Nanook, O Esquimó

cena

As belas imagens hipnotizam. A natureza reina absoluta com o ser humano sendo mais um elemento ao invés de um agente destruidor. A busca incessante por alimento, as iniciantes trocas comerciais. A primeira impressão é que, da parte dos nativos, não existem modernidades, apenas o conhecimento ancestral de quem, aparentemente, esteve isolado por séculos.

Durante minha primeira imersão no documentário meu principal pensamento era sobre a possibilidade da expedição de Flaherty estar atrapalhando e atrasando as ações e viagens do grupo que estava sendo acompanhado. Mas depois da primeira conversa sobre a obra, ficou óbvio que não era bem assim.

Trenós aparentemente de madeira em um lugar em que não existem árvores, facas de osso, tiras de couro ao invés de cordas, alimentação restrita. Mas o próprio documentário mostra a visita do grupo a um comerciante. O isolamento já não é tão absoluto assim.

A equipe da expedição do diretor estar sempre pronta nas situações mais difíceis também dá uma leve dica de que estamos diante de algum tipo de encenação. O próprio protagonista da obra, pessoa muito aberta e nitidamente não isolado, sabe se portar muito bem perante a câmera.

Dito isso, as dificuldades da vida semi nômade, a caça, a pesca, e o deslocamento, a construção de abrigos temporários, a reutilização de abrigos temporários abandonados, tudo isso está lá, tudo isso está documentado.

Temos um ponto de partida para o conhecimento sobre essa cultura, essa sociedade.

Se o aprendizado não é necessariamente, e quase nunca, direto, linear, com aceleração constante, como uma fórmula newtoniana, esse documentário nos faz entrar na espiral inclinada, tridimensional, que, para mim, é a melhor representação do conhecer.

Avançar a conhecimentos desconhecidos, voltar a conhecimentos dados como certos, mas na realidade incompletos ou falsos, me parece ser a grande contribuição deste documentário.

Nanook, O Esquimó (Robert J. Flaherty, 1922, filme completo, PT/BR)

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Paulo Henrique Rodrigues Pinheiro – https://bolha.us/@paulohrpinheiro