Ontem, estive editando algumas fotografias. Entre elas, havia uma que tirei há alguns anos, de uma pessoa que sempre me cobrava para que eu a enviasse. Não éramos amigos íntimos, talvez apenas conhecidos; saímos e bebemos algumas vezes, fomos a duas ou três festas juntos, e ele sempre aparecia na praça de vez em quando. Frequentemente, nos cruzávamos no ônibus da linha 213.
Hoje, pela manhã, recebi a notícia: “Munição morreu.” “Munição”. Apesar do apelido bélico, Diego Felipe era um garoto tranquilo, sempre com um sorriso no rosto e cheio de planos e expectativas para a vida. Ele compartilhou alguns desses planos comigo entre goles de Cantina da Serra e piadas ruins. Agora, ele se tornou uma estatística de acidente de trânsito. Para os pais, sempre será um filho; para os amigos, uma memória. Para os conhecidos, uma vaga lembrança. Para mim, uma fotografia que nunca será entregue.
Seu corpo agora se decompõe, e os átomos que o formam irão nutrir a terra, os insetos e os vermes. E quem sabe, daqui a alguns bilhões de anos, esses mesmos átomos voltem a ser uma estrela, como já foram bilhões de anos atrás.
Ser solteiro possui singularidades que, em certa medida, trazem até mesmo algumas vantagens, como se tornar um “chef francês de cozinha sofisticada”. Quanto à palavra “gourmet”, tenho certo ressentimento porque, em sua essência, significa alguém que dedicou-se a explorar as nuances dos sabores, desenvolvendo um paladar refinado e único. Infelizmente, tornou-se moda e agora é difícil encontrar um biscoito ou sorvete que não seja cobrado o dobro, ou até mesmo o triplo, simplesmente porque é considerado “gourmet”.
Voltemos à vida de solteiro. Em uma noite de fome, depois de horas evitando a louça, finalmente se rende e prepara o prato mais tradicional da vida solteira: aquela refeição cujo sabor é potencializado com a água quente do chuveiro, já que o gás acabou no mês anterior. Corta tomates e cebolas, picoteia salsinha, adiciona alhos amassados com ajuda de uma colher e, claro, não pode faltar a malagueta. O aroma envolve o pequeno espaço de 30 metros quadrados, que já foi o maior loft que conseguiu alugar com o salário de estagiário. Antes de desfrutar do sabor maduro e picante, é necessário tirar uma foto para compartilhar nas redes sociais, pois mais importante do que a comida em si, são as curtidas.
Escrevi este texto seguindo uma corrente/thread nas redes socais – não sei qual – sobre a qual uma amiga havia mencionado comigo.