A Morte da Esquerda Campineira

GCM

Esse é um debate que tenho acompanhado, sobre a esquerda nacional. Mas cabe aqui também debater localmente essa morte, ou desistência ou abandono das lutas.

Nesse triste domingo, 2 de fevereiro de 2025, testemunhei o abandono das lutas populares pelos “lutadores”. Democratas, progressistas, esquerda, revolucionários. Apenas algumas pessoas presentes, e não organizações ou frentes ou composições ou um encontro de todos frente a uma luta comum.

(Fico contente com minha organização, minúscula ainda, pois de pronto eu e minha esposa estávamos lá, com apoio de nossos dirigentes e camaradas.)

Um grupo de trabalhadores, vindo de um despejo, ocupa outro prédio abandonado no centro de Campinas. Pessoas com um laço orgânico de luta e necessidades, não um movimento. Ocupam um prédio que foi comprado pela prefeitura para beneficiar um oligarca falido. Dinheiro na mão, dinheiro da EDUCAÇÃO usado para beneficiar ricos. Dinheiro que falta na educação da cidade. E assim, muitos oligarcas falidos vão se mantendo às custas do erário público municipal. E a educação em Campinas, “sem recursos”.

Há um decreto de Dário “Saádico” permitindo a imediata desocupação de imóveis públicos. Só há um detalhe: para ser público, depois de vendido, há que se ter o processo consolidado, digamos, o imóvel tem que ser passado “para o nome da Prefeitura”, para ser caracterizado como “público”.

Não é esse o caso, então não cabe à GCM ação de reintegração, muito menos à PM, já que ao antigo proprietário isso não faz mais sentido. Aliás, dinheiro público sendo dado a particulares sem o devido processo burocrático? A mim cheira desídia e corrupção. O mesmo ocorreu com a reintegração feita pela GCM contra o MST, no ano passado, no entorno rural da cidade. Totalmente ilegal, e brutal.

O comandante da GCM responsável pela operação estava totalmente fora de si, louco, essa é a palavra, para ver sangue de trabalhadores, trabalhadoras, crianças e pessoas idosas. Para ele, drogados que poderiam atacar burocratas da prefeitura.

Graças à atuação abnegada de advogados populares, cujo compromisso é com o povo trabalhador, as coisas não foram piores.

Por fim, com a chegada de ambulância e assistência social, os ocupantes foram registrados e transferidos para um abrigo municipal. Repetindo, graças aos esforços dos advogados e advogadas presentes. E também às vereadoras e vereador presentes. Três de seis da bancada de esquerda na cidade.

Essa a situação.

Uma manhã inteira tentando mobilizar mais pessoas e organizações para pressionar e garantir a integridade das pessoas dentro do prédio.

Ninguém mais, além de meia dúzia, isso mesmo, meia dúzia de pessoas. Alertada, a esquerda campineira não teve coragem de sair das suas camas, nessa manhã chuvosa, para se solidarizar a pessoas que estão a um passo de ficar em situação de rua. Pessoas que, espontaneamente, organizam a luta por moradia, sem medo.

Imagino que pelo fato de não estarem sob o cabresto de partido nenhum, são tratados e vistos como “sem dono” mesmo, coisificados, como descartáveis.

Doeu escutar de um advogado que veio ajudar, que “os partidos não querem mais saber”, e ele tem razão.

Às bravas mulheres presentes, dos mais variados matizes, todo meu respeito e admiração pela coragem e pronta disposição para a luta. Também todo respeito e admiração ao advogado Allan que segurou as pontas desde a madrugada (e ao outro advogado, presente e combatente, que infelizmente não memorizei o nome), à advogada Adelaide, que chegou na voadora, ao vereador Romão e vereadoras Paolla e Guida, presentes e combatendo.

Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro