Minha autocrítica sobre a China
Historinha
Uma aflição se abateu sobre mim, em relação à China. À pergunta “A China é socialista?”, entrei com os dois pés dizendo que sim. (sem contar suas variantes sobre capitalismo de estado ou imperialismo). Mas fiz isso, principalmente, por levar em conta o fator humano. O debate é sempre muito abstrato. Essa tal China, o que é? Esquecemo-nos das pessoas, dos trabalhadores, do povo chinês.
Alguns podem argumentar que o debate não é sobre pessoas, é sobre um sistema socioeconômico para conduzir uma sociedade... Mas no fundo, o que é tudo isso senão pessoas em ação?
Escrevi um texto sobre o assunto, tentando ir por essa perspectiva:
https://bolha.blog/paulohrpinheiro/sobre-a-china
Temos o mais importante fato: aproximadamente 20% da população mundial vive em países autodeclarados socialistas, sendo a maioria na China:
País População Percentual
Mundial 7.900.000.000 100,00%
China 1.426.391.281 18,06%
Coreia Popular 25.778.816 0,33%
Cuba 11.326.616 0,14%
Laos 7.275.560 0,09%
Vietnã 97.338.579 1,23%
Países Socialistas 1.568.110.852 19,85%
O Problema
O problema está na questão: “A China é ou não socialista”! Ser ou não ser, os universais positivo e negativo da lógica aristotélica: aqui está um gigante problema, para nos firmarmos como marxistas-leninistas, abandonamos a dialética.
Não tenho um conhecimento aprofundado, detalhado, sobre os processos sociais e econômicas na China, nem de toda a teoria envolvida (anotação: resolver isso). Tenho leituras desorganizadas e superficiais. Mas acompanho os grandes debates e fico sempre com essa pulga atrás da orelha: essa gente bate boca, mas parece estar seguindo caminhos que jamais levarão a um bom entendimento.
Desdobrando essa questão inicial, há ainda outra armadilha: tentar definir (como um teorema ou ainda, como axioma) o que é Socialismo. Isso me causa maior desespero, pois penso Socialismo como processo. Temos muitas experiências, no século 20, e essas poucas que ainda se mantém. E a realidade é que, iniciado o processo revolucionário, não há como tratar formalmente os problemas. A concretude do processo torce e espreme nossos textos clássicos preferidos, quase sempre não encontrando a ajuda ou respostas desejadas.
Antes, essa cultura deve nos preparar e equipar para avançar e não ser apenas um amuleto. Como o músico e o repentista que improvisa, devemos ter nossos dicionários de rimas e fraseados, para com maestria, improvisar, e não apenas reproduzir.
E eu também me perdi nessa.
E aí, como faz?
Primeiro, permitam-me lembrar uma fala do Velho Prestes sobre Socialismo Real e a intelectualidade:
“O mal do intelectual brasileiro, é que ele idealiza o socialismo, um socialismo tirado da cartola dele, e como esse socialismo não coincide com o socialismo real, ele então combate o socialismo real.” (https://www.youtube.com/watch?v=QT4sZb2ESyc).
Estudar, informar-se, manter-se lúcido frente as contraditórias posições em relação ao tema. Não devemos temer nem o debate nem a contradição. Respirar e voltar aos clássicos. Estudar o que de aparentemente sério se fala, procurar informações autóctones sobre cada experiência. Estabelecer vínculos com as organizações e pessoas dessas nações.
Então, não tenho problemas em manter-me pensando que os trabalhadores chineses vivem uma baita contradição, mas que estão muito à frente com o PCCh e as grandes transformações, e o fim da pobreza absoluta, num tortuoso e, sim, vitorioso caminhar.
Sobre um olhar para as pessoas chinesas, não consigo me ver ignorando esses trabalhadores em suas vidas, em suas lutas. É algo que não se leva em conta, no debate, que o colocar uma etiqueta no processo chinês, de que seja apenas “revisionista”, “traidor”, ou “imperialista”, tenho o compromisso, como proletário revolucionário.
As duras lutas do século XX, libertaram e vem libertando os trabalhadores chineses, não sem contradições. No fim, penso que socialismo é isso: o caminhar de multidões rumo ao comunismo, com o protagonismo do proletariado e seus aliados, sem imposições idealistas que possam reduzir essa magnífica caminhada.