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title: “Eu | Professor”
date: “2013-03-14”
categories:
– “escola”
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– “reflexao”
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– “moodle”
– “reflexao”
Este texto começou como um post de reflexão, mas acabou evoluindo para um relato de experiência com um teor de detalhamento típico das minhas conversas e nas aulas que ministrei. Vou dividir em momentos para ficar mais fácil.
Em um primeiro momento, comecei dando aula particular, aquelas aulas de reforço para alunos do ensino médio e fundamental. Podia vir qualquer matéria, qualquer idade e grau de dificuldade. Estava disposto a tirar dúvida de questões do livro, lista de exercício ou TD. Inicialmente foram os conhecidos, parentes e depois cheguei a anunciar no jornal. O anúncio era mais ou menos assim: Aulas de reforço. Atendo em domicílio. A minha hora aula era acessível, pois queria pegar clientela, expandir o meu negócio. Ter vários alunos para alcançar a independência financeira fazendo o que sabia fazer – bom, era essa a arma que tinha. Fui à luta. Tive alunos por indicação ou pelo anúncio e todos tinha algo em comum – aulas próximas às provas ou recuperação!
No segundo momento, dei aula em uma associação de moradores de bairro. Cursava uma disciplina de mineralogia na UFC, quando conheci um colega de classe, professor em uma escola particular no bairro Antônio Bezerra, e ele foi uma ponte para entrar na profissão, com diário de classe, elaboração de prova, planejamento de aulas e muitos alunos. Queria ensinar os conhecimentos que tinha adquirido até então e, quem sabe, formar cidadãos conscientes da importância de preservar o meio ambiente através da compreensão de como as coisas funcionam. Eu cursava Engenharia Química mas já estava pensando em mudar para Licenciatura em Química, o que faltava para a minha próxima profissão. A conversa com esse meu colega foi decidida: cara, quero dar aula na tua escola, tem vaga? Ele olhou pra mim como quem escuta algo estranho e sem sentido. Ele perguntou: Hum? Tu quer aula? Tu dá aula de quê? Eu disse: na verdade eu quero começar com aulas de inglês! Ele ligou para a coordenadora e trocou poucas palavras: Fulana, consegui um professor aqui desenrolado que ensina qualquer disciplina!! Na mesma hora eu disse: não, não, não, inglês! Mas não deu tempo, ele disse que eu fosse na escola no dia seguinte às 10h00 para conversar com a coordenadora. Pontualmente cheguei para conversar mas eles perceberam que eu não tinha experiência mas estava disposto a aceitar o desafio. Às 11h00 voltei pra casa com um livro de inglês da 6ª série e providenciei as cópias para que os alunos pudessem acompanhar a minha aula – não almocei, engoli um pouco de arroz, feijão e um pedaço de carne e voltei para o planejamento. Corri para a escola com a aula pronta e as cópias dentro do livro; acabei chegando um pouco mais cedo e encontro a coordenadora. Ela me chama pra sala dela e me entrega um livro de literatura com uma página marcada e diz: professor, estou com um pequeno problema e gostaria da sua ajuda. A professora de Literatura faltou e o senhor poderia ficar no lugar dela? Nesse momento, pego de surpresa, sem experiência alguma, disse que não tinha problema, devolvi o livro de inglês que havia trocado pelo meu almoço juntamente com as cópias e recebi o livro de literatura. Perguntei quando eu começaria e ela respondeu: os alunos estão na sala! É ali, procure a sala do primeiro ano. Não me contive e explodi: professora, eu não tenho condições de assumir a aula agora, não sei do que se trata o assunto, sou aluno de engenharia química...ele me interrompei e disse algo que me fez compreender a situação e fiquei calmo: professor, você já passou no vestibular, não tem nada que você não saiba sobre o assunto que está nesse livro. Respirei e concordei com ela, eu era o melhor aluno do Colégio Lourenço Filho e estava cursando engenharia química na UFC. Fui levado a uma frase que um professor de Fenômenos de Transporte 2 havia nos dito em sala de aula – que por sinal desatualizada – ˜Vocês são 1% da população brasileira só por estarem aqui”. Peguei o livro e fui pra sala de aula. Comecei a conversar com eles sobre onde eles haviam parado e confirmei a página que a coordenadora havia marcado, exatamente onde ele tinha deixado – acho que ela estava substituindo a professora que não vinha há dois meses – e dei continuidade ao assunto que era as escolas literárias. Ao término da aula ela me perguntou se eu queria voltar no dia seguinte para dar aula de português e depois redação. Aceitei. Isso durou dois meses de aula, mais dois meses ligando pra escola tentando receber o meu dinheiro! Eu já tinha ganhado muito: experiência em sala de aula.
No terceiro momento ministrei aula de química no Ensino Médio da Rede Pública. Aluno do sétimo semestre do curso de licenciatura em Química, procurei quatro escolas públicas no final de 2007. Havia um tal de artigo nove, presente no edital de 2006, que permitia que as escolas selecionassem professores temporários para cobrir carências deixadas por licenças médicas, desistências, etc. Voltei à sala de aula com aulas de Química para primeiro e segundo ano na EEEP Joaquim Nogueira e antes de “encarar” a primeira aula, entrei em contato com um colega, que foi o meu professor do segundo ano do Ensino Médio e, depois colega de sala na faculdade – professor há 20 anos! A dica era começar conversando com os alunos e só na segunda aula iniciar a matéria. Fiz o contrário, não conversei com eles, fui direto ao assunto!
Na minha primeira aula, uma aluna do primeiro ano, se levantou da cadeira, se aproximou com um caderno e lápis e perguntou: professor, o senhor tem namorada? Pensando em como responder, lançou outra: O senhor tem Orkut? E depois dessa, outras clássicas surgiram como: posso ir beber água? Posso ir no banheiro? Preciso beber água para tomar remédio, tenho que ir na secretaria, etc. Olhei pra porta e pensei: vou voltar para a faculdade e rever tudo, acho que me ensinaram teorias de aprendizagem, psicologia do adolescente, prática de ensino 1 e 2, estrutura do ensino fundamental e médio, entre outras que davam uma boa base teórica mas bem distante da prática necessária para começar a dar aula – não é difícil conseguir uma vaga para ensinar Química, sempre é bem vindo nas escolas.
Depois de seis meses dando aula, o diretor Antônio Carlos me falou sobre uma seleção para monitores do Projeto e-Jovem, da Secretaria de Educação, que eu nem conhecia. Ele disse que eu desse uma olhada no site do CENTEC sem demora pois as inscrições estavam terminando. Fiz a seleção, passei e quando me perguntaram qual escola eu gostaria de ser lotado, expliquei que seria o Joaquim Nogueira porque já estava dando aula na escola, era perto da minha casa, etc. Mas o nome da escola não constava na lista e eu insisti bastante porque o diretor havia me garantido que a escola teria o projeto em dois turnos. Então, anotaram o nome no final da lista e me disseram que iriam confirmar. Como eu trabalhava na escola, o coordenador pedagógico me falava que tinha vontade de ampliar para três turnos!
O quarto momento, em Agosto de 2008, iniciei minhas atividades de monitor do e-jovem e aprendi a implantar um servidor proxy, já que o cenário era favorável e exigia uma solução para acelerar a navegação. O Tarcísio que era responsável pela área de TI do CENTEC, desenvolveu uma solução proxy para atender ao projeto e-jovem e um técnico foi instalar na escola. Fiquei curioso e aprendi, durantes noites de tentativas a configurar um servidor proxy utilizando o Brazilian Firewall. Faltava apenas um link de internet adequeado para os meus testes. Encontrei, por um terço do valor da minha bolsa, uma oferta de internet 3G e contratei o serviço. Passei a carregar um servidor, um netbook de 7”, um modem e alguns cabos para a escola todos os dias. No domingo, com uma boa internet, “cacheava” as webaulas da semana inteira. Deu certo! Cheguei a chamar atenção dos técnicos que atendiam aos chamados da escola e, também, à coordenação do projeto. Fui convidado a continuar como supervisor depois que terminasse a monitoria e colasse grau. Fui direcionado a capacitar professores do LEI para utilizaram o portal ThinkQuest e fomentar a competição nacional de websites, vontade do secretário adjunto de educação. Ao todo, trabalhei por um ano no projeto.
No quinto momento, continuei trabalhando para a educação pública estadual só que mais próximo da tecnologia da informação: Coordenador de Laboratório de Informática. Em 2010, tive a oportunidade de implantar a plataforma Moodle em um plano de hospedagem compartilhada (Godaddy.com) contratada com as minhas próprias custas, sob o domínio http://digite.me. Como tínhamos um problema constante com a internet da escola, tive que implantar o ambiente localmente, fiz os ajustes necessários e trabalhamos com fóruns, entrega de atividades pela plataforma, etc. Isso tudo com o apoio dos colegas professores Jaborandi (Física) e Rocha (Filosofia/Sociologia). O resultado foi apresentado como meu trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Administração e Segurança de Sistemas Computacionais na Estácio/FIC. Ao final de 2011 desativei o servidor local e passamos a utilizar apenas a cópia do servidor contratado com acesso restrito apenas para alunos até 2013; a partir de uma nova visão de aproveitamento de todo o trabalho publicado, tornei acessível pela internet para o o público em geral e fiz uma apresentação na FLISOL com o intuito de divulgar o meu trabalho e atrair visitantes. O meu plano de hospedagem não permitiu atualizações após a versão 1.9.10 o que deixou o moodle sem correções de vulnerabilides. Em março de 2015, comecei a migrar o conteúdo para o portal e para o blog, utilizando o CMS Joolma! e o Wordpress, respectivamente.
No sexto momento, em 2011, assumi um emprego de professor do curso de Informática, ministrando inicialmente aulas de Sistemas Operacionais, Redes de Computadores e Arquitetura e Manutenção de Computadores. Migrei o ambiente de aprendizagem para a DreamHost(informe o código EMANOEL para ganhar $ 50,00 de desconto nos planos bienais e $ 30,00 nos planos anuais. Criei o domínio http://emanoel.pro.br e deixei de lado o http://digite.me porque não foi fácil assimilar o domínio pelos alunos, ainda que eu escrevesse no quadro.
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Prof. Emanoel[/caption]
Muitos deles escreviam algo do tipo: “digite.me.com.br”. Percebi que a força do com.br era determinante. Além do ambiente de aulas, também criei um wiki, este blog, fotos e notas na web com tudo disponível 24hs para os alunos. Em 2013, além de ministrar aulas, atuei como orientador de estágios captando vagas em empresas (concedentes), cuidando de toda a documentação necessária, além de orientação do TCC dos alunos. Em 2014, fui convidado pelo diretor escolar Prof. Carlos Segundo, para ocupar a função de coordenador do Curso de Informática onde permaneci por 4 meses, o quarto coordenador foi o colega Prof. Alex.
Sétimo momento. Assumi a disciplina de informática Básica aplicada em duas turmas do Grau Técnico à noite: radiologia e administração. História e conceitos fundamentais, internet, editor de texto, editor de planilhas e gerenciador de apresentações. Foi utilizado ferramentas de escritório como Google Apps e MS Office instalado no disco. Além disso, uma instância gratuita do Moodle em moodlecloud.com.
Emanoel Lopes