Livro sobre a Origem e Evolução do PCBR
Impressões sobre o livro “Origem e Evolução do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (1967-1973)”, de Renato da Silca Della Vechia, editado pela Lutas Anticapital, com o selo do Instituto Mário Alves.
Não menosprezando a massa de militantes do PCBR, cujo trabalho e abnegação à causa revolucionária são exemplares, o que me chamou a atenção a essa organização foram seus “quadros eminentes”. Para citar três, vamos de Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender e Mário Alves, todos experimentados na luta, tanto aberta como clandestina.
E isso foi o que me levou a buscar e ler esse livro. Só que na leitura, pude me aprofundar mais na história desse partido, mas com um toque maior de humanidade, ao resgatar a vida dos militantes. Também, com uma linha temporal de sua existência, até o momento em que entra como tendência no PT.
O autor, Renato da Silva Della Vechia, é professor do programa de pós-graduação em Política Social e Direitos Humanos na Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), com doutorado em Ciência Política, e membro do Instituto Mário Alves, o que deve lhe dar um melhor conhecimento dos fatos históricos e oportunidade de proximidade com as pessoas por ele estudados.
Uma boa coisa nesse livro, especialmente em seus capítulos iniciais, é a apresentação de reflexões mais genéricas sobre os partidos políticos e a história brasileira pré-golpe de 1964. Tem-se um bom panorama da conjuntura que levou à criação do PCBR.
Eu nunca tive uma visão sobre o alcance do PCBR no Brasil. Com essa obra tive, além de maior profundidade sobre a história da organização, uma cronologia de ações, tanto dela como da repressão, as necessárias reflexões e debates conforme as condições de luta mudavam, e especialmente, um detalhamento individual do que se sabe sobre os militantes.
Traições, vacilos, e limites quebrados frente à tortura, são discutidos e bem diferenciados. Um traidor infiltrado, em especial, deu-me certa agonia a cada vez que seu nome era citado: Jover Teles. Uma angústia, pois sua trajetória do PCB ao PCdoB, passando pela pré-história do PCBR, a Corrente Revolucionária, é uma narrativa que demorou para citar sua decisiva traição que culminou com a Chacina da Lapa, em que dirigentes do PCdoB foram executados pelo aparato de repressão brasileiro. Apesar da demora, um fato que eu desconhecia era sua ação como um “chupim”, levando potenciais militantes do PCBR para o PCdoB, muito bem explicada no livro.
Da proliferação de ações e planos para a derrubada da ditadura e construção da revolução socialista, temos um discorrer das ações e análises muito bem escritas, que chegam ao final das ações e dispersão dos militantes, passando pela composição das direções centrais e algumas regionais, até ação de expropriação final na década de 1980, e incorporação dos militantes ao PT.
Há também um conjunto de anexos importantes, como posição sobre a Tchecoslováquia, e a sua linha política, documento de 1968, entre outros, igualmente interessantes.
Livro quente, de uma primeira leitura rápida, apesar de ser denso em informações e análises, que convém como obra para consultas recorrentes, inclusive pela sua riqueza de indicações bibliográficas.