Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

Parêmias nem tão pequenas, nem tão profundas, sobre a sociedade capitalista

Cerimônia de fundação da República Popular da China, praça Tiananmen, 1949

Publicado originalmente em Em Defesa do Comunismo/sobre-a-china/

Se há um tema quente entre comunistas, é a China. Não precisamos, não podemos, e não devemos estagnar num estado em que apenas colocamos pomposas etiquetas para encobrir o não conhecimento pormenorizado das sociedades analisadas. Aqui vai um contexto inicial, para marcar o terreno em que estamos entrando:

País                      População   Percentual
Mundial               7.900.000.000    100,00%
China                 1.426.391.281     18,06%
Coreia Popular           25.778.816      0,33%
Cuba                     11.326.616      0,14%
Laos                      7.275.560      0,09%
Vietnã                   97.338.579      1,23%
Países Socialistas    1.568.110.852     19,85%

Temos aproximadamente (os dados de cada país referem-se a censos em diferentes anos, mas o que importa aqui são as ordens de grandeza, e não números exatos), 20% da população mundial vivendo sua jornada socialista, representados em sua quase totalidade pela China, lembrando que os demais países citados também se apresentam com grandes contingentes populacionais.

O socialismo é uma experiência viva, com todas as suas dificuldades e problemas, ocorrendo em pleno século XXI. Não é algo que foi varrido do mapa mundial com a queda da experiência soviética, embora as consequências dessa derrota sejam inegáveis e vividas por todos nós, cada vez mais.

O que me incomoda nos debates sobre os caminhos chineses é, primeiro e mais grave, ignorar ou diminuir a ação dos trabalhadores chineses. Ou glorifica-se o governo chinês (em raros casos especificamente o PCCh), ou então cai-se na simplificação de aplicar alguma etiqueta, como “capitalista”, “imperialista”, “traidora”, “revisionista”, “degenerada”, e tantas outras à experiência nacional como um todo. Em muitos casos, com nem sempre discretos tons de sinofobia.

Esses povos que se mantém ainda sob a égide socialista, nos ensinam vários caminhos, e devem nos levar a uma pesquisa madura sobre sua história, especialmente a contemporânea.

À exceção da Coreia Popular (que além de suas próprias forças, conta com o apoio chinês), percebe-se a presença e estímulo da atividade capitalista, seja formal, seja informal nos outros países. Nesse sentido, penso que a China é o grande palco da burguesia formal, com suas articulações internacionais, inclusive com operações em outros países. Em outro extremo, Cuba é assolada por uma multiplicidade atividades econômicas, seja pelos pequenos empreendimentos individuais voltados ao turismo (em que gorjetas e valores ganhos em um dia são múltiplas vezes superiores ao salário mensal de um trabalhador), seja pelo contrabando e mercado paralelo, além das atividades de maior vulto, formalizadas em geral, via aporte estrangeiro. Já Laos e Vietnã contam com aberturas profundas ao dito “livre-mercado”.

Tudo isso por si só já é complicado. Então, para dar mais um passo, vejamos algumas atuações internacionais. Na atual movimentação para uma nova guerra imperialista de alcance mundial e com reais chances de extermínio direto da humanidade, ou das condições necessárias para a nova sobrevivência, vemos uma intensa movimentação para reiterar a amizade com o povo russo, especialmente por parte de Cuba e China.

África e América Latina sendo tomados por capitais chineses, ainda que sem o caráter imperialista. Temos Cuba se declarando publicamente amiga do PSUV (https://pt.granma.cu/cuba/2023-08-10/o-pcc-e-o-psuv-estarao-sempre-no-mesmo-caminho-da-revolucao) ao mesmo tempo em que este já lutava abertamente para tomar o controle do PCV (https://diariodecuba.com/internacional/1692108912_49163.html).

Só trago esse caso particular para ilustrar que para além das políticas internas, as ações e relações exteriores dos governos e partidos revolucionários desses povos nem sempre serão aceitáveis. Devemos buscar um posicionamento sobre a China. Apenas reitero que isso não deve se resumir à escolha de qual etiqueta colocar no mapa da China.

Mesmo entre nós há uma prevalência de informações oriundas dos grupos privados de comunicação, cujo objetivo é desinformar. A pouca circulação de qualidade e minimamente confiável de informações sobre os países socialista ainda fica restrita às bolhas de internet. Nossa imprensa tem o dever histórico e internacionalista de divulgar o que ocorre nesses países, continuamente.

Nos casos de países que realizaram a conquista do poder político para o proletariado, o primeiro compromisso é com esses trabalhadores. A revolução socialista não significa que seja sempre possível varrer de imediato toda e qualquer relação capitalista. Pois ao simplesmente virar as costas para qualquer uma dessas experiências, o que se faz concretamente é virar as costas para o proletariado desse país.

Por isso insisto que devemos aprofundar nosso conhecimento sobre esses países. Não podemos viver de fotografias dessas sociedades, mas antes, estabelecer um acompanhamento vivo e contínuo de tudo que ocorre, o que só pode ser feito com trabalho profissional e dedicado, seja com o estabelecimento de sucursais de nossa imprensa em cada um desses países, seja pela participação ativa em algum órgão que reúna partidos comunistas para esse fim, o que poderia até nos qualificar como uma agência de notícias sobre o mundo do socialismo aqui no Brasil, por exemplo, além de nossa necessidade interna de permanente informação, para que não sejamos pegos de surpresa em possíveis grandes eventos.

Sobre China, Cuba e Coréia Popular, temos um intenso e bem feito trabalho de divulgação em português desses países, já seria um bom começo acompanhar e sistematizar esse material:

O mesmo vale para países em que temos organizações revolucionárias “mais chegadas”.

Mas voltando à China, precisamos não cair na função de etiquetadores, devemos estabelecer relações próximas com seu povo e seu cotidiano, assim como todos os outros países socialistas. Mais uma vez, não podemos voltar as costas ao grande palco da luta de classes do nosso século, com suas terríveis e fascinantes contradições.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Foto antiga da Escola Carlos Gomes

Digamos, para ilustração, que esses causos ocorreram verdadeiramente de verdade em um grande colégio estadual de São Paulo, digamos que no centro de Campinas, cujo nome é uma homenagem a um grande maestro campineiro...

Ela comanda a escola com mãos de ferro. Sempre vigiando a praça homônima. Sempre vigiando a entrada. Sempre vigiando a saída. Sempre vigiando cada sala de aula. Sempre vigiando o pátio. Sempre vigiando a cantina. Ela vigia cada professor. Sabe quanto cada aluno gasta na cantina.

Sim, aparentemente, ela também tem controle sobre os gastos individuais dos alunos. Mas falemos primeiro de uma obsessão muito particular e intrigante.

Dizem que pelos corredores da escola ecoam gritos estridentes de “E O UNIFORME????”... É o grande projeto de vida dessa engajada burocrata do sistema educacional. Em sua escola, ninguém deve estar sem o uniforme. Ninguém, ninguém, ninnnnnnnguéééééémmmmm!!!

Listas de desordeiros não uniformizados pipocam nas listas de mensageiria para que sejam punidos publicamente pela humilhação. Em cada comunicado, em cada reunião, em cada mensagem, a obsessão pelo uniforme se apresenta como uma maldição aos alunos.

Mas voltemos aos gastos na cantina.

Em um misto de inspeção e comunicado, em cada sala de aula, vem a mais divertida, cruel e destemperada frase:

Um uniforme custa trinta reais, vocês gastam muito mais que isso na cantina.

Não me lembro se escrevi aqui, mas se trata de um colégio público. O uniforme não faz parte do “kit escolar”. Tem que ser comprado. Justiça seja feita, em casos extremos, muito extremos, um e apenas um uniforme é doado.

Fiquei uma tarde inteira rindo com minha filha sobre essa frase, mas depois lembrei que a exigência “nesse quesito aí” fere uma lei estadual sobre o uso obrigatório de uniformes no estado de São Paulo:

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1983/lei-3913-14.11.1983.html

Uma funcionária pública da educação infringindo uma lei estadual? Pode isso Galvão?

E os poderes da dama de ferro só crescem. Agora a repressão tem seu braço não armado, mas armado. Nesse dia, foi apresentado o funcionário responsável por averiguar o cumprimento do decreto lei da nossa, às vezes penso que caricata, diretora.

Um homem, com um cassetete na cintura, com autorização para inspecionar os banheiros masculinos (!!!), proibido de ter amizade com os alunos (palavras dela) estará pela escola vigiando, e quando possível, punindo, já que o cassetete é para ser utilizado para separar brigas que porventura ocorram.

A dama de ferro tem seu aparato de vigilância e punição.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Mais uma melancólica sexta-feira começa.

Os sempre cheios e atrasados ônibus impedem o otimismo. Na estação, correria para pegar outro ônibus, que está saindo. Ninguém se olha, ninguém dá passagem, ninguém se importa. Há um choque entre quem sai e quem entra como no encontro de dois corpos de infantaria numa batalha campal.

Uma doce e tímida voz chama meu nome. À terrível pergunta “Lembra de mim?” segue-se uma eternidade para minha óbvia e sem ­graça resposta “Claro!”.

Padronizados seres entram em uma padronizada conversa. “O que você anda aprontando? Trabalhando como sempre. Eu também... Meu ônibus! Tchau. tchau.”

Após a despedida, é claro, lembro de quem se trata.

Fico alegre apesar dela já ter ido embora, afinal de contas, se reencontrei, é porque já vivi.

Causo real acontecido verdadeiramente de verdade em Curitiba, no terminal Campina do Siqueira, 7 da manhã, por volta de 2005.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Assistindo ao react de Jones Manoel (https://www.youtube.com/watch?v=ubVXDf4Zml0) a um trecho da conversa do Frei Beto com Reinaldo Azevedo e Walfrido Warde, uma conversa muito boa, ficou um detalhe em minha cabeça.

Parece-me que o abstrato “Cuba é uma ditadura” ficou reduzido a “não há pluripartidarismo”. E, não há o que negar, em Cuba, há um único partido oficial, estruturante e estruturado no Estado cubano, que é o Partido Comunista de Cuba.

Devemos sempre nos lembrar que o PC cubano é uma fusão de organizações ligadas pelo momento histórico e objetivo de libertar Cuba e superar a condição de puxadinho. Enfim, libertar-se e seguir rumo ao socialismo. Não há comparação possível com qualquer outro país. É uma experiência única.

Surpreendeu-me o argumento que Walfrido trouxe, da excepcionalidade legal de direitos nos estados democráticos, quando em guerra. Esse é um argumento pra anotar e estudar. Cuba liberta e socialista jamais esteve um dia sequer fora da ameaça, e dos atos concretos, de guerra e sabotagem, promovidos ou patrocinados pelos diversos aparelhos estatais e paraestatais dos EUA.

Mas o que me pegou mesmo foi a questão do pluripartidarismo.

Pra que servem os partidos políticos?

Em um primeiro momento, pra congregar pessoas com um objetivo minimamente convergente, em relação a políticas públicas, leis, economia...

Mas pensemos no Brasil. Esse troca-troca de partidos, que caracteriza nosso sistema eleitoral, é, para mim, sinal mais de conveniência conjuntural eleitoral, do que qualquer outra coisa. Projetos nacionais verdadeiros, em partidos políticos, só existem, primeiro, nos raros partidos ideológicos, com doutrina e pensamento bem definidos, e, segundo, quando há um grande embate nacional.

E repito, estritamente conjuntural, marcado e direcionado pelas eleições mais próximas.

Isso é a sociedade regida pelo capitalismo, pelo individualismo burguês, que vende objetivos particulares espúrios, fantasiados de grandes questões nacionais.

Participar de um partido, ser candidato com chances de ser eleito, só com muito dinheiro, patrocínio, benção dos coronéis, e articulação das redes dos cabos eleitorais, que, via suborno ou ameaças, garantem votos para o candidato da vez. Ou, nos casos de exceção, por um verdadeiro trabalho popular de longo, muito longo, prazo

Dado que o voto no Brasil não é verdadeiramente secreto (por inferência da quantidade de votos de cada urna, pode-se deduzir se certas pessoas votaram ou não em alguém), é fácil chantagear, obrigar e cobrar resultados de indivíduos e comunidades.

Voltando a Cuba. As eleições de base em Cuba são estritamente distritais. Isso significa que alguém para ser eleito deve fazer parte da comunidade em que mora. Mais que isso, para ser candidato, tem que ser aprovado pelos moradores dessa região, e então a campanha é muito restrita aos problemas concretos, e possibilita que qualquer um seja candidato com reais condições de eleição.

E daí? E daí que, se alguém não notou, não falei em filiação partidária. Não é necessária para nenhum tipo de pleito. Se alguém quiser organizar um forte movimento de oposição, terá que fazer isso distrito a distrito, discutindo os problemas concretos.

E aí que a coisa pega. Coincidentemente, essas zonas eleitorais, em geral, coincidem territorialmente com os CDRs (Comitês de Defesa da Revolução), que é o órgão popular responsável pela defesa militar da revolução. Estou falando de poder real, de democracia real.

Portanto não faz sentido algum cobrar Cuba por não ter um sistema pluripartidário. Essa proposta só faz sentido, se o que se deseja é destruir a democracia popular cubana, se o que se deseja é estabelecer eleições que só possam ser ganhas através do poder econômico.

Por fim, pequena observação: é possível minar a revolução cubana por dentro de seu sistema de poder e democracia popular? Acredito que sim, mas depende muito de condições extremas que, essas sim, determinariam o fim da experiência cubana de autonomia.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

A Inteligência Artificial, assunto do momento... Todo mundo dá pitaco, lá vou eu.

Cada um de nós, evidentemente cada um de nós com condições socioeconômicas, somos agora como aquela pessoa poderosa, cercada de assessores que lhe servem. Basta querer algo e emitir a ordem, que algo será apresentado.

Assim acontece, por exemplo, com o ChatGTP.

Se antes tínhamos a ilusão de ter todos os artigos, textos e livros do mundo à nossa disposição (com o google), o que evidentemente é falso, agora temos a ilusão de termos um assistente inteligente e bem informado que pode suprir nossas deficiências (ou preguiça) e prontamente nos fornecer textos e respostas bem elaborados.

E aqui está o problema: fazer coisas sem pensar, resolver problemas sem inovar. É a cobra engolindo a si mesma. Isso é uma coisa que tenho comigo desde quando declararam que o Deep Blue venceu o Kasparov, que a máquina venceu o homem.

Foi necessária a ingestão de todo o conhecimento possível, codificada e organizada por humanos, toda uma operação coordenada por humanos, muitos humanos, para enfrentar um único humano.

Portanto a máquina não venceu o homem. Muitos humanos trabalhando em conjunto com muitos recursos computacionais venceram, com muita dificuldade, um único humano, dispondo de sua experiência e inteligência.

E nada de novo, apenas o conhecimento humano dado até o momento. Estamos em um momento histórico em que a produtividade atingiu um grande nível. Todo conhecimento humano, ao menos a pequena fração catalogada digitalmente, pode ser processado e acessado muito rapidamente.

Mais que isso, esse conhecimento pode ser inter-relacionado e pode-se descobrir relações que manualmente não sejam tão fáceis e óbvias.

Esse é o valor.

E isso leva a um progresso tremendo na produtividade do trabalho. E, tirando a panaceia e todo o deslumbre ou romantismo em torno disso, há a terrível consequência no mundo do trabalho: desemprego, seja pela diminuição de vagas, seja pela eliminação de certas funções.

Há muitos problemas a se resolver ainda.

Socialmente, há que se manter as pessoas empregadas, e aqui não há outra solução que não seja a redução imediata da jornada máxima para 30 horas semanais. Tecnicamente é preciso avançar muito, para que não se interaja com conjuntos limitados e muito desatualizados. Questões éticas e legais continuam sendo pra depois...

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Pequenos textos que escrevi e publiquei num período de oito meses, quando a bipolaridade deu um tapa na minha cara e disse “eu que mando” :)

28/mar/2016 – Desespero

Eu preciso!

Precisar dormir e não conseguir…

28/mar/2016 – Dormir

Dormir! Três em ponto, quando comecei a escrever esse post. Um horário terrível, pois é meu limite para descansar e conseguir realizar as tarefas do dia (e da semana) que logo mais começarão, às 5h30. A mente não para, a mente não descansa, a mente é incontrolável! Não, não durmo quando decido, apenas decido ficar deitado esperando apagar.

28/mar/2016 – mais um projeto

O sono está chegando mas eu não consigo dormir. Eu preciso fazer alguma coisa. Está quieto, estou sozinho. Já é 1h00 da manhã, e eu só consigo dormir depois das três. Os momentos de depressão estão presentes, os sinto em meu corpo. Mas há alguma coisa que me deixa aceso. Eu faço muita coisa, mas não o que preciso, apenas o que me interessa. Vários projetos novos, publiquei muitos artigos técnicos, mas não consegui trabalhar. Então, está aí mais um blog, mais um projeto começando...

28/mar/2016 – Manoel Bandeira

Substâncias químicas...

Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. (Manoel Bandeira, “Libertinagem”, 1930)

Houve tempo em que eu pensei ser assim.

Mas agora, enquanto os que sobreviveram continuam com suas drogas, eu estou à mercê do desequilíbrio de algumas substâncias em meu cérebro.

Eu já tomei alegria, hoje tomo tristeza.

29/mar/2016 – Fracassado

A cada dia a frustração aumenta por conta dessa sensação de fracasso, de incapacidade. Está tudo fugindo pelas minhas mãos. Os gênios bipolares… O que EU vou deixar? Como EU vou me sustentar? Como EU vou sustentar minhas filhas? Quando EU vou parar de atrapalhar a vida de tanta gente?

30/mar/2016 – A cor da esperança

Cartola, A Cor da Esperança

Finalmente consegui dormir mais que quatro horas. Sinto-me forte, renovado, e não paro de cantarolar e assobiar essa música do Cartola. Levantei cedo sem ser apático com minha filha, que acorda cedo e, ao contrário de mim, alegre e carinhosa, cantando, todo dia. É das coisas mais lindas, e hoje consegui novamente me encantar com isso. O dia promete!

31/mar/2016 – Horários

Muitas responsabilidades definem meu mínimo de coisas a fazer. Horários para refeições, para levar as crianças à escola, atividades extras, tarefas, banho… O dia é um inferno, cada hora passando como a mais sádica das sessões de tortura. Dormir entre cada atividade é o segredo de manter um pouco de sanidade, de diminuir o desespero.

01/abr/2016 – Tim Maia

Tim Maia tem algo a dizer...

Tim Maia tem algo a dizer sobre o eterno debate das formas de trabalho: seja empreendendo, sendo funcionário, freelancer, home-office, presencial, empresa tradicional ou startup, o que eu quero é sossego. E isso não significa não enfrentar problemas, não trampar muito, significa apenas ter sossego.

05/abr/2016 – Louco

Esse é meu maior medo...

Ele é louco, não dá pra confiar.

Esse é meu maior medo: que toda discussão acabe com esse argumento. Que toda a gente calhorda se proteja e se esconda me tachando de alucinado. Eu sei o que vi, eu sei o que vivi.

12/abr/2016 – Super poder

O super poder de aprender qualquer coisa em tempo recorde. Reescrever um projeto inteiro no mesmo dia em que aprendo uma nova linguagem de programação, ou um novo framework, ou um novo banco de dados.

17/abr/2016 – Desconectado

Texto: 9 Sinais de que você se desconectou de si mesmo

Vale a leitura. Se você se desconectou, mas não tem controle sobre isso, procure um médico. Siga o conselho de quem ainda não fez isso e paga um preço altíssimo.

19/abr/2016 – Sabotador

Mais um cliente com quem furo. Tão fácil o que preciso fazer, tão descomunais as forças que me impedem, tão vergonhosa a situação. Preciso trabalhar, mas não posso mais atrapalhar a vida de ninguém, sabotando projetos alheios.

26/abr/2016 – Vazio

Uma Internet de coisas para ver, nada mais me anima. Não há o que procurar, não há o que eu não tenha visto infinitas vezes. De site em site, recarregando pra ver se tem uma atualização.

03/maio/2016 – Mais 12 horas

Esse blog ocupou minhas últimas doze horas (este é um post em fila). Conteúdo publicado e conteúdo engatilhado, visual, conta de twitter, avatar, agregador de blogs. Sigo no automático, fazendo o que quero e não o que preciso.

10/maio/2016 – Indecisão

Em uma semana fui capaz de, em um projeto em andamento, abandonar Django, passar para Perl/Mojolicious, desistir e voltar para Flask. Comecei a reescrever o projeto usando CherryPy, Bottle, Pyramid, RubyOnRails, Dancer, Catalyst, alguma coisa de NodeJS. MySQL, SQLite e MongoDB ajudaram na matriz desses experimentos. Uma semana que me custou várias semanas sem conseguir programar.

16/maio/2016 – Hibernando

É assim que funciona: você passa um tempão hibernando, e esse um tempão é um tempão mesmo, pois cada hora minha dura dezenas de horas de uma pessoa normal. Em um dado momento, acaba a hibernação. Aí é desespero. É preciso recuperar o tempo perdido, fazer tudo que não foi feito, fazer coisas novas. Mas é algo três patetas com uma escada, nada dá certo. Então volta a hibernação.

23/maio/2016 – A marcha do tempo

É sem volta. O tempo não perdoa. Estou em estado de hibernação, portanto tudo passa muito lentamente, hora após hora, da mais mórbida monotonia e desesperança. Mas passa, caminha, avança. Praticamente metade do ano. Por graça de Deus, tenho um certo conhecimento não volátil. Continuo sendo um programador útil, mesmo não estando na crista das modinhas atuais.

31/maio/2016 – Sete meses...

Sete meses de incapacidade, descontrole da minha vida, vazio. Minha depressão está maior que um ciclo de desenvolvimento da linguagem rust. Tudo perdeu sentido. Até um governo foi deposto. Até meu estoque de posts acabou.

15/dez/2016 – Quase

Procurei, encontrei, aprendi. Muitas vezes procurei em casa o lugar perfeito, a corda perfeita, o momento perfeito. Chegou esse dia. Ninguém em casa, e sinto uma paz dentro de mim. Agora vai acabar. Minhas filhas, pequenas, saíram com os tios e não vão pousar em casa. Minha esposa, trabalhando. A corda está posta no pescoço, do lado certo. É só eu me jogar. Para que seja efetivo, preciso de alguns minutos. Mas escuto barulhos, tiro a corda do pescoço, desfaço o nó. Minha filha mais nova (3 anos) estava desesperada com saudades de mim, e obrigou os tios a trazê-la de volta para casa. Salvou minha vida.

Antissociabilizando nas redes

Um pouco sobre como resolvi assumir minha antissociabilidade e não gastar tempo com certas redes sociais, além de vencer uma pesada depressão.

Tentando socializar

Pois bem, estamos na Internet, temos que nos relacionar, construir networking, produzir conteúdo, participar de comunidades, contribuir em projetos, e ficar sussa com todos os outros aspectos da vida.

E lá fui eu, depois de cometer orkuticídio, participar do Facebook e do Twitter, e por fim, do Linkedin.

Facebook

Distraí-me por alguns anos no Facebook e, por minha culpa, somente minha, perdi muito tempo, irritei-me bastante, e devo ter irritado muita gente. Topei pessoas interessantes, coisas legais, mas no balanço geral, muito pouco aproveitei.

Pra disfarçar no Face, estava em muitos grupos de programação, mais escutando, e eventualmente participando. Mas principalmente, percebi pelo Facebook a escalada de ódio político na qual nos jogamos, na qual o país está afundado. Da velha militância política de outros tempos, eu já sabia o caminho que o país percorreria, inclusive o golpe de estado e a violência estatal sem tamanho a que justamente os mais desprotegidos estão sujeitos. A rasteira levada pela socialdemocracia e o despertar das forças revolucionárias.

Linkedin

Voltando ao assunto, quando fiquei desempregado, quase me tornei um especialista em Linkedin. Tudo que é recomendado fazer para ter um perfil “campeão”, eu fiz. O que valeu à pena no Linkedin, é que quando pedi recomendações, as boas amizades do passado se fizeram presentes, até me surpreendendo pelo carinho com que me recomendaram.

Todo esse trabalho nunca me rendeu uma oferta de trabalho ou emprego.

Participação em grupos, tentei, mas é muito chato. O pessoal que participa desses grupos quer mais “se aparecer”, de um jeito muito ruim. Escrevi no Pulse, alguns poucos e leais leitores.

Outros

Modinha de startup também participei, estando nas redes sociais apropriadas, como a CoFoundersLab, na qual tive um pouco de proveito, me oferecendo como sociotécnico, e até pagando de CTO. Muita conversa, muitos planos, muito debate, e muita energia gasta.

Caindo fora

Estimulado pela minha esposa, que já tinha cancelado seu Face, decidi também cancelar. Analisando friamente os resultados do Linkedin e os rumos de minha carreira, decidi sair.

Fiquei um tanto preocupado com o Linkedin. Mas o bom e velho currículo e a conta no github (que é de inciante mesmo) são os meios pelos quais tenho conseguido chamar a atenção para trabalhos e entrevistas de emprego.

Enfim, analisei meu impacto nessas redes sociais, percebi a realidade, e caí fora.

Voltando às origens

Sou nerd, quero nerdices! Agora tenho um fluxo de informações bem mais adequado e interessante. Basicamente por intermédio do Medium, do Twitter, do /dev/all, e do Youtube, o qual enxuguei bastante a lista de canais que sigo.

Com tudo isso, venci uma depressão brabíssima, que além de quase acabar comigo, praticamente acabou com minha carreira profissional.

Ressurgindo das cinzas, consegui alguns freelas fora do Brasil (eu sou péssimo para me comunicar em inglês, e estou falando de inglês escrito, mas leio de boa), alguns dentro do Brasil, e um projeto de mais logo prazo, que é o que está me garantindo financeiramente agora.

Alguns testes e entrevistas, que apesar de não terem dado em nada, levantaram minha moral. Estou desenvolvendo em Ruby (aprendendo), aprendendo Rust, criando vergonha na cara e aprendendo pra valer HTML, CSS e Javascript.

Pra quem já passou pela depressão, sabe o quão preocupante são os momentos de compulsão. Felizmente estou normal, conseguindo concluir o que me proponho, e não me impondo infinitas atividades.

E a volta às origens? É a volta da alegria, do enfrentamento direto com as dificuldades da vida, a volta a um estado permanente de aprendizado e descobertas.

Vida além dos computadores tenho em casa, com minha esposa, com minhas filhas, com os amigos. Que as redes sociais continuem me sendo úteis para o que elas são úteis!

Sobre a depressão

Uma das únicas coisas que fiz, quando estava no mais profundo de minha depressão, foi criar o ProgramadorBipolar. Espero que esse seja o último texto desse blog. O primeiro em que mostro quem sou.

A única ajuda que busquei foi um aprofundamento em minha relação com Deus, e isso serviu para mim, me ajudou, me libertou. Mas cada um é cada um, e é preciso, nesse abismo profundo, encontrar o que possa reverter esse quadro, ou pelo menos, nos manter vivos até que “la tortilla se vuelva”.

Se você que me acompanhou, quando me fiz anônimo, passa por coisas parecidas, resista e lute. Não faça como eu, procure ajuda. E se a ajuda que você precisar for um bom escutador, esse sou eu, é só me procurar.

PS: voltei ao linkedin, o site para busca de empregos mais eficiente que já usei :)

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Tempos de consolidação da burguesia.

Tempos de imbatível fortaleza das oligarquias cafeeiras.

Tempos em que os artistas se libertam do academicismo e proclamam novos caminhos.

Tempos em que o proletariado vira sujeito consciente de sua história, e cria seu partido, o Partido Comunista.

Tempos em que o socialismo é uma realidade para grandes porções da humanidade.

E tempos em que a pequena ­burguesia urbana, vendo toda essa efervescência, obriga-se também a se posicionar perante tudo isso. De um profundo e honesto sentimento de justiça e moralidade, muitos se ocupam de conspirar e agitar. Era urgente fazer justiça e acabar com a pouca­ vergonha que caracterizava e caracteriza ainda hoje a política nacional. Era preciso encarar todas as fraquezas de nosso país, todo o sofrimento de nosso povo. Estes eram tempos em que as classes ­médias brasileiras educavam-se a duras penas, mas conquistavam um arcabouço cultural e uma disposição para a luta, quase impossível de se imaginar nos medíocres e vulgares tempos em que vivemos. Muitos optaram por tornar único o caminho dos corredores da máquina estatal.

Poucos enxergaram mais longe e se incorporaram às lutas operárias. Mas fizeram a diferença.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Estou lendo o aclamado “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie, e tenho achado bem raso. Pensei que fosse preconceito meu em relação a esse estilo de literatura. Cada capítulo traz um princípio rodeado de histórias que o confirmam, como depoimentos.

Até aí, tudo bem. Mas eis que chego no capítulo “O segredo de Sócrates”, e acho o seguinte, ao final, na p. 162, na edição da Sextante, 2019:

'Ele dizia às pessoas que estavam erradas? Não, Sócrates não fazia isso. Era astuto demais para cometer um erro como esse. Toda a sua técnica, hoje chamada de “método socrático”, se baseava em obter um “sim” como resposta. Ele fazia perguntas com as quais o oponente teria que concordar. Obtinha um “sim” após o outro, até alcançar um número suficiente de respostas positivas. Fazia perguntas incessantemente, até que, por fim, quase sem perceber, seus oponentes se pegavam chegando a uma conclusão que teriam rejeitado antes”.'

Não serei eu a expor o método socrático aqui, pois sequer temos as palavras de Sócrates escritas por ele mesmo. Temos uma interpretação do que seria esse método, em Platão e Xenofonte e outros, mas há ampla literatura especializada sobre esse método que não deixa dúvidas de como Sócrates agia.

O autor deturpa, não há outra palavra possível, um conhecimento milenar e acessível, para subsidiar seu discurso. Não é “a opinião dele”, ou interpretação. Trata-se de uma falsificação, simplesmente.

Contrariando o que o livro doutrina, reforço: atenção ao que se lê, procuremos referências, desconfiemos, não nos calemos frente às falsificações!

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

A voz e a cadência de Roberto Piva se apoderam de meus pensamentos.

Sonolentos e vazios ônibus disputam espaço, nas sonolentas e vazias avenidas de Curitiba, com carros desgovernados por drogados adolescentes da alta sociedade.

Nesta sagrada sexta em que até as prostitutas se resguardam em respeito a sabe-se lá o que, testemunho a revelação que o vento traz. Vulgares copos de plástico manchados por um vagabundo vinho paranaense são as provas de que bêbados sem mãe passaram a noite heresiando.

As ruas estão vazias, meu espírito não.

Mas sou menos que uma carola prostituta, pois em pleno feriado cristão estou indo trabalhar, cumprindo minha sina de moderno escravo assalariado.

Escrito por volta de 2005, quando, numa sexta-feira santa eu estava indo trabalhar muito contrariado apenas pra ser alguém de plantão na sede da empresa. Esses pensamentos me assolaram ali no Largo da Ordem, por volta das 7h00 da madrugada.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Prática consagrada

Há muitos lugares sem nenhuma maturidade no processo de seleção, que em geral se valem mais pela habilidade de quem vai selecionar, o que, em se tratando de um processo conduzido por alguém técnico, normalmente o gestor, ou a pessoa de maior senioridade ou tempo de casa, pode ser uma boa coisa.

Nesses lugares em que os processos ainda não estão maduros, os melhores pelos quais passei tinham uma ação conjunta entre alguém de RH e alguém técnico.

Mas, nos locais em que a busca é algo sempre presente, há uma prática consagrada: o teste prático.

Existem empresários que se aproveitam dessa prática para conseguirem resolver, de graça, pequenas demandas internas, mas eu nunca tive o desprazer de topar um lugar assim.

Mas voltando à normalidade, há nos testes práticos características muito similares na maioria das empresas que já estão nesse nível. Esse teste consiste em, seguindo uma especificação, criar um pequeno sistema, a partir do zero, e entregar.

Com isso busca-se entender o nível técnico do candidato.

Se uma pessoa é capaz de entender uma especificação, implementar com código limpo e demais boas práticas, estaríamos diante de alguém bem capacitado. Com a ajuda de uma pessoa da área de psicologia, o que em geral é o caso nos departamentos e cargos de RH, tem-se uma visão completa do candidato.

E pode-se com isso evitar muitos problemas, desde comportamentais, até mesmo, os de desalinhamento técnico.

Só que, do ponto de vista do candidato, esse teste, geralmente, diz nada a respeito de como será o trabalho. É apenas um desafio intelectual (ao menos para mim, desafios intelectuais abstratos são um porre). E para a empresa também, que não tem como perceber o candidato em ação.

Admito: é importante que se estabeleça um entendimento o mais global possível de um candidato.

O que me atormenta é a falta de orientação prática dos testes ditos práticos, pois eles não dizem nada acerca do comportamento cotidiano de um desenvolvedor.

Como seria um teste levando em conta essa rotina?

Minha prática, quando tenho a oportunidade de planejar um teste, é que ele reflita o cotidiano da empresa, especialmente no relacionamento com as diversas pessoas dentro do ambiente de trabalho.

Por exemplo, certa feita em que tive essa liberdade, o teste prático para ser administrador interno de rede foi identificar porque, numa máquina, a rede não estava funcionando. Um candidato rapidamente percebeu o cabo desconectado, o outro depois de verificar algumas coisas, pediu ajuda.

Um arrumou rapidamente, mas era um falastrão, o outro não.

Garantimos nessa situação um teste prático muito perto da realidade, mas o determinante foi que percebemos um comportamento cordial no candidato que não conseguiu, que era o mais importante no perfil desejado que construímos. E o teste prático acabou confirmando conhecimento acerca de Windows e humildade para pedir ajuda, pois para nós, tão importante quanto resolver um problema é a postura com que alguém se porta no relacionamento interpessoal.

E com as pessoas desenvolvedoras, o que se busca?

Bom relacionamento, conhecimento técnico e, penso eu, boa desenvoltura no que mais acontece dentro de uma empresa: remendar sistemas existentes.

Um teste que realmente verifica como a pessoa se comporta tecnicamente, como está seu conhecimento técnico, e sua capacidade de interação com a equipe, pode ser simplesmente resolver issues. Por mais simples que seja, resolver uma issue aberta em algum sistema opensource, ou mesmo que seja em um sistema pequeno apenas para a finalidade de testes, é muito melhor que perder uma semana escrevendo um sistema do zero que não serve pra nada.

Resolvendo uma issue e abrindo um PR, a pessoa candidata demonstra ser capaz de entender um problema, demonstra ser capaz de dizer que não entendeu, fazer os questionamentos adequados, e ainda, propor soluções fora do que é mais óbvio.

Ainda tem o benefício do processo de codereview.

Aqui penso que o melhor mesmo, é resolver uma issue e ser revisor de um PR.

Porque a revisão de PRs é uma arte. Pode ser a demonstração de desleixo, pode ser a demonstração de que a pessoa é propensa a rasgar dinheiro, tornando esse processo infinito ao concentrar-se em detalhes irrelevantes, e ainda, a pessoa tem que clonar repositório, fazer os testes funcionarem em sua máquina, fazer o sistema funcionar em sua máquina.

Todo esse processo é muito rico, não importa muito se em uma coisa ou outra seja preciso ajuda. Aliás, importa sim, o quanto essa pessoa tenta? Ela desiste? Ela é preguiçosa e fica fazendo perguntas sem tentar nada? Ela é orgulhosa e fica tentando sem nunca pedir ajuda?

Aqui temos uma visão de como a pessoa entende, argumenta, convence, cede, enfim, como colabora. E então tem-se subsídios muito mais concretos para decidir por contratar. E também pra decidir ser contratado, pois tudo isso nos ajuda a pensar se uma empresa vale ou não à pena.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro