Ofensiva militar contra o povo brasileiro
A política, por parte da burguesia, depende de ações armadas, ideológicas, econômicas. E a política mediando o controlável, e coordenando os objetivos.
Uma experiência marcante
Uma manifestação em Curitiba, há muitos e muitos anos marcou-me muito, não pela repressão, mas pela preparação da repressão. Não lembro quem era o governador, ou qual a questão. Eu tinha anotações detalhadas da situação, especialmente em relação ao aparato militar ali presente, mas de mudança em mudança, perdi o manuscrito (se alguém tiver uma cópia, por favor, me chama). Mas eram tempos de luta contra a ALCA e privatizações, e por melhores condições de trabalho para os funcionários públicos estaduais. MST e APP Sindicato estavam extremamente atuantes.
Tinha muita polícia. Tanta polícia que todos e todas da escola de formação da PM estavam lá. E a pressão apenas da multidão que estava em frente ao palácio do governo estadual, fazia com que víssemos a maioria dos PMs em treinamento chorando, mantendo sua posição como carne de terceira a ser descartada, se algo desse errado.
Atrás das colunas de soldados, transmissão ao vivo da manifestação que estava prestes a ser dispersada a sangue, pela afiliada local da Globo, a terrível RPC (Rede Paranaense de Comunicação), controladora do jornal Gazeta do Povo, àquela época, impresso, e um jornal de verdade, embora já com suas conhecidas tendências.
Perto do Governo Estadual estão os prédios da Assembleia Legislativa e Justiça Estadual. Muito gramado, área de estacionamento entre as construções, e uma grande praça à entrada principal.
Em frente à assembleia, estava eu encostado e à sombra com a companheirada :). Muito discretamente, uma coluna de soldados da PM veio esgueirando-se e tomou posição entre as pessoas e a grade.
Desalojado da sombra, resolvi explorar o terreno da operação. Dei uma volta pela fileira dos PMs em formação e cheguei aos fundos do palácio do governo. Entrei em um jardim lateral, por uma escada e me deparei com policiais guiando cães e com armamento pesado. Fiquei observando e não se ligaram na minha presença.
Desci e fiz o contorno da outra lateral pra chegar novamente à entrada principal. Dei de cara com todos os grupamentos especiais da polícia, civil e militar. Estavam em uma espécie de concentração, aguardando ordens.
E aí o mais interessante: o assunto era que “essas pessoas estão aí pra uma coisa justa”, que iria beneficiá-los também. Nesse tempo, as esposas de cabos e soldados eram muito ativas na denúncia e agitação das reivindicações de seus esposos, participando inclusive, em algumas manifestações com faixas e intervenções nos carros de som.
Também era recente o movimento de PMs em Santa Catarina, em que poucos comunistas estavam no efetivo e levantavam pautas importantes dos soldados, num movimento que quase resultou em greve.
Nessa manifestação (em que não houve confronto, apesar da gigantesca preparação militar para que tal ocorresse), consolidou-se em mim a necessidade de direcionar palavras de ordem aos agentes da repressão, ao invés de apenas xingá-los.
Uma lembrança trágica
Em outra manifestação, ainda no “Centro Cívico”, na dispersão, as ruas não estavam liberadas para carro ainda, um camarada estava caminhando para ir embora, tranquilo, e a última coisa que ele escutou foi “é esse aí”. O camarada foi cercado por um grupo de policiais militares e espancado, até o ponto de ficar largado no chão com traumatismo craniano. Ação rápida e direcionada, e eu arriscaria, planejada. Foram alguns meses de agonia para todos nós e sua família, até a recuperação.
Alesp
Na luta contra a privatização da SABESP, na cidade de São Paulo, militantes da UP/PCR são espancados, e três são presos. Dessa vez, a manifestação segue com palavras de ordem dentro da assembleia, mas do nada, vê-se uma coluna de PMs passando ao lado dos manifestantes e posicionando-se do outro lado de uma proteção entre o plenário e o espaço ocupado pelos manifestantes.
Corta! Num movimento muito rápido, os policiais estão em formação, de frente para os manifestantes, sem qualquer separação. Começam a espancar os mais próximos, causando a confusão necessária para construir uma base jurídica para os atos seguintes de lawfare, e tentar justificar a repressão.
Concluindo
Precisamos estar preparados, não podemos mais nos deixar ser pegos por essas ações assertivas e precisas da repressão. Elas são fruto de um longo acúmulo e treinamento, e devemos também estudar e treinar para não apanhar e garantir as ações que nos propomos.
A máquina militar burguesa, além da repressão direta a greves e protestos, tem seus treinamentos nas periferias das grandes cidades. Veja-se o que o governador Tarcísio está promovendo na baixada santista. É mais um laboratório para grandes ações de incursão, captura e execução.
Basicamente, esquadrões da morte formados exclusivamente por pessoal concursado e fardado.