Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

Parêmias nem tão pequenas, nem tão profundas, sobre a sociedade capitalista

Assistindo ao react de Jones Manoel (https://www.youtube.com/watch?v=ubVXDf4Zml0) a um trecho da conversa do Frei Beto com Reinaldo Azevedo e Walfrido Warde, uma conversa muito boa, ficou um detalhe em minha cabeça.

Parece-me que o abstrato “Cuba é uma ditadura” ficou reduzido a “não há pluripartidarismo”. E, não há o que negar, em Cuba, há um único partido oficial, estruturante e estruturado no Estado cubano, que é o Partido Comunista de Cuba.

Devemos sempre nos lembrar que o PC cubano é uma fusão de organizações ligadas pelo momento histórico e objetivo de libertar Cuba e superar a condição de puxadinho. Enfim, libertar-se e seguir rumo ao socialismo. Não há comparação possível com qualquer outro país. É uma experiência única.

Surpreendeu-me o argumento que Walfrido trouxe, da excepcionalidade legal de direitos nos estados democráticos, quando em guerra. Esse é um argumento pra anotar e estudar. Cuba liberta e socialista jamais esteve um dia sequer fora da ameaça, e dos atos concretos, de guerra e sabotagem, promovidos ou patrocinados pelos diversos aparelhos estatais e paraestatais dos EUA.

Mas o que me pegou mesmo foi a questão do pluripartidarismo.

Pra que servem os partidos políticos?

Em um primeiro momento, pra congregar pessoas com um objetivo minimamente convergente, em relação a políticas públicas, leis, economia...

Mas pensemos no Brasil. Esse troca-troca de partidos, que caracteriza nosso sistema eleitoral, é, para mim, sinal mais de conveniência conjuntural eleitoral, do que qualquer outra coisa. Projetos nacionais verdadeiros, em partidos políticos, só existem, primeiro, nos raros partidos ideológicos, com doutrina e pensamento bem definidos, e, segundo, quando há um grande embate nacional.

E repito, estritamente conjuntural, marcado e direcionado pelas eleições mais próximas.

Isso é a sociedade regida pelo capitalismo, pelo individualismo burguês, que vende objetivos particulares espúrios, fantasiados de grandes questões nacionais.

Participar de um partido, ser candidato com chances de ser eleito, só com muito dinheiro, patrocínio, benção dos coronéis, e articulação das redes dos cabos eleitorais, que, via suborno ou ameaças, garantem votos para o candidato da vez. Ou, nos casos de exceção, por um verdadeiro trabalho popular de longo, muito longo, prazo

Dado que o voto no Brasil não é verdadeiramente secreto (por inferência da quantidade de votos de cada urna, pode-se deduzir se certas pessoas votaram ou não em alguém), é fácil chantagear, obrigar e cobrar resultados de indivíduos e comunidades.

Voltando a Cuba. As eleições de base em Cuba são estritamente distritais. Isso significa que alguém para ser eleito deve fazer parte da comunidade em que mora. Mais que isso, para ser candidato, tem que ser aprovado pelos moradores dessa região, e então a campanha é muito restrita aos problemas concretos, e possibilita que qualquer um seja candidato com reais condições de eleição.

E daí? E daí que, se alguém não notou, não falei em filiação partidária. Não é necessária para nenhum tipo de pleito. Se alguém quiser organizar um forte movimento de oposição, terá que fazer isso distrito a distrito, discutindo os problemas concretos.

E aí que a coisa pega. Coincidentemente, essas zonas eleitorais, em geral, coincidem territorialmente com os CDRs (Comitês de Defesa da Revolução), que é o órgão popular responsável pela defesa militar da revolução. Estou falando de poder real, de democracia real.

Portanto não faz sentido algum cobrar Cuba por não ter um sistema pluripartidário. Essa proposta só faz sentido, se o que se deseja é destruir a democracia popular cubana, se o que se deseja é estabelecer eleições que só possam ser ganhas através do poder econômico.

Por fim, pequena observação: é possível minar a revolução cubana por dentro de seu sistema de poder e democracia popular? Acredito que sim, mas depende muito de condições extremas que, essas sim, determinariam o fim da experiência cubana de autonomia.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

A Inteligência Artificial, assunto do momento... Todo mundo dá pitaco, lá vou eu.

Cada um de nós, evidentemente cada um de nós com condições socioeconômicas, somos agora como aquela pessoa poderosa, cercada de assessores que lhe servem. Basta querer algo e emitir a ordem, que algo será apresentado.

Assim acontece, por exemplo, com o ChatGTP.

Se antes tínhamos a ilusão de ter todos os artigos, textos e livros do mundo à nossa disposição (com o google), o que evidentemente é falso, agora temos a ilusão de termos um assistente inteligente e bem informado que pode suprir nossas deficiências (ou preguiça) e prontamente nos fornecer textos e respostas bem elaborados.

E aqui está o problema: fazer coisas sem pensar, resolver problemas sem inovar. É a cobra engolindo a si mesma. Isso é uma coisa que tenho comigo desde quando declararam que o Deep Blue venceu o Kasparov, que a máquina venceu o homem.

Foi necessária a ingestão de todo o conhecimento possível, codificada e organizada por humanos, toda uma operação coordenada por humanos, muitos humanos, para enfrentar um único humano.

Portanto a máquina não venceu o homem. Muitos humanos trabalhando em conjunto com muitos recursos computacionais venceram, com muita dificuldade, um único humano, dispondo de sua experiência e inteligência.

E nada de novo, apenas o conhecimento humano dado até o momento. Estamos em um momento histórico em que a produtividade atingiu um grande nível. Todo conhecimento humano, ao menos a pequena fração catalogada digitalmente, pode ser processado e acessado muito rapidamente.

Mais que isso, esse conhecimento pode ser inter-relacionado e pode-se descobrir relações que manualmente não sejam tão fáceis e óbvias.

Esse é o valor.

E isso leva a um progresso tremendo na produtividade do trabalho. E, tirando a panaceia e todo o deslumbre ou romantismo em torno disso, há a terrível consequência no mundo do trabalho: desemprego, seja pela diminuição de vagas, seja pela eliminação de certas funções.

Há muitos problemas a se resolver ainda.

Socialmente, há que se manter as pessoas empregadas, e aqui não há outra solução que não seja a redução imediata da jornada máxima para 30 horas semanais. Tecnicamente é preciso avançar muito, para que não se interaja com conjuntos limitados e muito desatualizados. Questões éticas e legais continuam sendo pra depois...

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Pequenos textos que escrevi e publiquei num período de oito meses, quando a bipolaridade deu um tapa na minha cara e disse “eu que mando” :)

28/mar/2016 – Desespero

Eu preciso!

Precisar dormir e não conseguir…

28/mar/2016 – Dormir

Dormir! Três em ponto, quando comecei a escrever esse post. Um horário terrível, pois é meu limite para descansar e conseguir realizar as tarefas do dia (e da semana) que logo mais começarão, às 5h30. A mente não para, a mente não descansa, a mente é incontrolável! Não, não durmo quando decido, apenas decido ficar deitado esperando apagar.

28/mar/2016 – mais um projeto

O sono está chegando mas eu não consigo dormir. Eu preciso fazer alguma coisa. Está quieto, estou sozinho. Já é 1h00 da manhã, e eu só consigo dormir depois das três. Os momentos de depressão estão presentes, os sinto em meu corpo. Mas há alguma coisa que me deixa aceso. Eu faço muita coisa, mas não o que preciso, apenas o que me interessa. Vários projetos novos, publiquei muitos artigos técnicos, mas não consegui trabalhar. Então, está aí mais um blog, mais um projeto começando...

28/mar/2016 – Manoel Bandeira

Substâncias químicas...

Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. (Manoel Bandeira, “Libertinagem”, 1930)

Houve tempo em que eu pensei ser assim.

Mas agora, enquanto os que sobreviveram continuam com suas drogas, eu estou à mercê do desequilíbrio de algumas substâncias em meu cérebro.

Eu já tomei alegria, hoje tomo tristeza.

29/mar/2016 – Fracassado

A cada dia a frustração aumenta por conta dessa sensação de fracasso, de incapacidade. Está tudo fugindo pelas minhas mãos. Os gênios bipolares… O que EU vou deixar? Como EU vou me sustentar? Como EU vou sustentar minhas filhas? Quando EU vou parar de atrapalhar a vida de tanta gente?

30/mar/2016 – A cor da esperança

Cartola, A Cor da Esperança

Finalmente consegui dormir mais que quatro horas. Sinto-me forte, renovado, e não paro de cantarolar e assobiar essa música do Cartola. Levantei cedo sem ser apático com minha filha, que acorda cedo e, ao contrário de mim, alegre e carinhosa, cantando, todo dia. É das coisas mais lindas, e hoje consegui novamente me encantar com isso. O dia promete!

31/mar/2016 – Horários

Muitas responsabilidades definem meu mínimo de coisas a fazer. Horários para refeições, para levar as crianças à escola, atividades extras, tarefas, banho… O dia é um inferno, cada hora passando como a mais sádica das sessões de tortura. Dormir entre cada atividade é o segredo de manter um pouco de sanidade, de diminuir o desespero.

01/abr/2016 – Tim Maia

Tim Maia tem algo a dizer...

Tim Maia tem algo a dizer sobre o eterno debate das formas de trabalho: seja empreendendo, sendo funcionário, freelancer, home-office, presencial, empresa tradicional ou startup, o que eu quero é sossego. E isso não significa não enfrentar problemas, não trampar muito, significa apenas ter sossego.

05/abr/2016 – Louco

Esse é meu maior medo...

Ele é louco, não dá pra confiar.

Esse é meu maior medo: que toda discussão acabe com esse argumento. Que toda a gente calhorda se proteja e se esconda me tachando de alucinado. Eu sei o que vi, eu sei o que vivi.

12/abr/2016 – Super poder

O super poder de aprender qualquer coisa em tempo recorde. Reescrever um projeto inteiro no mesmo dia em que aprendo uma nova linguagem de programação, ou um novo framework, ou um novo banco de dados.

17/abr/2016 – Desconectado

Texto: 9 Sinais de que você se desconectou de si mesmo

Vale a leitura. Se você se desconectou, mas não tem controle sobre isso, procure um médico. Siga o conselho de quem ainda não fez isso e paga um preço altíssimo.

19/abr/2016 – Sabotador

Mais um cliente com quem furo. Tão fácil o que preciso fazer, tão descomunais as forças que me impedem, tão vergonhosa a situação. Preciso trabalhar, mas não posso mais atrapalhar a vida de ninguém, sabotando projetos alheios.

26/abr/2016 – Vazio

Uma Internet de coisas para ver, nada mais me anima. Não há o que procurar, não há o que eu não tenha visto infinitas vezes. De site em site, recarregando pra ver se tem uma atualização.

03/maio/2016 – Mais 12 horas

Esse blog ocupou minhas últimas doze horas (este é um post em fila). Conteúdo publicado e conteúdo engatilhado, visual, conta de twitter, avatar, agregador de blogs. Sigo no automático, fazendo o que quero e não o que preciso.

10/maio/2016 – Indecisão

Em uma semana fui capaz de, em um projeto em andamento, abandonar Django, passar para Perl/Mojolicious, desistir e voltar para Flask. Comecei a reescrever o projeto usando CherryPy, Bottle, Pyramid, RubyOnRails, Dancer, Catalyst, alguma coisa de NodeJS. MySQL, SQLite e MongoDB ajudaram na matriz desses experimentos. Uma semana que me custou várias semanas sem conseguir programar.

16/maio/2016 – Hibernando

É assim que funciona: você passa um tempão hibernando, e esse um tempão é um tempão mesmo, pois cada hora minha dura dezenas de horas de uma pessoa normal. Em um dado momento, acaba a hibernação. Aí é desespero. É preciso recuperar o tempo perdido, fazer tudo que não foi feito, fazer coisas novas. Mas é algo três patetas com uma escada, nada dá certo. Então volta a hibernação.

23/maio/2016 – A marcha do tempo

É sem volta. O tempo não perdoa. Estou em estado de hibernação, portanto tudo passa muito lentamente, hora após hora, da mais mórbida monotonia e desesperança. Mas passa, caminha, avança. Praticamente metade do ano. Por graça de Deus, tenho um certo conhecimento não volátil. Continuo sendo um programador útil, mesmo não estando na crista das modinhas atuais.

31/maio/2016 – Sete meses...

Sete meses de incapacidade, descontrole da minha vida, vazio. Minha depressão está maior que um ciclo de desenvolvimento da linguagem rust. Tudo perdeu sentido. Até um governo foi deposto. Até meu estoque de posts acabou.

15/dez/2016 – Quase

Procurei, encontrei, aprendi. Muitas vezes procurei em casa o lugar perfeito, a corda perfeita, o momento perfeito. Chegou esse dia. Ninguém em casa, e sinto uma paz dentro de mim. Agora vai acabar. Minhas filhas, pequenas, saíram com os tios e não vão pousar em casa. Minha esposa, trabalhando. A corda está posta no pescoço, do lado certo. É só eu me jogar. Para que seja efetivo, preciso de alguns minutos. Mas escuto barulhos, tiro a corda do pescoço, desfaço o nó. Minha filha mais nova (3 anos) estava desesperada com saudades de mim, e obrigou os tios a trazê-la de volta para casa. Salvou minha vida.

Antissociabilizando nas redes

Um pouco sobre como resolvi assumir minha antissociabilidade e não gastar tempo com certas redes sociais, além de vencer uma pesada depressão.

Tentando socializar

Pois bem, estamos na Internet, temos que nos relacionar, construir networking, produzir conteúdo, participar de comunidades, contribuir em projetos, e ficar sussa com todos os outros aspectos da vida.

E lá fui eu, depois de cometer orkuticídio, participar do Facebook e do Twitter, e por fim, do Linkedin.

Facebook

Distraí-me por alguns anos no Facebook e, por minha culpa, somente minha, perdi muito tempo, irritei-me bastante, e devo ter irritado muita gente. Topei pessoas interessantes, coisas legais, mas no balanço geral, muito pouco aproveitei.

Pra disfarçar no Face, estava em muitos grupos de programação, mais escutando, e eventualmente participando. Mas principalmente, percebi pelo Facebook a escalada de ódio político na qual nos jogamos, na qual o país está afundado. Da velha militância política de outros tempos, eu já sabia o caminho que o país percorreria, inclusive o golpe de estado e a violência estatal sem tamanho a que justamente os mais desprotegidos estão sujeitos. A rasteira levada pela socialdemocracia e o despertar das forças revolucionárias.

Linkedin

Voltando ao assunto, quando fiquei desempregado, quase me tornei um especialista em Linkedin. Tudo que é recomendado fazer para ter um perfil “campeão”, eu fiz. O que valeu à pena no Linkedin, é que quando pedi recomendações, as boas amizades do passado se fizeram presentes, até me surpreendendo pelo carinho com que me recomendaram.

Todo esse trabalho nunca me rendeu uma oferta de trabalho ou emprego.

Participação em grupos, tentei, mas é muito chato. O pessoal que participa desses grupos quer mais “se aparecer”, de um jeito muito ruim. Escrevi no Pulse, alguns poucos e leais leitores.

Outros

Modinha de startup também participei, estando nas redes sociais apropriadas, como a CoFoundersLab, na qual tive um pouco de proveito, me oferecendo como sociotécnico, e até pagando de CTO. Muita conversa, muitos planos, muito debate, e muita energia gasta.

Caindo fora

Estimulado pela minha esposa, que já tinha cancelado seu Face, decidi também cancelar. Analisando friamente os resultados do Linkedin e os rumos de minha carreira, decidi sair.

Fiquei um tanto preocupado com o Linkedin. Mas o bom e velho currículo e a conta no github (que é de inciante mesmo) são os meios pelos quais tenho conseguido chamar a atenção para trabalhos e entrevistas de emprego.

Enfim, analisei meu impacto nessas redes sociais, percebi a realidade, e caí fora.

Voltando às origens

Sou nerd, quero nerdices! Agora tenho um fluxo de informações bem mais adequado e interessante. Basicamente por intermédio do Medium, do Twitter, do /dev/all, e do Youtube, o qual enxuguei bastante a lista de canais que sigo.

Com tudo isso, venci uma depressão brabíssima, que além de quase acabar comigo, praticamente acabou com minha carreira profissional.

Ressurgindo das cinzas, consegui alguns freelas fora do Brasil (eu sou péssimo para me comunicar em inglês, e estou falando de inglês escrito, mas leio de boa), alguns dentro do Brasil, e um projeto de mais logo prazo, que é o que está me garantindo financeiramente agora.

Alguns testes e entrevistas, que apesar de não terem dado em nada, levantaram minha moral. Estou desenvolvendo em Ruby (aprendendo), aprendendo Rust, criando vergonha na cara e aprendendo pra valer HTML, CSS e Javascript.

Pra quem já passou pela depressão, sabe o quão preocupante são os momentos de compulsão. Felizmente estou normal, conseguindo concluir o que me proponho, e não me impondo infinitas atividades.

E a volta às origens? É a volta da alegria, do enfrentamento direto com as dificuldades da vida, a volta a um estado permanente de aprendizado e descobertas.

Vida além dos computadores tenho em casa, com minha esposa, com minhas filhas, com os amigos. Que as redes sociais continuem me sendo úteis para o que elas são úteis!

Sobre a depressão

Uma das únicas coisas que fiz, quando estava no mais profundo de minha depressão, foi criar o ProgramadorBipolar. Espero que esse seja o último texto desse blog. O primeiro em que mostro quem sou.

A única ajuda que busquei foi um aprofundamento em minha relação com Deus, e isso serviu para mim, me ajudou, me libertou. Mas cada um é cada um, e é preciso, nesse abismo profundo, encontrar o que possa reverter esse quadro, ou pelo menos, nos manter vivos até que “la tortilla se vuelva”.

Se você que me acompanhou, quando me fiz anônimo, passa por coisas parecidas, resista e lute. Não faça como eu, procure ajuda. E se a ajuda que você precisar for um bom escutador, esse sou eu, é só me procurar.

PS: voltei ao linkedin, o site para busca de empregos mais eficiente que já usei :)

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Tempos de consolidação da burguesia.

