Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro

Parêmias nem tão pequenas, nem tão profundas, sobre a sociedade capitalista

reichstag

A vitória sobre o fascismo, historicamente, não é fruto de recuos ou concessões, antes é resultado da revolução socialista.

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cena

As belas imagens hipnotizam. A natureza reina absoluta com o ser humano sendo mais um elemento ao invés de um agente destruidor. A busca incessante por alimento, as iniciantes trocas comerciais. A primeira impressão é que, da parte dos nativos, não existem modernidades, apenas o conhecimento ancestral de quem, aparentemente, esteve isolado por séculos.

Durante minha primeira imersão no documentário meu principal pensamento era sobre a possibilidade da expedição de Flaherty estar atrapalhando e atrasando as ações e viagens do grupo que estava sendo acompanhado. Mas depois da primeira conversa sobre a obra, ficou óbvio que não era bem assim.

Trenós aparentemente de madeira em um lugar em que não existem árvores, facas de osso, tiras de couro ao invés de cordas, alimentação restrita. Mas o próprio documentário mostra a visita do grupo a um comerciante. O isolamento já não é tão absoluto assim.

A equipe da expedição do diretor estar sempre pronta nas situações mais difíceis também dá uma leve dica de que estamos diante de algum tipo de encenação. O próprio protagonista da obra, pessoa muito aberta e nitidamente não isolado, sabe se portar muito bem perante a câmera.

Dito isso, as dificuldades da vida semi nômade, a caça, a pesca, e o deslocamento, a construção de abrigos temporários, a reutilização de abrigos temporários abandonados, tudo isso está lá, tudo isso está documentado.

Temos um ponto de partida para o conhecimento sobre essa cultura, essa sociedade.

Se o aprendizado não é necessariamente, e quase nunca, direto, linear, com aceleração constante, como uma fórmula newtoniana, esse documentário nos faz entrar na espiral inclinada, tridimensional, que, para mim, é a melhor representação do conhecer.

Avançar a conhecimentos desconhecidos, voltar a conhecimentos dados como certos, mas na realidade incompletos ou falsos, me parece ser a grande contribuição deste documentário.

Nanook, O Esquimó (Robert J. Flaherty, 1922, filme completo, PT/BR)

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card

O atual recuo do proletariado é parte do processo de formação de um tsunami revolucionário que esmagará a decrépita sociedade burguesa e seu poder.

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cartaz

Já no começo, muito rapidamente, vemos o poder em vigorosa opressão, por exemplo, quando o senhor que está assistindo ao desfile é hostilizado por um policial, e, especialmente, a banca de jurados burguesa, branca. Tudo rápido, sutil, mas registrado.

Isso já nos abre uma percepção de que estamos num documentário muito além do registro das atividades e do cotidiano. Nos abre atenção aos detalhes, que nos abrem a uma percepção crítica.

O narrador profissional, interpretando o depoimento de um dos fundadores da escola de samba, Antônio Fernandes da Silveira, o China, me pareceu passar uma maior dinamicidade à obra, que não acredito seria alcançada pela simples intercalação de imagens ou apenas da fala do Sr. China com as imagens selecionadas.

Somos apresentados não só à preparação do desfile, mas também a algumas passagens pessoais de integrantes da escola, em seus cotidianos.

Muito anos depois, é fantástica a atualidade do documentário, mesmo com o aparente controle das burguesias ilegais sobre o processo, sobre as escolas, o que vemos é uma espécie de equilíbrio militar de forças, impedindo uma real vitória de um dos lados.

Músicos, artistas plásticos, trabalhadores que se dedicam à construção do espetáculo, todos são um só corpo.

Mais uma vez, uma rápida passagem para nos chamar à reflexão: um negro em uma liteira carregada por brancos.

Por fim, uma diferença entre esse passado e o presente: se o morro era uma opção aos sem-casa, por conta de não precisarem pagar aluguel, hoje as milícias usufruem de seu provisório poder, encarecendo e dificultando mais a vida de nosso povo.

E do nada, temos uma música do espetáculo Opinião, que subverte o tom de “normalidade” desse documentário. E assim, apresentando o que pode ser tomado como apenas um documentário bem feito, clássico, “normal”, as sementes de um olhar crítico estão espalhadas por toda a obra.

https://www.thomazfarkas.com/filmes/nossa-escola-de-samba/

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imagem

Os sons, seja música, seja os da natureza, unidos às imagens, transmitem tensão, contradição e coexistência (ou harmonia), entre o homem e a natureza, entre o homem indivíduo e o homem coletivizado.

A Natureza em seu esplendor e grandiosidade parece tentar sempre esmagar o ser humano, que também, não esqueçamos, é parte, ainda que transformadora, dela. Por sua vez, os seres humanos são apresentados em seus esforços para dominá-la, ou ao menos sobreviver.

A vila, um pequeno enclave numa das montanhas de uma cordilheira, mostra o humano coletivo (existe humano não coletivo?) transformando o ambiente, usando seus recursos, domesticando animais para sustentá-lo e servi-lo, nas mais duras condições climáticas.

O diretor nos mostra como essa pequena e solitária vila, não está isolada de toda a humanidade, quando apresenta o comboio que leva os rebanhos de carneiros e bovinos. A modernidade aparece na infraestrutura: a estrada e o túnel, reforçados pelos caminhões, carros e ônibus, que se rendem ao comércio e traslado ancestrais dos rebanhos.

Mesmo no momento em que o jovem casal está na festa (provavelmente na cerimônia) de casamento, são levados pela multidão, até mesmo no preparo. A noiva, triste, o noivo por vezes indiferente, por vezes sorrindo, é mostrado em uma sequência que nos dá a entender que ao menos ele terá duas faces em sua vida: o casamento, e a luta pela sobrevivência, contra a Natureza, seja na monotonia dos comboios, seja no divertido transporte de animais desgarrados, por terra, água e neve.

Até mesmo os cães nos apresentam um grau de contradição, com um sendo levado, protegido da chuva e do frio, junto a um cavaleiro; já outro, amarrado e caminhando na beira da estrada.

A festa, como mostrada, é da vila, não dos noivos…

O bailar da ceifa sincronizado, contrasta com o transporte da massa orgânica, em geral instável e montanha abaixo, num misto de controle e aceitação das circunstâncias. Em alguns momentos nos vemos juntos dos trabalhadores com a câmera muito perto e trêmula, mas no geral, apenas observadores.

Jovens, velhos, homens, mulheres, animais… As mulheres aparecem apenas na festa, ou nos preparativos.

O ciclo é construído e fechado nos lembrando da repetição das estações, dos afazeres, da vida. O diretor documenta de fato um viver humano, disfarçando sua manipulação, que se dá pela escolha dos atos, suas repetições, nos permitindo, ainda que limitadamente, um olhar mais amplo do normalmente um documentário nos dá.

https://www.youtube.com/watch?v=itHUgSGYW-o

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GCM

Esse é um debate que tenho acompanhado, sobre a esquerda nacional. Mas cabe aqui também debater localmente essa morte, ou desistência ou abandono das lutas.

Nesse triste domingo, 2 de fevereiro de 2025, testemunhei o abandono das lutas populares pelos “lutadores”. Democratas, progressistas, esquerda, revolucionários. Apenas algumas pessoas presentes, e não organizações ou frentes ou composições ou um encontro de todos frente a uma luta comum.

(Fico contente com minha organização, minúscula ainda, pois de pronto eu e minha esposa estávamos lá, com apoio de nossos dirigentes e camaradas.)

Um grupo de trabalhadores, vindo de um despejo, ocupa outro prédio abandonado no centro de Campinas. Pessoas com um laço orgânico de luta e necessidades, não um movimento. Ocupam um prédio que foi comprado pela prefeitura para beneficiar um oligarca falido. Dinheiro na mão, dinheiro da EDUCAÇÃO usado para beneficiar ricos. Dinheiro que falta na educação da cidade. E assim, muitos oligarcas falidos vão se mantendo às custas do erário público municipal. E a educação em Campinas, “sem recursos”.

Há um decreto de Dário “Saádico” permitindo a imediata desocupação de imóveis públicos. Só há um detalhe: para ser público, depois de vendido, há que se ter o processo consolidado, digamos, o imóvel tem que ser passado “para o nome da Prefeitura”, para ser caracterizado como “público”.

Não é esse o caso, então não cabe à GCM ação de reintegração, muito menos à PM, já que ao antigo proprietário isso não faz mais sentido. Aliás, dinheiro público sendo dado a particulares sem o devido processo burocrático? A mim cheira desídia e corrupção. O mesmo ocorreu com a reintegração feita pela GCM contra o MST, no ano passado, no entorno rural da cidade. Totalmente ilegal, e brutal.

