Sobre o livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie

Estou lendo o aclamado “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie, e tenho achado bem raso. Pensei que fosse preconceito meu em relação a esse estilo de literatura. Cada capítulo traz um princípio rodeado de histórias que o confirmam, como depoimentos.

Até aí, tudo bem. Mas eis que chego no capítulo “O segredo de Sócrates”, e acho o seguinte, ao final, na p. 162, na edição da Sextante, 2019:

'Ele dizia às pessoas que estavam erradas? Não, Sócrates não fazia isso. Era astuto demais para cometer um erro como esse. Toda a sua técnica, hoje chamada de “método socrático”, se baseava em obter um “sim” como resposta. Ele fazia perguntas com as quais o oponente teria que concordar. Obtinha um “sim” após o outro, até alcançar um número suficiente de respostas positivas. Fazia perguntas incessantemente, até que, por fim, quase sem perceber, seus oponentes se pegavam chegando a uma conclusão que teriam rejeitado antes”.'

Não serei eu a expor o método socrático aqui, pois sequer temos as palavras de Sócrates escritas por ele mesmo. Temos uma interpretação do que seria esse método, em Platão e Xenofonte e outros, mas há ampla literatura especializada sobre esse método que não deixa dúvidas de como Sócrates agia.

O autor deturpa, não há outra palavra possível, um conhecimento milenar e acessível, para subsidiar seu discurso. Não é “a opinião dele”, ou interpretação. Trata-se de uma falsificação, simplesmente.

Contrariando o que o livro doutrina, reforço: atenção ao que se lê, procuremos referências, desconfiemos, não nos calemos frente às falsificações!

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro