Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

Parêmias nem tão pequenas, nem tão profundas, sobre a sociedade capitalista

Senhora idosa brava ao ver um fusca azul.

Em uma certa praça, em algum lugar do Brasil, uma senhora está sempre presente. Muito atenciosa, por vezes pedindo ajuda, em dinheiro, ou um lanche.

Mas, do nada, ela se agita tanto, que escolhe alvos aleatórios na praça, pra dar socos no ombro. E sai gritando “fusca azul, fusca azul”!

O pior é que a inusitada agressão nem machuca, mas o que deixa as pessoas atordoadas é a plateia que se forma, e nunca ver o maldito fusca azul.

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Luiz Carlos Prestes, jovem

Prestes, Capitão do exército, em serviço no Rio Grande do Sul, 1923-1924. Imagem recortada de uma foto presente em [1].

Comecei a ler a biografia de Luiz Carlos Prestes, escrita por Anita Prestes [1], e sou apresentado a um certo embate entre ele, em sua postura ética com as contas do Estado, contra Simonsen, outro jovem, mas já se beneficiando de recursos estatais como um parasita.

Estamos num momento em que o jovem militar estava forjando seu entendimento político sobre nosso país, não numa perspectiva socialista, mas num viés pequeno-burguês ainda.

Essa relação de Simonsen com o governo, se apresenta na construção de quarteis, à qual Prestes devia fiscalizar, e que era tocada por empresas privadas em contrato com o Ministério da Guerra, majoritariamente a Companhia Construtora de Santos.

Muito contrariado com a falta de condições para realizar os trabalhos que lhe eram atribuídos, Prestes executava o que podia, com o mais absoluto rigor, e começava a bater de frente com as oligarquias e suas indecentes relações com o Estado brasileiro.

E essas oligarquias tinham um grande representante e um império em construção: Roberto Simonsen, hábil em beneficiar-se de seus “contatinhos” e contratões.

Roberto Simonsen

Roberto Simonsen

Segundo Maza ([2], p. 79), “Simonsen é talvez a prova mais cabal de que os empresários industriais paulistas possuíam um projeto de hegemonia política que foi sendo construído no decorrer dos anos trinta”.

Tendo a industrialização do país como meta, Simonsen deparava-se com grandes obstáculos para seus interesses, advindos, segundo ele, principalmente de nosso passado colonial e posição subalterna em relação ao cenário internacional:

”(...) a falta de combustível, a deficiência dos transportes, as dificuldades de técnicos e de mão de obra apropriada, a falta de capitais.” ([2], p. 82).

Interessante que ele tenha trabalhado, logo depois de formado, na Southern Brazil Railway, empresa do empresário estadunidense Percival Farquhar, responsável entre outras coisas, pelo conflito conhecido como Guerra do Contestado, que oprimiu, matou e expulsou colonos, por conta da construção da estrada de ferro entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Além disso, também trabalhou na diretoria-geral de obras na prefeitura de Santos, e como engenheiro-chefe da Comissão de Melhoramentos de Santos, ocupações que devem ter possibilitado o tal networking que privilegiaria seus futuros empreendimentos.

Depois dessa sua atuação na administração pública, é a sua ação prática junto aos governos que nos interessa. Em 1912 funda a Companhia Construtora de Santos, conseguindo contrato com a prefeitura para construção de habitações populares na cidade, além de outras obras.

Para isso, consegue com o prefeito à época, uma lei que dava incentivos a investidores para essas atividades. Já aqui, críticas são aventadas por esse possível benefício direto concedido, à sua empresa, pelo poder público.

Mas para além de Santos, o que marca sua história são os quartéis, pelo país, construídos por sua empresa graças a contratos com o Ministério da Guerra:

“As obras de construção de quartéis, entre os anos de 1922 e 1925, realizadas pela sua companhia, deram-lhe a ideia de construção em série e fez com que seu interesse se voltasse aos processos de industrialização. De fato, neste episódio, o processo de racionalização não se limitou apenas à organização do trabalho, mas estendeu-se à padronização dos materiais, das instalações e dos aspectos arquitetônicos.” ([2], pp. 84-5).

Esses contratos foram conseguidos de forma nada republicana: “Atrás de suas cordiais relações com Pandiá Calógeras, ministro da Guerra do governo Epitácio Pessoa, Simonsen consegue contrato para a construção de 103 estabelecimentos militares em 26 cidades de nove estados, obedecendo a um projeto oficial de expansão e melhoria das instalações do Exército.” ([2], p.100).

Entre muitas suspeitas e polêmicas, chega-se ao ponto em que Simonsen concede a si um auto perdão:

”()... a empreitada sofreu com múltiplos problemas de logística que envolveram dificuldades de transportes e políticas, como por exemplo, as revoltas tenentistas no sul do país. (...) sem contar as críticas de falta de concorrência das obras oferecidas à Companhia Construtora de Santos. A apuração de irregularidades que seria procedida em 1930 sobre esses contratos firmados “confirmaria a correção dos serviços prestados pela Companhia Construtora de Santos”, levando Simonsen a publicar, em 1931, sua obra A construção dos quartéis para o Exército, onde se defendeu de todas as acusações.” ([2], pp. 100-1).

Mas Prestes, jovem e virtuoso tenente, descobriu, anotou e denunciou as muitas irregularidades que encontrou.

Prestes auditando compras e obras

Sem provas de seu envolvimento com a revolta tenentista de 1922, Prestes é enviado do Rio de Janeiro para o interior do Rio Grande do Sul, como uma forma de punição, ainda que informal ([1], pp. 36-7).

A ele foi delegada a missão de fiscalizar a construção de quartéis nas cidades de Santo Ângelo, Santiago do Boqueirão e São Nicolau, pela “chefia da Comissão Fiscalizadora da Construção de Quartéis” ([1], p. 37). Estas cidades compunham um dos contratos entre o Ministério da Guerra e a Companhia Construtora de Santos, propriedade de Roberto Simonsen.

As condições para sua tarefa não estavam dadas, pois não existiam especificações escritas para que a auditagem pudesse averiguar e comparar o feito com o exigido. Entre idas e vindas, entre o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, ele tenta se demitir por fala de condições para exercer seu trabalho.

O contrato, considerado por Prestes como “terrível”, responsabilizava a Companhia de Santos por pagar todas as despesas locais, e, uma vez aprovadas as notas, receberia um adicional de 10% sobre esses valores. Quanto mais rápido aprovadas essas contas, mais rápido recebiam do Ministério da Guerra.

O que Prestes avaliava como “normal”, era liberado, no que tinha dúvidas, mandava relatórios detalhados questionando a qualidade entregue ou outros motivos, o que atrasava todo o processo.

Certa feita, embargou uma grande entrega que chegou de trem, vinda de São Paulo, com material de péssima qualidade. Questionou a razão desse material vir de longe, com baixa qualidade, com custos maiores do que se isso fosse feito localmente.

Recebeu telegrama da Chefia ordenando a suspensão do embargo, mas, dada a sua avaliação, manteve sua posição, respondendo com outro ofício, e o embargo manteve-se.

Em um quartel, verificou que não havia um projeto adequado para o esgoto, e ele mesmo elaborou um projeto, visto que havia a possibilidade de que “descarregando num edifício, se levantasse em outro [risos]” ([1], p. 39).

Chegam os operários especializados para essa construção, mas iam apenas fazer o trabalho sem seguir qualquer plano (e recebendo diárias). Prestes embargou a obra, e foi, finalmente, demitido da função, “por necessidade de serviço [risos]” ([1], p. 40), sendo transferido para o batalhão ferroviário de Santo Ângelo.

E, nas palavras do camarada, “De maneira que essa foi minha vida com a Companhia Construtora de Santos” ([1], p. 40).

Anita ressalta que:

“Ao referir-se a essa empresa de propriedade de Roberto Simonsen, Prestes ressaltava que esse grande empresário era muito amigo do general Cândido Mariano Rondon, que, por sua vez ocupava o cargo de diretor do Serviço de Engenharia – o Departamento de Engenharia do Exército –, subordinado ao ministro do Exército. Nos escritórios da Companhia Construtora de Santos havia sempre um grande retrato do general Rondon.” ([1], p. 40).

Por fim, após todo esse processo, Prestes recebe um emissário do general Barcelos instruindo que contas não aceitas por ele deviam apenas serem devolvidas sem relatórios, o que Prestes também negou. ([1], p. 40).

Penso que essa experiência de Prestes reforça sua oposição, até então, “moralista” ao governo, que o manteria conspirando e suscitaria o que o levaria a um conhecimento do Brasil profundo, com a Coluna, e outro aprofundamento de posição, mas agora para a revolução proletária, no pós-marcha.

Referências

  • PRESTES, Anita Leocádia. Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro. São Paulo: Boitempo, 2015. 37-47.
  • MAZA, Fábio. “Simonsen: industrialização, empresa e liderança empresarial” in Os Donos do Capital: a trajetória das principais famílias empresariais do capitalismo brasileiro. org. Pedro Henrique Pedreira Campos & Rafael Vaz da Motta Brandão, 78-103. Rio de Janeiro: Autografia; 2017.

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Imagem criada pelo Bing image Creator com o prompt cidade recebendo fumaça de queimada em campos e florestas distantes, estilo gótico em tons de cinza

Que louco seria se as maiores plantações de cannabis no país fossem queimadas ao mesmo tempo, e uma grande fumaça viajasse pelo país, entorpecendo toda a população…

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Ousar sonhar

Ousar viver

é preciso se organizar

pra no coletivo debater

e o sonho transformar

em realidade a viver

Imagem gerada pelo Bing Image Creator, com o texto "Ousar sonhar Ousar viver é preciso se organizar pra no coletivo debater e o sonho transformar em realidade a viver", estilo realismo socialista. A imagem apresenta uma asembleia em local aberto num vale com lago ao fundo, bandeiras, e muitas pessoas, com predominância do tom vermelho.

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Imagem gerada por IA de um ser gigante que se prepara para golpear um exército, em batalha campal que o cerca, com lanças e escudos.

Nunca perder a razão. Estamos cercados, cansados, famintos, feridos. Eles têm armas, treinamento e apoio. Somos uma massa organizada, somos os que criamos riqueza, somos o futuro que está nascendo. Observar, notar os pontos de falha e, unidos, em uma só força revolucionária, esmagá-los impiedosamente.

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Imagem criada com o Bing Image Creator, usando o texto como prompt e o estico cubista: "Lembro de títulos e autores, de sentimentos em mim despertados. Há imagens que persistem em minha memória, tão sólidas, tão profundas, e ao mesmo tempo nada nítidas. Mais os sentimentos do que as imagens. Mas sou incapaz de discorrer sobre essas obras. Nada, há uma tempestade infinita em minha cabeça, e é essa tempestade e essa incapacidade que me fazem não ter paciência com detalhes, com demoradas descrições. Quando não estou só, quero a essência."

Lembro de títulos e autores, de sentimentos em mim despertados. Há imagens que persistem em minha memória, tão sólidas, tão profundas, e ao mesmo tempo nada nítidas. Mais os sentimentos do que as imagens. Mas sou incapaz de discorrer sobre essas obras. Nada, há uma tempestade infinita em minha cabeça, e é essa tempestade e essa incapacidade que me fazem não ter paciência com detalhes, com demoradas descrições. Quando não estou só, quero a essência.

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Alt text

Tudo vazio. As poucas pessoas que encontro estão com mais medo. Ah, que vida lazarenta! Quando eu tinha casa, família e trabalho, era uma alegria, mesmo com as dificuldades. Comer, só amanhã. É a merda de um feriado.

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Raúl Antonio Capote Fernández e seu livro, foto de Katia Marko para o Brasil de Fato

Raúl Antonio Capote Fernández e seu livro, foto de Katia Marko para o Brasil de Fato/RS: https://www.brasildefators.com.br/2023/10/13/ex-agente-duplo-o-cubano-raul-antonio-capote-fernandez-vai-lancar-livro-em-porto-alegre

Um dos esforços da Revolução Cubana é a infiltração em organizações e atividades contra revolucionárias de todos os tipos. Desde os francamente terroristas, passando pelos culturais, passando pelos políticos, passando por agentes infiltrados, passando por ações internas ou externas.

Capote é um professor universitário renomado, escritor, amado por seus alunos, ligado às mais diversas áreas da cultura, defensor da revolução, crítico de desvios e sectarismos. E discretíssimo agente do serviço de segurança interno do estado cubano.

Não temos em mãos um manual de contraespionagem. Temos algumas passagens de sua aventura por essa, como ele deixa claro, dolorosa experiência.

Experiência de quem teve que conspirar com o inimigo. Não os terroristas ou panfletários locais, ou mafiosos de Miami. Mas diretamente com as cúpulas diplomáticas do Império. Recebeu os equipamentos de última geração para estabelecimento de comunicações via satélite.

Foi testado à exaustão pelo inimigo, inimigo esse experiente em destruir as experiências socialistas europeias e levantes latino-americanos.

O foco: a juventude. A esse professor, tão ligado à juventude, a essa revolução, tão ligada à juventude, o inimigo propôs essa tarefa. E ele teve que engolir a seco até o dia em que lhe foi permitido revelar a seu bravo povo, em rede de televisão aberta, todos os planos em que participou.

Mais uma vez, o império falhou.

O Livro:

CAPOTE, Raúl Antonio. Inimigo: A guerra da CIA contra a juventude cubana. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2023. 232 p.

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Desenho criado com o bing, a partir do prompt "desenho militar de policiais se posicionando em uma manifestação popular preparando um cerco"

A política, por parte da burguesia, depende de ações armadas, ideológicas, econômicas. E a política mediando o controlável, e coordenando os objetivos.

Uma experiência marcante

Uma manifestação em Curitiba, há muitos e muitos anos marcou-me muito, não pela repressão, mas pela preparação da repressão. Não lembro quem era o governador, ou qual a questão. Eu tinha anotações detalhadas da situação, especialmente em relação ao aparato militar ali presente, mas de mudança em mudança, perdi o manuscrito (se alguém tiver uma cópia, por favor, me chama). Mas eram tempos de luta contra a ALCA e privatizações, e por melhores condições de trabalho para os funcionários públicos estaduais. MST e APP Sindicato estavam extremamente atuantes.

Tinha muita polícia. Tanta polícia que todos e todas da escola de formação da PM estavam lá. E a pressão apenas da multidão que estava em frente ao palácio do governo estadual, fazia com que víssemos a maioria dos PMs em treinamento chorando, mantendo sua posição como carne de terceira a ser descartada, se algo desse errado.

Atrás das colunas de soldados, transmissão ao vivo da manifestação que estava prestes a ser dispersada a sangue, pela afiliada local da Globo, a terrível RPC (Rede Paranaense de Comunicação), controladora do jornal Gazeta do Povo, àquela época, impresso, e um jornal de verdade, embora já com suas conhecidas tendências.

Perto do Governo Estadual estão os prédios da Assembleia Legislativa e Justiça Estadual. Muito gramado, área de estacionamento entre as construções, e uma grande praça à entrada principal.

Em frente à assembleia, estava eu encostado e à sombra com a companheirada :). Muito discretamente, uma coluna de soldados da PM veio esgueirando-se e tomou posição entre as pessoas e a grade.

Desalojado da sombra, resolvi explorar o terreno da operação. Dei uma volta pela fileira dos PMs em formação e cheguei aos fundos do palácio do governo. Entrei em um jardim lateral, por uma escada e me deparei com policiais guiando cães e com armamento pesado. Fiquei observando e não se ligaram na minha presença.

Desci e fiz o contorno da outra lateral pra chegar novamente à entrada principal. Dei de cara com todos os grupamentos especiais da polícia, civil e militar. Estavam em uma espécie de concentração, aguardando ordens.

E aí o mais interessante: o assunto era que “essas pessoas estão aí pra uma coisa justa”, que iria beneficiá-los também. Nesse tempo, as esposas de cabos e soldados eram muito ativas na denúncia e agitação das reivindicações de seus esposos, participando inclusive, em algumas manifestações com faixas e intervenções nos carros de som.

Também era recente o movimento de PMs em Santa Catarina, em que poucos comunistas estavam no efetivo e levantavam pautas importantes dos soldados, num movimento que quase resultou em greve.

Nessa manifestação (em que não houve confronto, apesar da gigantesca preparação militar para que tal ocorresse), consolidou-se em mim a necessidade de direcionar palavras de ordem aos agentes da repressão, ao invés de apenas xingá-los.

Uma lembrança trágica

Em outra manifestação, ainda no “Centro Cívico”, na dispersão, as ruas não estavam liberadas para carro ainda, um camarada estava caminhando para ir embora, tranquilo, e a última coisa que ele escutou foi “é esse aí”. O camarada foi cercado por um grupo de policiais militares e espancado, até o ponto de ficar largado no chão com traumatismo craniano. Ação rápida e direcionada, e eu arriscaria, planejada. Foram alguns meses de agonia para todos nós e sua família, até a recuperação.

Alesp

Na luta contra a privatização da SABESP, na cidade de São Paulo, militantes da UP/PCR são espancados, e três são presos. Dessa vez, a manifestação segue com palavras de ordem dentro da assembleia, mas do nada, vê-se uma coluna de PMs passando ao lado dos manifestantes e posicionando-se do outro lado de uma proteção entre o plenário e o espaço ocupado pelos manifestantes.

Corta! Num movimento muito rápido, os policiais estão em formação, de frente para os manifestantes, sem qualquer separação. Começam a espancar os mais próximos, causando a confusão necessária para construir uma base jurídica para os atos seguintes de lawfare, e tentar justificar a repressão.

Concluindo

Precisamos estar preparados, não podemos mais nos deixar ser pegos por essas ações assertivas e precisas da repressão. Elas são fruto de um longo acúmulo e treinamento, e devemos também estudar e treinar para não apanhar e garantir as ações que nos propomos.

A máquina militar burguesa, além da repressão direta a greves e protestos, tem seus treinamentos nas periferias das grandes cidades. Veja-se o que o governador Tarcísio está promovendo na baixada santista. É mais um laboratório para grandes ações de incursão, captura e execução.

Basicamente, esquadrões da morte formados exclusivamente por pessoal concursado e fardado.

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Imagem gerada pelo bing create, com um contexto sobre debate na china estilo impressionista

Historinha

Uma aflição se abateu sobre mim, em relação à China. À pergunta “A China é socialista?”, entrei com os dois pés dizendo que sim. (sem contar suas variantes sobre capitalismo de estado ou imperialismo). Mas fiz isso, principalmente, por levar em conta o fator humano. O debate é sempre muito abstrato. Essa tal China, o que é? Esquecemo-nos das pessoas, dos trabalhadores, do povo chinês.

Alguns podem argumentar que o debate não é sobre pessoas, é sobre um sistema socioeconômico para conduzir uma sociedade... Mas no fundo, o que é tudo isso senão pessoas em ação?

Escrevi um texto sobre o assunto, tentando ir por essa perspectiva:

https://bolha.blog/paulohrpinheiro/sobre-a-china

Temos o mais importante fato: aproximadamente 20% da população mundial vive em países autodeclarados socialistas, sendo a maioria na China:

País                      População   Percentual
Mundial               7.900.000.000    100,00%
China                 1.426.391.281     18,06%
Coreia Popular           25.778.816      0,33%
Cuba                     11.326.616      0,14%
Laos                      7.275.560      0,09%
Vietnã                   97.338.579      1,23%
Países Socialistas    1.568.110.852     19,85%

O Problema

O problema está na questão: “A China é ou não socialista”! Ser ou não ser, os universais positivo e negativo da lógica aristotélica: aqui está um gigante problema, para nos firmarmos como marxistas-leninistas, abandonamos a dialética.

Não tenho um conhecimento aprofundado, detalhado, sobre os processos sociais e econômicas na China, nem de toda a teoria envolvida (anotação: resolver isso). Tenho leituras desorganizadas e superficiais. Mas acompanho os grandes debates e fico sempre com essa pulga atrás da orelha: essa gente bate boca, mas parece estar seguindo caminhos que jamais levarão a um bom entendimento.

Desdobrando essa questão inicial, há ainda outra armadilha: tentar definir (como um teorema ou ainda, como axioma) o que é Socialismo. Isso me causa maior desespero, pois penso Socialismo como processo. Temos muitas experiências, no século 20, e essas poucas que ainda se mantém. E a realidade é que, iniciado o processo revolucionário, não há como tratar formalmente os problemas. A concretude do processo torce e espreme nossos textos clássicos preferidos, quase sempre não encontrando a ajuda ou respostas desejadas.

Antes, essa cultura deve nos preparar e equipar para avançar e não ser apenas um amuleto. Como o músico e o repentista que improvisa, devemos ter nossos dicionários de rimas e fraseados, para com maestria, improvisar, e não apenas reproduzir.

E eu também me perdi nessa.

E aí, como faz?

Primeiro, permitam-me lembrar uma fala do Velho Prestes sobre Socialismo Real e a intelectualidade:

“O mal do intelectual brasileiro, é que ele idealiza o socialismo, um socialismo tirado da cartola dele, e como esse socialismo não coincide com o socialismo real, ele então combate o socialismo real.” (https://www.youtube.com/watch?v=QT4sZb2ESyc).

Estudar, informar-se, manter-se lúcido frente as contraditórias posições em relação ao tema. Não devemos temer nem o debate nem a contradição. Respirar e voltar aos clássicos. Estudar o que de aparentemente sério se fala, procurar informações autóctones sobre cada experiência. Estabelecer vínculos com as organizações e pessoas dessas nações.

Então, não tenho problemas em manter-me pensando que os trabalhadores chineses vivem uma baita contradição, mas que estão muito à frente com o PCCh e as grandes transformações, e o fim da pobreza absoluta, num tortuoso e, sim, vitorioso caminhar.

Sobre um olhar para as pessoas chinesas, não consigo me ver ignorando esses trabalhadores em suas vidas, em suas lutas. É algo que não se leva em conta, no debate, que o colocar uma etiqueta no processo chinês, de que seja apenas “revisionista”, “traidor”, ou “imperialista”, tenho o compromisso, como proletário revolucionário.

As duras lutas do século XX, libertaram e vem libertando os trabalhadores chineses, não sem contradições. No fim, penso que socialismo é isso: o caminhar de multidões rumo ao comunismo, com o protagonismo do proletariado e seus aliados, sem imposições idealistas que possam reduzir essa magnífica caminhada.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro