha.io, site estático fora da OVH para poder comunicar problemas quando ocorrem.

Vamos colocar o mattermost.bolha.chat fora da OVH para que vocês possam falar conosco em caso de um problema nos servidores principais.

Vamos criar uma conta no mastodon.social para informar de problema que possam estar acontecendo nos servidores da OVH.

Vamos colocar um NGINX no servidor do KUMA (status.bolha.us) para não depender do NGINX que roda nos servidores da OVH.

E os dados?

Fizemos um backup ontem às 19hs das VMs do servidor da DatabaseMart e restauramos do lado de cá.

Como podemos ver se está no ar ou não?

Acesse sempre o https://status.bolha.us e https://bolha.io para ter informações.

 
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