Tempos de imbatível fortaleza das oligarquias cafeeiras.

Tempos em que os artistas se libertam do academicismo e proclamam novos caminhos.

Tempos em que o proletariado vira sujeito consciente de sua história, e cria seu partido, o Partido Comunista.

Tempos em que o socialismo é uma realidade para grandes porções da humanidade.

E tempos em que a pequena ­burguesia urbana, vendo toda essa efervescência, obriga-se também a se posicionar perante tudo isso. De um profundo e honesto sentimento de justiça e moralidade, muitos se ocupam de conspirar e agitar. Era urgente fazer justiça e acabar com a pouca­ vergonha que caracterizava e caracteriza ainda hoje a política nacional. Era preciso encarar todas as fraquezas de nosso país, todo o sofrimento de nosso povo. Estes eram tempos em que as classes ­médias brasileiras educavam-se a duras penas, mas conquistavam um arcabouço cultural e uma disposição para a luta, quase impossível de se imaginar nos medíocres e vulgares tempos em que vivemos. Muitos optaram por tornar único o caminho dos corredores da máquina estatal.

Poucos enxergaram mais longe e se incorporaram às lutas operárias. Mas fizeram a diferença.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Estou lendo o aclamado “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie, e tenho achado bem raso. Pensei que fosse preconceito meu em relação a esse estilo de literatura. Cada capítulo traz um princípio rodeado de histórias que o confirmam, como depoimentos.

Até aí, tudo bem. Mas eis que chego no capítulo “O segredo de Sócrates”, e acho o seguinte, ao final, na p. 162, na edição da Sextante, 2019:

'Ele dizia às pessoas que estavam erradas? Não, Sócrates não fazia isso. Era astuto demais para cometer um erro como esse. Toda a sua técnica, hoje chamada de “método socrático”, se baseava em obter um “sim” como resposta. Ele fazia perguntas com as quais o oponente teria que concordar. Obtinha um “sim” após o outro, até alcançar um número suficiente de respostas positivas. Fazia perguntas incessantemente, até que, por fim, quase sem perceber, seus oponentes se pegavam chegando a uma conclusão que teriam rejeitado antes”.'

Não serei eu a expor o método socrático aqui, pois sequer temos as palavras de Sócrates escritas por ele mesmo. Temos uma interpretação do que seria esse método, em Platão e Xenofonte e outros, mas há ampla literatura especializada sobre esse método que não deixa dúvidas de como Sócrates agia.

O autor deturpa, não há outra palavra possível, um conhecimento milenar e acessível, para subsidiar seu discurso. Não é “a opinião dele”, ou interpretação. Trata-se de uma falsificação, simplesmente.

Contrariando o que o livro doutrina, reforço: atenção ao que se lê, procuremos referências, desconfiemos, não nos calemos frente às falsificações!

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

A voz e a cadência de Roberto Piva se apoderam de meus pensamentos.

Sonolentos e vazios ônibus disputam espaço, nas sonolentas e vazias avenidas de Curitiba, com carros desgovernados por drogados adolescentes da alta sociedade.

Nesta sagrada sexta em que até as prostitutas se resguardam em respeito a sabe-se lá o que, testemunho a revelação que o vento traz. Vulgares copos de plástico manchados por um vagabundo vinho paranaense são as provas de que bêbados sem mãe passaram a noite heresiando.

As ruas estão vazias, meu espírito não.

Mas sou menos que uma carola prostituta, pois em pleno feriado cristão estou indo trabalhar, cumprindo minha sina de moderno escravo assalariado.

Escrito por volta de 2005, quando, numa sexta-feira santa eu estava indo trabalhar muito contrariado apenas pra ser alguém de plantão na sede da empresa. Esses pensamentos me assolaram ali no Largo da Ordem, por volta das 7h00 da madrugada.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Prática consagrada

Há muitos lugares sem nenhuma maturidade no processo de seleção, que em geral se valem mais pela habilidade de quem vai selecionar, o que, em se tratando de um processo conduzido por alguém técnico, normalmente o gestor, ou a pessoa de maior senioridade ou tempo de casa, pode ser uma boa coisa.

Nesses lugares em que os processos ainda não estão maduros, os melhores pelos quais passei tinham uma ação conjunta entre alguém de RH e alguém técnico.

Mas, nos locais em que a busca é algo sempre presente, há uma prática consagrada: o teste prático.

Existem empresários que se aproveitam dessa prática para conseguirem resolver, de graça, pequenas demandas internas, mas eu nunca tive o desprazer de topar um lugar assim.

Mas voltando à normalidade, há nos testes práticos características muito similares na maioria das empresas que já estão nesse nível. Esse teste consiste em, seguindo uma especificação, criar um pequeno sistema, a partir do zero, e entregar.

Com isso busca-se entender o nível técnico do candidato.

Se uma pessoa é capaz de entender uma especificação, implementar com código limpo e demais boas práticas, estaríamos diante de alguém bem capacitado. Com a ajuda de uma pessoa da área de psicologia, o que em geral é o caso nos departamentos e cargos de RH, tem-se uma visão completa do candidato.

E pode-se com isso evitar muitos problemas, desde comportamentais, até mesmo, os de desalinhamento técnico.

Só que, do ponto de vista do candidato, esse teste, geralmente, diz nada a respeito de como será o trabalho. É apenas um desafio intelectual (ao menos para mim, desafios intelectuais abstratos são um porre). E para a empresa também, que não tem como perceber o candidato em ação.

Admito: é importante que se estabeleça um entendimento o mais global possível de um candidato.

O que me atormenta é a falta de orientação prática dos testes ditos práticos, pois eles não dizem nada acerca do comportamento cotidiano de um desenvolvedor.

Como seria um teste levando em conta essa rotina?

Minha prática, quando tenho a oportunidade de planejar um teste, é que ele reflita o cotidiano da empresa, especialmente no relacionamento com as diversas pessoas dentro do ambiente de trabalho.

Por exemplo, certa feita em que tive essa liberdade, o teste prático para ser administrador interno de rede foi identificar porque, numa máquina, a rede não estava funcionando. Um candidato rapidamente percebeu o cabo desconectado, o outro depois de verificar algumas coisas, pediu ajuda.

Um arrumou rapidamente, mas era um falastrão, o outro não.

Garantimos nessa situação um teste prático muito perto da realidade, mas o determinante foi que percebemos um comportamento cordial no candidato que não conseguiu, que era o mais importante no perfil desejado que construímos. E o teste prático acabou confirmando conhecimento acerca de Windows e humildade para pedir ajuda, pois para nós, tão importante quanto resolver um problema é a postura com que alguém se porta no relacionamento interpessoal.

E com as pessoas desenvolvedoras, o que se busca?

Bom relacionamento, conhecimento técnico e, penso eu, boa desenvoltura no que mais acontece dentro de uma empresa: remendar sistemas existentes.

Um teste que realmente verifica como a pessoa se comporta tecnicamente, como está seu conhecimento técnico, e sua capacidade de interação com a equipe, pode ser simplesmente resolver issues. Por mais simples que seja, resolver uma issue aberta em algum sistema opensource, ou mesmo que seja em um sistema pequeno apenas para a finalidade de testes, é muito melhor que perder uma semana escrevendo um sistema do zero que não serve pra nada.

Resolvendo uma issue e abrindo um PR, a pessoa candidata demonstra ser capaz de entender um problema, demonstra ser capaz de dizer que não entendeu, fazer os questionamentos adequados, e ainda, propor soluções fora do que é mais óbvio.

Ainda tem o benefício do processo de codereview.

Aqui penso que o melhor mesmo, é resolver uma issue e ser revisor de um PR.

Porque a revisão de PRs é uma arte. Pode ser a demonstração de desleixo, pode ser a demonstração de que a pessoa é propensa a rasgar dinheiro, tornando esse processo infinito ao concentrar-se em detalhes irrelevantes, e ainda, a pessoa tem que clonar repositório, fazer os testes funcionarem em sua máquina, fazer o sistema funcionar em sua máquina.

Todo esse processo é muito rico, não importa muito se em uma coisa ou outra seja preciso ajuda. Aliás, importa sim, o quanto essa pessoa tenta? Ela desiste? Ela é preguiçosa e fica fazendo perguntas sem tentar nada? Ela é orgulhosa e fica tentando sem nunca pedir ajuda?

Aqui temos uma visão de como a pessoa entende, argumenta, convence, cede, enfim, como colabora. E então tem-se subsídios muito mais concretos para decidir por contratar. E também pra decidir ser contratado, pois tudo isso nos ajuda a pensar se uma empresa vale ou não à pena.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Chegando atrasado com a polêmica dos salários... Vou contar minha história em dólares, só pra fugir da inflação e mostrar as moedas. Mas vou fugir da minha situação atual.

Eu comecei a trabalhar com 13 anos de idade, como office-boy, e para aprender a programar, em troca das mensalidades do curso técnico em processamento de dados. Minha mãe, empregada doméstica analfabeta, negociou tudo com o patrão dela, dono de uma empresa de engenharia civil.

Claro que isso não deu certo, e em alguns meses eu estava desempregado. Devorei livros do jeito que pude, programei todo tempo livre que pude, inclusive escrevendo programas em papel para digitar depois. Meu primeiro contato com inglês foi nos manuais da linguagem basic de um clone de Apple II.

Com as mensalidades do curso em atraso, arrumei rapidão um estágio numa pequena empresa familiar em que fiquei aproximadamente 12 anos.

Primeiro salário como digitador, US$60 ( ~7.000 cruzados). Já estava programando em dBaseII e passei a Operador de Computador (programando em C , Clipper e Pascal), nessa época com US$230 (~1.000.000 de cruzeiros).

De 1997 a 2006, vários cargos (mas sempre programando, agora já em Python), vários salários em reais entre 1K e 2K, mas sempre estáveis em torno de US$900. Em 2010 Passa um pouco de US$1.000 (R$2.000).

Após um longo período de desemprego e atividades como freelancer e consultor (são coisas diferentes), tive um forte episódio de transtorno bipolar.

Buscando emprego na cidade de São Paulo como programador, a oportunidade me foi dada (valeu Castellani e Vindi!). A partir de então, o salário em reais deu uma escalada mas, sinal dos tempos, caiu, se convertido em dólar.

Tenho duas carteiras de trabalho. Tive que tirar a segunda após dez anos da primeira, pois não tinha mais espaço para as anotações de alteração salarial. Foram 50 anotações, principalmente por conta do processo inflacionário e planos econômicos...

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Nesse texto, algumas ideias sobre o que penso ser um bom programador.

Mais uma lista...

Essas exatas palavras do título, quando pesquisadas em algum buscador, nos trazem muitos artigos, quase todos estabelecendo listas muito parecidas, válidas e interessantes.

Algumas mais técnicas outras menos.

Etiquetando

O que é um bom programador?

É um problema decidir qual das etiquetas colar na nuca de um programador. Ele pode ser ótimo, péssimo, medíocre. E essa etiqueta não é útil para decidir quem contratar, antes é utilizada apenas como um adereço.

Sempre convivemos com todos esses casos, em todos os ambientes trabalhados. E um lembrete: essa classificação não tem nada a ver com experiência ou conhecimento. Isso são outras coisas.

A inspiração para essa reflexão

Lembrei-me de uma discussão muito acalorada, enquanto junto a outros dois colegas, tentávamos fazer um novo sistema funcionar, debugando e refatorando a três.

O código era muito ruim, muitas longas linhas se repetiam entre várias funções, que por sua vez tinham várias linhas, muito além do razoável.

Mais crítico, tratava-se de um sistema em Python, usando Django. Tudo para facilitar a vida, tudo pra escrever código limpo. Nada complicado.

Mas é possível complicar, e muito, o não complicável, especialmente quando se está entrando em um novo domínio de conhecimento.

Eu, administrador de sistemas, mas sempre programador, estava incluído nessa jornada, o mais velho e mais experiente. O autor do código estava iniciando em Python, o outro colega excelente programador, experiente, e com sólido conhecimento acadêmico.

E como acontece, é sempre divertido debater código, arrumar e testar na hora com outros.

A provocação

E nessa jornada, o estagiário afirma convicto, “fulano é um excelente programador” (nosso diretor).

Eu e outro colega nos entreolhamos e eu já disparei: “ele tem um ótimo conhecimento, ótima formação, mas é um péssimo programador”, no que o outro mais experiente concordou.

O estagiário rebateu com destemor: “ele é bom, resolve os problemas”.

Nisso o outro colega lembra ao stag que resolver um problema de qualquer jeito, é fazer gambiarra. E isso não é coisa de bom programador.

O debate continuou por um tempo, até que “o assunto chegou junto” e fez uns estragos em nosso esforço.

Não era uma questão de falar mal do chefe, mas estávamos diante de um neófito empolgado com um péssimo exemplo.

A conclusão

E, muitos anos passados, isso voltou à minha mente após ler um texto excelente, muito bem escrito, de Cecily Carver, Things I Wish Someone Had Told Me When I Was Learning How to Code.

O texto não trata de definir o que é um bom programador, mas ajuda a evitar o lado errado da força.

É uma postura, são princípios.

Para mim, um bom programador é aquele que resolve problemas sem criar outros, sem plantar minas terrestres. Um bom programador é capaz de trabalhar solitário e em grupo. Um bom programador é crítico e sensato o suficiente para saber quando e como dizer não. Um bom programador é um eterno aprendiz.

Muitas vezes, pela pressão dos prazos, das necessidades de sustento, da opressão mesmo da estrutura de comando, abaixamos a cabeça e dizemos sim, ou o nosso não é ignorado. E isso estraga tudo. Torna a criativa e empolgante atividade da programação em algo muito pesaroso.

De meus tempos de militância política, palavras de Carlos Marighella entraram em meu ser e tento me guiar por elas. É um trecho de um poema seu:

É preciso não ter medo,é preciso ter a coragem de dizer.

Ter a coragem de dizer é diferente de ser uma pessoa descontrolada e vulgar. É uma questão de princípios, de caráter.

Portanto, um bom programador, para muito além da inteligência técnica, possui uma excelente inteligência emocional, que se reflete em um código bom, limpo, eficiente, de fácil entendimento e manutenção, e que resolve o problema a que se propõe.

E é honesto. Honesto ao escolher nomes de funções e variáveis, honesto ao perceber que dado código deve ser refatorado, honesto com os futuros programadores que lerão seu código. Honesto ao não se calar sobre os rumos que um dado projeto toma.

Um bom programador é honesto consigo mesmo.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro

Sobre continuar na carreira em um cargo operacional, apesar da idade e experiência.

Minha qualificação no assunto

Estando perto de completar 47 anos, essa é uma questão pertinente. Já fui um adolescente que programava profissionalmente. Comecei a programar aos 14 anos de idade, tenho mais de 30 anos na carreira de TI, e continuo na profissão, mas fazendo uma mudança de rumo “aos 45 do primeiro tempo”.

Comecei programador, mas tive mais tempo como Administrador de Sistemas, sempre programando, operando os sistemas, automatizando processos administrativos, e principalmente bebendo muito café.

E depois de um longo tempo como “consultor freelancer” (desempregado), voltei a um trabalho formal CLT, como desenvolvedor.

O problema

Acredito que o mais incômodo problema é a surpresa de muitos quando se deparam com alguém além dos 30 anos de idade insistindo em ser programador. Quem ama programar, entende. Quanto à maioria da população, parece ser um limite. Há algum tempo, li alguém perguntando se com 27 anos, ainda dava tempo de começar na carreira de desenvolvimento...

Programar pode ser apenas uma ponte para outras posições. Pode-se assumir cargos de gerência, supervisão ou em vendas, ou até mesmo tornar-se um empreendedor. Algo natural como um músico tornando-se maestro (ainda que um maestro possa ser visto como um músico que tenha como seu instrumento musical uma orquestra).

É um caminho.

Mas há o caminho de continuar programando. Há uma multiplicidade de problemas a serem resolvidos, com uma multiplicidade de ferramentas possíveis, métodos possíveis, paradigmas possíveis, nos mais diversos segmentos.

Uma solução

Uma solução é a invalidação desse problema. Experiências, ainda mais se forem diversificadas, só melhoram um programador, e, acredito, qualquer pessoa em qualquer profissão.

Há uma propensão em pensar no programador mais velho como um dinossauro da informática, que domina um conjunto de tecnologias consideradas ultrapassadas. Isso tem a ver com um padrão de emprego que está cada vez mais raro: a carreira em uma única empresa (ou em duas ou três do mesmo segmento), cuidando dos mesmos sistemas.

Mas não, um programador mais velho é apenas um programador com mais idade. Talvez tenha mais experiência que um jovem programador, se esteve na carreira por toda sua vida. E será menos experiente que um jovem programador, se começou a carreira mais tarde.

Concluindo

Não acredito que existam vantagens em ser mais velho ou novo. Há quem chore os anos passados e há quem chore a inexperiência. A cada dia bastam os seus problemas, é o que Cristo ensina. Portanto, o presente é o que importa.

Nem mesmo a inteligência emocional tem relação direta com a experiência. Tanto jovens como velhos podem ou não serem sábios em seus relacionamentos sociais, ou podem se sujeitar a condições de trabalho ruins. Cada qual por seus motivos. Tanto um como outro pode ou não ser produtivo. Tanto um como outro pode ser melhor ou pior pago.

Enfim, se me deparo com uma empresa em que a idade importa, ou a orientação sexual importa, ou a aparência física importa, ou a orientação de credo e fé importam, ou a orientação política importa, ou o local de nascimento importa, então estou diante de uma cultura empresarial aviltante conduzida por pessoas das quais quero a maior distância possível.

Por fim, um interessante depoimento em uma discussão no HackerNews:

I am 64. I wrote my first program in 1970 and have worked as a programmer since 1976. Programming was a good career choice. For many years I was a manager and pretty much hated it and returned to programming. I quit my job and went to work at IBM as a software engineer the year I turned 50. I was the oldest person in my department, and was a bit of a father figure to some of the kids there. Otherwise I did not fit in and left after two years. I worked at about the same salary on a job for the next ten years and now, at 64, I have a nice job helping to translate COBOL to Java. (...) Programming is not what I do, but who I am.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro