A dama de ferro

Foto antiga da Escola Carlos Gomes

Digamos, para ilustração, que esses causos ocorreram verdadeiramente de verdade em um grande colégio estadual de São Paulo, digamos que no centro de Campinas, cujo nome é uma homenagem a um grande maestro campineiro...

Ela comanda a escola com mãos de ferro. Sempre vigiando a praça homônima. Sempre vigiando a entrada. Sempre vigiando a saída. Sempre vigiando cada sala de aula. Sempre vigiando o pátio. Sempre vigiando a cantina. Ela vigia cada professor. Sabe quanto cada aluno gasta na cantina.

Sim, aparentemente, ela também tem controle sobre os gastos individuais dos alunos. Mas falemos primeiro de uma obsessão muito particular e intrigante.

Dizem que pelos corredores da escola ecoam gritos estridentes de “E O UNIFORME????”... É o grande projeto de vida dessa engajada burocrata do sistema educacional. Em sua escola, ninguém deve estar sem o uniforme. Ninguém, ninguém, ninnnnnnnguéééééémmmmm!!!

Listas de desordeiros não uniformizados pipocam nas listas de mensageiria para que sejam punidos publicamente pela humilhação. Em cada comunicado, em cada reunião, em cada mensagem, a obsessão pelo uniforme se apresenta como uma maldição aos alunos.

Mas voltemos aos gastos na cantina.

Em um misto de inspeção e comunicado, em cada sala de aula, vem a mais divertida, cruel e destemperada frase:

Um uniforme custa trinta reais, vocês gastam muito mais que isso na cantina.

Não me lembro se escrevi aqui, mas se trata de um colégio público. O uniforme não faz parte do “kit escolar”. Tem que ser comprado. Justiça seja feita, em casos extremos, muito extremos, um e apenas um uniforme é doado.

Fiquei uma tarde inteira rindo com minha filha sobre essa frase, mas depois lembrei que a exigência “nesse quesito aí” fere uma lei estadual sobre o uso obrigatório de uniformes no estado de São Paulo:

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1983/lei-3913-14.11.1983.html

Uma funcionária pública da educação infringindo uma lei estadual? Pode isso Galvão?

E os poderes da dama de ferro só crescem. Agora a repressão tem seu braço não armado, mas armado. Nesse dia, foi apresentado o funcionário responsável por averiguar o cumprimento do decreto lei da nossa, às vezes penso que caricata, diretora.

Um homem, com um cassetete na cintura, com autorização para inspecionar os banheiros masculinos (!!!), proibido de ter amizade com os alunos (palavras dela) estará pela escola vigiando, e quando possível, punindo, já que o cassetete é para ser utilizado para separar brigas que porventura ocorram.

A dama de ferro tem seu aparato de vigilância e punição.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro