Ler Todos os Mangás do Mundo

yamatoEu gostaria MUITO de entender os motivos da New Pop ter publicado esse título no Brasil E em edição de luxo. Não me desagradou, coisas no espaço sempre me atraem, o mínimo que seja. Mas me pergunto o porquê da publicação, primeiro, porque o mangá é incompleto. Ele simplesmente ACABA no meio de um arco.

Segundo, o mangá é adaptado diretamente do anime, o que explica algumas páginas em baixíssima qualidade, pois são prints diretas da animação. Acredito que o mangá tenha sido produzido devido a popularidade do anime, porém não acompanhou o entusiasmo e o lucro da mídia original.

Terceiro, o nicho de quem gosta de Yamato no Brasil é bastante pequeno, somente os velhos da geração do Levi Trindade, que faz um texto super emocionado da publicação de Yamato no país.

Por fim, é um mangá que nem quem gosta do Leijiverso curte. Muito pelo contrário, alguns fazem questão de tentar apagá-lo da história dos quadrinhos. Não existe nem scan na internet, e, quando digo “scan”, digo que nem as primárias, no idioma original.

Ah, e achei que se encaixou demais nessa categoria. Mesmo que não aparecesse o Yamato em si na capa, colocaria nela. Porque é ele o personagem principal, apesar de tudo. Assistirei ao anime, é o que me resta.

devilmanMais uma releitura pro desafio! Da primeira vez, li por scan, agora leio a edição de luxo física, publicada pela New Pop. Demorei pra ler porque o volume 2 ficou fora de estoque, mas já tenho o primeiro há um tempo. Uma das desvantagens do MAL é que não consigo saber em que data joguei a entrada da leitura, então não tenho a menor ideia de quando li pela primeira vez.

O que eu lembro é que tinha gostado bastante, do começo ao fim. Comecei a estranhar, porque eu não estava curtindo uma meiuca ali do título, que eu não tinha memória nenhuma. Como eu sou o rei do esquecimento, acabei deixando pra lá. Continuei por alguns capítulos, mas o negócio começou a ficar impalatável.

Foi aí que, depois de uma pesquisa sobre a edição que li (não tão breve, já que Devilman é desses títulos com milhares de formatos de publicação e, para encontrar o formato exato da edição brasileira, tive que averiguar a fundo), descobri que Go Nagai resolve adicionar alguns capítulos extras na história principal, alguns de Shin Devilman, que envolvem viagens no tempo fora de contexto, e alguns de outros spin-offs.

Ok, eu entendo que Devilman em publicação original é direto demais. Começa com o arco de origem do Devilman, o arco da Sirena (pra mim, um dos pontos altos do título), um ou dois demônios inimigos e já o arco final, da revelação de Lúcifer (do caralho!). Há pouco tempo de desenvolvimento dos personagens, principalmente do Ryou. Mas porra, adicionar o que foi adicionado é cruel. Foi totalmente degradante, não tenho outra palavra pra descrever o que li. É um revisionismo que não valorizou em nada a obra.

vinland saga 18Esse é o primeiro tópico que termino que tinha pego um mangá que estava no meu on-hold do My Anime List no desafio (foram poucos, acredito que foi esse, Slam Dunk, Gash Bell e Haikyuu). E estou pra escrever sobre há muito tempo, visto que acabei de ler por volta do final do ano passado (estamos em março). Acho que só enrolando, nenhum motivo em especial.

O pouco que sempre pesquisei sobre Vinland Saga antes de ler me levava a crer que era um mangá sobre guerra e vikings, com cenas violentas, nível Berserk, cujo traço é bastante semelhante. Mas é exatamente o oposto: é um mangá pacifista. Há um primeiro arco, em que o tema central é vingança (que falta sinto de Askeladd!), mas, a partir da impossibilidade de Thorfinn conseguir essa vingança, o mangá muda totalmente de cenário. E daí tem toda uma construção do desejo de não guerrear e de paz. Em um momento, achei o pensamento anacrônico, inserir isso no contexto da cultura nórdica. Mas a forma como é feita é muito boa, e acaba que o único lugar possível para a paz é Vinland, a América. O arco atual já está mostrando o estabelecimento dos vikings, a interação deles com os nativos e o amadurecimento final das personagens. As histórias estão bem soltas, e acredito que não haverá mais tantos conflitos mesmo, já que o título já está em vias de acabar.

Ansioso para o reencontro de Thorfinn e Canute. Espero algo grandioso, mas duvido que será.