O comandante da GCM responsável pela operação estava totalmente fora de si, louco, essa é a palavra, para ver sangue de trabalhadores, trabalhadoras, crianças e pessoas idosas. Para ele, drogados que poderiam atacar burocratas da prefeitura.

Graças à atuação abnegada de advogados populares, cujo compromisso é com o povo trabalhador, as coisas não foram piores.

Por fim, com a chegada de ambulância e assistência social, os ocupantes foram registrados e transferidos para um abrigo municipal. Repetindo, graças aos esforços dos advogados e advogadas presentes. E também às vereadoras e vereador presentes. Três de seis da bancada de esquerda na cidade.

Essa a situação.

Uma manhã inteira tentando mobilizar mais pessoas e organizações para pressionar e garantir a integridade das pessoas dentro do prédio.

Ninguém mais, além de meia dúzia, isso mesmo, meia dúzia de pessoas. Alertada, a esquerda campineira não teve coragem de sair das suas camas, nessa manhã chuvosa, para se solidarizar a pessoas que estão a um passo de ficar em situação de rua. Pessoas que, espontaneamente, organizam a luta por moradia, sem medo.

Imagino que pelo fato de não estarem sob o cabresto de partido nenhum, são tratados e vistos como “sem dono” mesmo, coisificados, como descartáveis.

Doeu escutar de um advogado que veio ajudar, que “os partidos não querem mais saber”, e ele tem razão.

Às bravas mulheres presentes, dos mais variados matizes, todo meu respeito e admiração pela coragem e pronta disposição para a luta. Também todo respeito e admiração ao advogado Allan que segurou as pontas desde a madrugada (e ao outro advogado, presente e combatente, que infelizmente não memorizei o nome), à advogada Adelaide, que chegou na voadora, ao vereador Romão e vereadoras Paolla e Guida, presentes e combatendo.

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amor

Ela sempre se apresentou misteriosa, difícil, ensimesmada, por isso mesmo fascinante. Bela e elegante, chamou-me a atenção já na pré-adolescência.

Mas eu convivia sem nenhuma pretensão. Apenas convivia, me divertia, e pensava de certa forma entendê-la.

No ensino médio, com os “hormônios em ebulição”, as coisas ficaram um pouco mais difíceis. Era uma paixão, um amor... Mais baseado no passado, do que na atualidade. Apenas observava, outros a compreendiam mais, e flertavam melhor com ela, do que eu era capaz.

Entrando pra vida adulta, estudante universitário, a reencontrei.

Matemática, um grande amor!

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quadro

Esse quadro (The lovers, Jacob Lawrence) foi dado como inspiração para escrever, no curso da Jana Viscardi de minicontos.

Naquela tarde vazia, um paraíso só nosso. Nossa casa, nosso silêncio, nosso sofá desconfortável. Apenas nós dois, entregues a um beijo sem fim. Na cabeça nada; na pele, tudo.

Desse quadro, vendo a vitrola, e o casal caliente, lembrei-me da primeira vez que escutei a voz de minha esposa. Foi por telefone, nos conhecíamos apenas do Orkut, e morando muito longe um do outro.

E nessa tarde sábado, muito melancólica pra nós dois, a música que sempre me vem à cabeça, é o “Tarde Vazia”, do Ira!.

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Representação de passarinhos dentro de uma armadilha cheia de livros.

Uma biblioteca, mesmo a mais simples, pode ser uma arapuca, que ao invés de aprisionar, liberta.

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  • Grandes Esperanças, Charles Dickens
  • As Aventuras de Tom Sawyer, Mark Twain
  • O Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan
  • Em Busca da Curitiba Perdida, Dalton Trevisan
  • Singular Plural, Moacyr Felix
  • Cálculo Diferencial e Integral – Volumes 1 e 2 – Piskounov
  • Obras Escolhidas em Um Tomo, Plekhanov
  • Por Onde Começar, Lenin
  • Vitória a Qualquer Custo, Cecil B Currey
  • Caos – A Criação de Uma Nova Ciência, James Gleick
  • Curso de Física Básica Volume I, Moyses Nussenzveig
  • A Dama do Cachorrinho, Theckov
  • O Anjo Pornográfico, Rui Castro
  • A Guerra Irregular Moderna, Friedrich August Vom Der Heydte
  • Turbo Pascal Avançado, Herbert Schildt
  • O lendário primeiro capítulo – “Conjuntos finitos e infinitos” do volume 1 de Curso de Análise, Elon Lages Lima
  • Tudo que li de Saramago

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