EDIT: relendo isso dias depois, percebi que escrevi com muito sono. quando o mangá terminar, vou escrever uma atualização sobre.

sunny 3Pulando a # 15, pois ainda estou me preparando para escrever Vinland Saga, que, se não me engano, prometi terminar em alguma nota anterior.

Eu estava com altas expectativas, porque rapidamente Tekkon Kinkreet se tornou um dos meus mangás favoritos e li pela primeira vez para o desafio. Talvez, essas expectativas me deixaram esperando algo que não faz juz à obra. Isso, aliado a meu pouco interesse em drama, slice of life e comming of age tornaram esta leitura um porre. Tive que me forçar a ler os últimos 4 capítulos, não estava aguentando mais.

Mas tem seus méritos. Como cada capítulo tem sua história fechada, alguns acabam se destacando. Um em específico, sobre a saída de Kiiko do Jardim Hoshinoko (lar das crianças que foram abandonadas pelos pais em uma cidade rural) me pegou de jeito, não consegui segurar o choro. Kiiko foi chamada para morar com os pais novamente, já que se reconciliaram. Megumu, sua melhor amiga no lar, sempre foi uma personagem diferente das demais, era a única que amava estar ali e de conviver com as outras crianças (apesar de sentir falta dos pais, que morreram em um acidente). Nesse capítulo, Megumu sofre com a futura saída de Kiiko, mas entende que seria o melhor pra ela, e acaba discursando durante a festa de despedida da melhor amiga, apesar de relutante. E todos caem em lágrimas. Kiiko acaba voltando pro orfanato no mesmo capítulo, pois o mundo é cruel.

E tem isso também, muito do mangá é triste por ser triste e só. É pura crueldade. Isso acabou me incomodando um pouco, e nada disso é muito bem tratado ao decorrer dos capítulos. Os personagens muitas vezes esquecem o que passaram, não evoluem muito bem com os traumas e decepções.

Fazia tempo que eu não chorava, e eu acho que foi porque amadureci nesses últimos anos. Amadurecer talvez não seja o termo certo, mas acabei aprendendo e blindando emoções que percebi que não deveria botar sempre pra fora. E eu não sei se isso é ruim ou não, mas foi a forma que encontrei de proteger os outros ao meu redor e não afastá-los.

PS. Acabei me empolgando e falando mais sobre mim do que sobre o mangá. Coloquei nessa categoria porque, de certa forma, as crianças (menores e maiores) acabam criando vínculos entre si e os cuidadores, formando algo parecido com uma família, para tentar suprir o buraco do abandono e da solidão. Os capítulos que tratam disso acabam sendo os melhores. O título é por conta de um modelo de carro em que as crianças vão para brincar ou quando estão tristes. Depois eu descobri que a obra foi patrocinada pela Nissan.

jjba part 2Essa semana voltei de BH para Santos, trazendo comigo o primeiro volume da segunda parte de Jojo. Os outros três, que completam o título, comprei durante a pandemia, acabou que ficaram longe dos primeiros. Agora, como todos estavam em Santos, resolvi ler. Já tinha visto o anime (claro), mas nunca lido o mangá.

Confesso que lembrava bastante de tudo, só alguns pontos e detalhes tinham se perdido na minha memória, coisa rara. Apesar disso, tive a mesma voracidade pra consumir tudo como se eu estivesse vendo pela primeira vez (acabei em dois dias e meio). Eu entraria na discussão dos motivos desse mangá ser um clássico, mas acho que não tenho propriedade nem arcabouço pra dizer coisa desse tipo. Mas, numa conversa de bar (ou seja, cabe no intuito dessas notas que faço), eu diria, “é um clássico!”, justamente por, independente da quantidade de vezes que leio ou releio, Jojo sempre me ganha por nocaute.

Agora, sobre o desafio “ler todos os mangás do mundo”, em geral, eu acabo lendo o que dá na telha e depois acrescento na lista em alguma categoria que eu considere razoável. O que não me parece tanto um desafio, vira apenas uma organização de leitura. Talvez por ter tantas categorias, espero que, conforme vou fechando o cerco, a coisa fique mais interessante. Eu deveria ter limitado o número de opções, me guiando pelas categorias maiores. (Apesar de comentar isso, gosto muito de fazer, até me incentiva, mas na próxima farei como acabei de dizer).

Esse breve comentário, na realidade, foi para me justificar o porque de encaixar a parte 2 nessa categoria. No último volume da edição brasileira, o quarto, há um texto epílogo do próprio Araki. Não sei onde originalmente ele está, depois irei caçar mais a fundo. Mas, pelo o que parece, é um comentário de revisita, anos após a finalização da parte. Nele, Araki cita como as partes 1 e 2 foram influenciadas pelos anos 80, assim como as posteriores, principalmente estas regadas a “efervescência que Prince trouxe”. Depois desse texto, só consigo pensar que JJBA inteiro é uma reverberação dos 80, sempre esteve ali na minha frente.

PS.: Nesse texto também há um ponto interessante que o Araki tece: a vontade que ele possuía de mostrar até onde o humano poderia ir nas duas primeiras partes, mas, nas seguintes, queria “passar do corpo superior à mente superior”. Pensar nessa frase comparando com os atuais é um bom exercício. Onde Araki chegou, hoje em dia, após passar pela mente superior?

nanamiEu não sei por que demorei tanto pra escrever essa nota. Tava me enganando, pra falar a verdade. Primeiro, disse pra mim mesmo que ia ver o anime. Mas não tô muito a fim de assistir qualquer coisa, de tempos em tempos tenho disso. Principalmente em épocas que eu prefiro me entreter com games, acho que fico muito mais frenético e ansioso, pra ficar sentado com a bunda no sofá é um parto. Depois, falei que ia esperar meu amigo Leonel terminar de ler e ver o que ele achava sobre o mangá. Ele terminou, conversamos sobre (algumas vezes, inclusive) e eu continuei sem escrever nada. Agora, depois de ter escrito a nota sobre Megalobox, me deu vontade.

Eu acho que é o mangá que li pro desafio que mais me deixou em cima do muro. Tenho muitas considerações positivas e, ao mesmo tempo, muitas negativas. Vou começar pelas negativas, sempre parece ser mais fácil falar mal das coisas.

Em muitos momentos (muitos), me senti perdido. Conversando com o Nazário, ele acha a mesma coisa. Perdido em questão de, em primeiro lugar, plot, e em segundo, localização. Alguns momentos eu não tenho ideia do panorama geral, não tenho ideia do que tá acontecendo. Tem uma luta que eu parei e pensei: “por que essa luta tá rolando?”. As motivações dos personagens são sempre bastante enevoadas, e a ação chega de sopetão. Fica meio confuso, não consigo explicar bem. Agora, quanto a questão de localização, pega mais no arco de Shibuya. Os personagens se separam em vários grupos, só que fica bastante confuso o porquê dessa divisão e onde está cada grupo no distrito. Algo que Hunter x Hunter faz muito bem no arco da invasão do palácio das quimeras, tudo se divide, cada um tem uma função, porém a coesão entre tudo não se perde. Sinto que Jujutsu tenta pegar alguma coisa dali e falha um pouco.

Falando em HxH e outra coisa que o mangá tenta descaradamente pegar. O tanto de regra que os poderes precisam ter. Isso é bem massa. Porém, o autor se perde nas próprias regras do jogo que tenta criar. Primeiro, ele cria uma descrição completa, aos poucos, essa descrição vai sempre sendo deixada de lado por questões de plot. Ele vai deteriorando (acho que essa palavra é perfeita pra descrever) o próprio jogo que criou.

E agora a deixa pra falar bem: apesar de tudo, os poderes são bem legais. Se esquecer a lógica por trás e toda a explicação de energia negativa e expansão de domínio, tudo fica mais interessante. E são os poderes que deixam as lutas boas pra caralho. Fora a arte do mangá, que também impressiona.

O que mais me pegou foram as lutas. Puta merda. Acho que consigo contar, no máximo, umas três que não são tão boas assim. Todas bem estruturadas, bom uso dos quadros, do cenário, os estratagemas. E agora (enquanto escrevo isso), botando na balança e considerando ser um BATTLE SHOUNEN, acho que esse ponto positivo pesa muito mais que qualquer outro. E é isso que eu procurava quando li, e encontrei, porradaria das boas.

nomadAcabei de acabar a segunda temporada de Megalobox. Estava enrolando por um bom tempo, assisti simultâneo ao lançamento até o episódio 5, mas daí acabou que eu tava um pouco desanimado e resolvi esperar sair tudo. Desanimado não por não estar gostando, mas por outras questões que não vem ao caso. Mesmo depois de sair tudo, dei uma enrolada, terminei só agora. Dessa vez, não por estar desanimado, mas por querer aproveitar ao máximo e aos poucos, comer pelas beiradas.

Quando vi que ia sair uma segunda temporada (com um nome foda; NOMAD: MEGALOBOX 2), resolvi assistir a primeira. É um anime que eu queria assistir já tinha muito tempo, mas sempre aparece alguma outra prioridade e assim vai. Pra não falar que não gostei da primeira temporada, posso dizer que achei bem mediana. Acho um termo razoável. Segue muito a fórmula de Rocky Balboa, e isso eu detestei. Acho que o interessante foi ver uma analogia do quão engessado o boxe é nos dias de hoje, devido a regras e afins, um esporte sem muitas emoções. Tão engessado que, no futuro, são máquinas que lutam, não mais os lutadores. E dai vem a luta final: nenhuma máquina importa, Yuri abandona tudo pelo espirito que há muito se perdeu no esporte.

Outra coisa que acabou me incomodando muito, é o foreshadowing constante da possível morte de Joe. O anime é uma homenagem a Ashita no Joe, os fãs esperavam a morte do protagonista no final, claro. Só que esses momentos são muitos, e dai fica meio óbvio que essa expectativa vai ser quebrada. Apesar de tudo, foi bom, anos depois possibilitou uma segunda temporada, inclusive desvinculada ao mangá de Kajiwara.

O final da primeira é perfeito, no sentido de que nada deixa de ser resolvido ou debatido. Fiquei um pouco intrigado, o que fariam? Pensei que o foco seria algum discípulo de Yuri (o grande rival), seguindo os moldes de Rocky mesmo. Acabei quebrando a cara, apesar de ser temática da série, não chega nem perto de ser um foco, todo o rolo dura uns 2 ou 3 episódios, lá pela metade da temporada.

Começa com Joe vagando por pequenas cidades num deserto, como um nômade mesmo. Um punished Joe, viciado em anti-inflamatórios; algo que eu nunca esperaria vindo dele. Passam-se 5 anos da final do primeiro torneio de Megalobox, e fica meio que uma incógnita do que aconteceu nesse meio tempo com a Team Nowhere. Aos poucos, por meio de flashbacks e alguns diálogos, tudo vai sendo revelado.

E eu acho que ai é que fica interessante. Joe tem que lidar com os erros que cometeu no passado, se desvincular dos vícios que foi adquirindo com o tempo e tentar resolver as mágoas (dele e dos outros). Tudo isso é construído de uma forma muito singela, bonita. Coisa que não esperava de um anime (inicialmente) sobre esporte.

Pela metade, Joe volta para casa, tentar corrigir tudo que fez. Eu pensei, pronto, vai cair a qualidade e voltar a ser Rocky Balboa. Mas quebrei a cara uma segunda vez. Joe agora é muito mais maduro, não é (nunca foi) sobre lutar. As lutas que rolam acabam ficando como segundo plano para aprimorar a história dos personagens, principalmente de Mac, o rival final da temporada.

Há um conto infantil que é mostrado durante os episódios gradualmente, intitulado “O Nômade e o Beija-flor”. Tentei ficar buscando a relação dele com a temática da história, “Quem é o nômade? Quem é o beija-flor?” Inicialmente, estava muito claro que Joe seria o Nômade (pelo nome da temporada e, inclusive, ser a alcunha dele enquanto estava dentro das lutas do submundo), e, consequentemente, Mac seria o beija-flor. Pela terceira vez estava errado. Não é sobre identificar quem é quem. Em alguns momentos, Mac é o nômade, assim como Joe é o beija-flor. Há vezes na vida que somos um, há vezes que somos o outro. Nada é pedra. Esse jogo acaba tornando os personagens muito mais bem construídos durante toda a trama. Me veio a cabeça Monster, do Urasawa, tem algo parecido (não lembro muito bem), envolvendo o escritor de histórias infantis. Enquanto escrevo isso, inclusive, me veio uma vontade louca de reler.

Enfim, faz tempo que não jogo nada por aqui. O fim dessa temporada me deixou muito sentimental, talvez ajudasse escrever sobre.

hoshi no samidareNa nota #9, mencionei que estava lendo Hoshi no Samidare de novo, já há uns dois ou três meses. Agora, escrevo a nota #12 com uns dois meses a mais de diferença. Ou seja, demorei quase cinco meses pra terminar a leitura. Empaquei totalmente nos volumes 4 e 5 (num total de 10). A culpa maior é minha: como já mencionei antes em outras notas, tem épocas que não tenho tanta vontade de ler mangá.

Me coloquei num questionamento que eu não esperava. Hoshi no Samidare sempre esteve entre meus mangás favoritos, desde a primeira vez que li. Depois de 6 anos, precisei pensar se ele realmente estava nesse hall. Não tinha ânimo nenhum para lê-lo. Nenhum. Questionamentos como “será que eu mudei tanto assim?” ou “não é possível que eu tenha achado isso tão bom assim” começaram a surgir.

Acho que até o volume 5, não vi muita coisa de interessante ali mesmo. O ritmo é lento (e, agora que terminei, entendo o porquê de ser lento) e, apesar de ter um humor realmente divertido, não consegue se sustentar pra valer a pena. O que mais me interessou foi a questão da motivação dos protagonistas, que foge do padrão da maioria dos shonen de lutinha: apesar de haver o vilão que deseja a destruição total, Amamiya e Samidare não querem parar o Biscuit Hammer para salvar a Terra, mas para que eles mesmos consigam destruí-la. Acaba que formam-se três forças distintas nesse jogo: Animus, que quer ativar o martelo gigante, a Ordem dos Cavaleiros das Feras, que querem impedir Animus, e, por fim, Samidare e seu leal servo Amamiya, que querem, também, destruir o planeta. Porém, apesar desse jogo tornar tudo mais interessante, não acho que seja o suficiente pra entrar nos meus favoritos.

Dai veio o sexto volume. E puta merda, como eu me enganei feio dessa vez. Uma coisa que eu esqueci completamente, gosto desse mangá justamente pelos atos finais. Uma coisa boa não necessariamente precisa me agradar do começo ao fim. São 10 volumes, é muito difícil manter um ritmo alucinante (e interessante) por tanto tempo. Eu fui ingênuo, isso sim. Do sexto pra frente, li tudo em questão de 3 dias.

As coisas se tornam muito mais interessantes. Agora, o foco maior são os Cavaleiros das Feras (que, até ali, eram quase um segundo ou terceiro plano) e como eles encaram a luta. Individualmente, cada cavaleiro vai imergindo cada vez mais no grupo, expondo suas fraquezas, encarando seus medos e afins. Até que chega um ponto que peças antes soltas tornam-se um componente vital para a sobrevivência conjunta do grupo. Além de tudo isso, há, em paralelo, a continuidade dos planos de Samidare e Amamiya, e cada cavaleiro que se envolve com ambos acaba por tornar tais planos cada vez mais difíceis, até que chega a um ponto em que são impossíveis de serem concretizados. Toda trama cruzada dessas duas facções me deixa completamente fissurado. Como esconder algo de alguém que você confia? Como se preparar para a inevitável traição? Aos poucos, se vê a mudança de Amamiya, deixando de lado todo e qualquer desejo de destruição, substituindo tudo isso por um grande sentimento de amor. E isso é lindo.

Eu poderia me prolongar bem mais falando sobre essa segunda parte, mas não vou ultrapassar a barreira do spoiler. Hoshi no Samidare merece o posto de favorito. Coloquei nessa categoria pois me impactou demais como releitura. Além de toda odisseia da demora, eu chorei demais no final dessa segunda passagem. Na primeira, não cheguei a chorar, me lembro bem disso. É legal ver como muita coisa muda na gente. Agora, 6 anos depois, o fim me tocou bem mais. Tudo bem que eu sou uma manteiga derretida, mas isso é prova o quanto nossas experiências de vida podem modular a forma como consumimos e vemos as coisas. E é um hábito que eu adquiri nesse desafio, reler mangá. Era muito difícil eu pegar e repassar por algo que já fiz, seja filme, livro, o que for. Agora, vejo isso com muito mais importância, e pretendo continuar fazendo muito mais.

#11 – READ A MANGA SERIES YOU CAN FINISH IN ONE DAY – TEKKON KINKREET (33/33)

tekkon 1

Poderia ter posto em outra categoria, mas essa se aplicou demais. Depois de tempos sem me animar com mangá, essa porra me fez voltar a ver algum brilho. E puta merda. Mas que mangá do caralho. Tava me segurando pra não ler tudo e fazer render, mas não teve jeito, foi numa tacada só.

Confesso que os primeiros capítulos não me cativaram tanto. Mas a partir do quarto, talvez quinto, a coisa foi mudando de figura. Já no décimo estava totalmente imerso. A relação de Kuro e Shiro me ganhou demais, aquilo ali é mais que amizade ou família, aquilo ali é o que define a existência de ambos. Tanto que, quando separados, são irreconhecíveis. Kuro se identifica e se protege em Shiro muito mais que em seu eu. E o oposto também é válido. Isso é lindo.

É muito interessante como Kuro, o cérebro da equipe, se perde totalmente depois que decide afastar Shiro da cidade. Não há razão que consiga segurar a perda, a vinda do grande mal (encarnado como o Fuinha) é inevitável.

Nunca tinha lido nada do Matsumoto, apesar de gostar muito da animação de Ping Pong. Logo lerei mais coisa dele, pelo visto vale muito a pena.

tekkon2

tomieFazia tempo que eu não postava por aqui, já tinha escrito um pouco sobre na nota #9, perdi totalmente minha animação pra mangá. E é perigoso. Da última vez que tive isso, foi quando resolvi começar o desafio e ler Bleach. Que atrocidade posso cometer dessa vez, ler Fairy Tail talvez?

Bom, acabei lendo Tomie. Culpa do meu consumismo. Estava vendo uma live do Pipoca & Nanquim, em que a equipe anunciou que restavam pouquíssimas cópias de Rohan no Louvre disponíveis para compra (se eu me lembro bem, 73 cópias) e que não haveriam planos para reposição. Corri e garanti o meu, o Rohan é o meu personagem favorito de JJBA e não podia deixar de ter essa peça na coleção. Acabou que anunciaram na mesma live a pré-venda do volume 2 de Tomie. E, se comprasse junto com o volume 1, ganhava um baita desconto. Não pensei duas vezes, e esse é o estratagema do consumismo.

A questão é: eu não sou o maior fã do Junji Ito. Ou ele acerta em partes, ou ele erra feio. Uzumaki se perde quando deixa de ser formado por capítulos desconexos para virar uma história contínua. Gyo se perde no gore, tudo ali é intenso demais, apelativo, entra o dramalhão, a mistura não fica legal. Ma no Kakera, publicado como Fragmentos do Horror no Brasil pela Darkside, possui um ou dois contos que valem a pena ler, o resto é totalmente desinteressante, nada se salva. E eu já tinha lido os primeiros capítulos do Tomie há muito tempo atrás, e sabia que não é do meu gosto. Quando recebi as edições, achei o acabamento muito bom, e me peguei pensando que tinha comprado justamente pela parte física do livro, e não pelo conteúdo.

Fiquei com raiva. Resolvi sair do limbo de não ler nada de mangá há meses (nem One Piece estou acompanhando, que vergonha) e ler esse para não sentir que joguei dinheiro fora, com o ódio como minha motivação. E deu certo, tanto que terminei. Como são boas algumas surpresas, acabei gostando bastante do título, é a melhor coisa que já li do autor.

Tomie é um organismo macroscópico que funciona com as lógicas moleculares. Como DNA, Tomie tem o impulso primário de reprodução e necessita de todo um maquinário para isso. As moléculas de material genético comandam o comportamento celular para atingir seu objetivo de clonagem, assim como Tomie precisa seduzir os homens e comandá-los a realizar ações absurdas para, no fim, esquartejá-la e espalhar seus pedaços pelo mundo.

Há um ponto nisso tudo, semelhante aos primeiros capítulos de Uzumaki, que torna tudo muito mais interessante. A grande potência do horror da obra não está no sobrenatural, na Tomie em si e em suas deformações, mas sim na loucura dos homens e até onde são capazes de ir. É essa perversão que me deixou realmente assustado, um controle praticamente molecular, não há como lutar contra. Se Tomie aparecesse na minha frente, todo meu organismo ia agir para que eu realizasse o esquartejamento da garota. E isso é assustador.

Uma última consideração, meio desconexa de tudo que comentei até agora. Li em muitos fóruns de teorias sobre o que é a Tomie, e tem muita gente dizendo que ela é uma Succubus e tal. Achei uma merda. Parte da graça é desconhecer a origem da garota, não sabemos nem se o primeiro esquartejamento ilustrado foi realmente o primeiro. Além disso, nem toda sedução de Tomie está ligada ao sexo, há capítulos que essa sedução se move por conta da juventude, ou por conta da maternidade (tanto na posição de mãe quanto na posição de filha), por exemplo.

No final, ter me impulsionado pelo consumismo acabou me trazendo uma boa leitura. Não que seja de todo bom, acabei gastando mais dinheiro, poderia ter lido online. O consumismo me seduz tal qual Tomie me seduziria.