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from Blog do Rodrigues

Hoje, vou falar um pouco sobre o Fediverso, um termo que talvez seja conhecido por alguns, mas nem sempre compreendido em sua totalidade. Normalmente, as pessoas buscam alternativas às redes sociais tradicionais quando já se sentem frustradas com o autoritarismo das grandes empresas de tecnologia e seus proprietários excêntricos, como Mark Zuckerberg, Pavel Durov e Elon Musk. É nesse cenário que muitas delas encontram refúgio no Fediverso.

Não pretendo fornecer uma explanação técnica repleta de termos complexos, pois meu objetivo é simplesmente relatar minha própria experiência nas redes federadas, de forma acessível a qualquer pessoa, assim como eu.

Tentarei explicar de forma simples esse tal de redes federadas e descentralizadas, falarei sobre as instância e a importância das redes federadas, mostratrarei como ingressar do jeito certo e também deixarei uma lista das redes que uso no fediverso com algumas dicas.

O que é o fediverso, o universo federado?

O Fediverso é um conjunto de redes sociais descentralizadas, onde diferentes servidores, conhecidos como instâncias, se comunicam entre si graças ao protocolo ActivityPub. Imagine a sensação de rolar sua timeline e receber postagens de diversas plataformas, como YouTube e Twitter, podendo interagir com todas elas. Essa é a experiência proporcionada pelas redes federadas.

É muito comum, por exemplo, estar no Mastodon e receber uma publicação diretamente do Friendica, podendo ainda interagir com o conteúdo. Algo impossível de se fazer nas redes sociais tradicionais, controladas por grandes empresas.

Entendendo o conceito de descentralização e instâncias

Enquanto as redes sociais tradicionais são altamente centralizadas, com todos os usuários concentrados em um único servidor controlado por uma grande empresa, as chamadas bigtechs, as redes do fediverso apresentam uma arquitetura descentralizada.

No fediverso, os usuários estão distribuídos em diversos servidores, cada qual formando sua própria comunidade, com características e regras próprias. Esses servidores se comunicam entre si, permitindo que os usuários interajam independentemente da plataforma em que estão.

Essa estrutura descentralizada permite que o fediverso seja gerido tanto por pessoas físicas quanto por instituições, oferecendo maior autonomia e diversidade de abordagens em comparação com os modelos centralizados predominantes na internet.

Em qual rede do fediverso devo iniciar

Bom, a rede social alternativa que você deve escolher depende do seu gosto pessoal e da rede que você pretende deixar. Por exemplo, se você quiser sair do Twitter, pode migrar para o Mastodon, que é uma rede de microblogging similar. Se você procura uma alternativa ao Instagram, o Pixelfed pode ser uma boa opção. Para uma plataforma de macroblogging semelhante ao Facebook, o Friendica pode ser interessante. Já o Lemmy é uma alternativa ao Reddit.

Se o foco é compartilhar vídeos, o PeerTube é uma alternativa ao YouTube. Existem muitas outras redes sociais alternativas, mas vou me concentrar apenas naquelas com as quais tenho experiência prática.

Instâncias: como criar uma conta no fediverso?

Uma das coisas mais importantes para ingressar no fediverso, independentemente da plataforma, é ter conhecimento sobre as instâncias. É importante lembrar que o fediverso é uma rede descentralizada, o que significa que existem vários servidores (instâncias) mesmo dentro da mesma rede. Cada instância possui suas próprias características e práticas de moderação.

Por exemplo, você poderá encontrar instâncias focadas exclusivamente na causa LGBTQIA+ ou até mesmo com vieses políticos específicos. Portanto, é recomendável pesquisar pelas instâncias de língua portuguesa para ter uma experiência mais alinhada com suas preferências.

No entanto, é importante ressaltar que todas as instâncias do fediverso se comunicam entre si, de forma similar ao funcionamento do e-mail. Assim como um e-mail enviado de uma conta do Gmail pode ser recebido em uma conta do Protonmail ou do Outlook, as diferentes instâncias do fediverso também podem interagir umas com as outras, independentemente da plataforma específica.

  • Mastodon

    • Plataforma de microblogging similar ao X-Twitter.
    • Essas são as instâncias mastodon que eu indico, sendo que as três primeiras são brasileiras a última é a instância oficial não indico muito porque tem muito estrangeiros:
    • bolha.one
    • bolha.us
    • ursal.zone
    • mastodon.social
    • App para acessar sua conta Mastodon: Moshidon
  • Lemmy

    • Agregador de links melhor alternativa ao Reddit. Essa plataforma é focada em comunidades sobre diversos assuntos.
    • Essas são as instância Lemmy que eu indico:
    • bolha.forum
    • lemmy.eco.br
    • App para acessar sua conta Lemmy:
    • Eternity
  • Friendica

    • Plataforma de microblogging com leves “semelhanças” com o facebook.
    • indico essa instância:
    • bolha.network
    • libranet.de
  • Writefreely

    • Plataforma simplista para criação de blogs, notas ou diário.
    • Essa é a instância writefreely que indico:
    • bolha.blog

Liberdade de expressão e censura

As redes federadas e descentralizadas vem ganhando grande notoriedade justamente por proporcionar mais liberdade aos seu usuários e maior resistência à censura, essa características já despertou a atenção até mesmo da Meta que optou por federar o Threads,

Federação: significa que diferentes redes independentes podem se comunicar entre si. Imagine várias redes sociais diferentes, cada uma com suas próprias regras, mas todas podem conversar e compartilhar informações umas com as outras.

Descentralização: significa que o controle e os dados não estão em um único lugar. Em vez disso, eles estão espalhados por vários pontos. Isso significa que não há um chefe único ou ponto central que controla tudo, o que torna o sistema mais resistente a falhas e censura.

— hoje muitas pessoas já usam o BlueSky, que também é uma rede federada, mesmo sem entender sobre esse conceito, então espero ter ajudado.

 
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from Blog do Rodrigues

O que está ocorrendo no Rio Grande do Sul é um alerta urgente, evidenciando a necessidade premente de não mais confiar exclusivamente no agronegócio e na influência política da extrema direita para moldar o futuro do nosso país.

Os recentes eventos no Rio Grande do Sul destacam a urgência de defendermos de forma mais incisiva uma agricultura sustentável e de combatermos o atual modelo destrutivo do agronegócio.

Embora alguns possam questionar a politização da tragédia no estado gaúcho, é crucial apontar os responsáveis para evitar que continuem agindo impunemente. As mudanças climáticas desempenharam um papel significativo, porém, a postura negacionista da extrema direita no governo estadual ignorou alertas e dados apresentados em um estudo desde 2015.

As questões ambientais estão se tornando cada vez mais relevantes e debatidas, e não é algo distante no futuro, mas sim uma realidade iminente. Esses temas têm um impacto significativo, inclusive no cenário político, e é essencial estarmos preparados para desmistificar a narrativa muitas vezes inventadas e veiculada pela mídia, que vem retratando o agronegócio como a táboa de salvação da economia brasileira.

O agronegócio é auto-sustentável?

O agronegócio tem sido um dos principais responsáveis pela degradação ambiental, devido ao desmatamento em larga escala, que causa erosão do solo, e ao uso excessivo de agrotóxicos e fertilizantes, que contaminam as águas e o solo. Essas práticas não apenas comprometem a integridade do meio ambiente, mas também a saúde humana e a biodiversidade. É um erro grave chamar essa forma de produção de “auto-sustentável”, pois ela não apenas não é sustentável, como também é uma ameaça à própria sobrevivência do planeta.

Fernanda Savicki, engenheira agrônoma e pesquisadora da Fiocruz, explica que o 2-4D é um herbicida de ação hormonal: “Age do mesmo modo em outros organismos vivos, inclusive nós humanos. saiba mais

O agronegócio carrega o país nas costas?

A afirmação de que o Brasil depende exclusivamente do agronegócio para ter um PIB significativo é uma mentira descarada. Um estudo publicado pela Fundação Friedrich Ebert em setembro de 2021 revela a verdadeira participação do setor agrícola no PIB brasileiro. De acordo com o estudo, que apresenta uma série histórica de 2002 a 2018, a contribuição do agronegócio para o PIB é irrisória em comparação com outros setores. Em média, o agro contribui com apenas 5,4% do PIB, enquanto o setor industrial contribui com 25,5% e o setor de serviços com 52,4%. Esses dados desmente a ideia de que o Brasil é um país que depende exclusivamente do agronegócio para seu crescimento econômico. Saiba mais

O agro é o motor do país?

Nos deparamos com outra mentira semelhante à anterior, e a resposta anterior serviria muito bem aqui também. No entanto, gostaria de fazer uma outra pergunta: não seria o Brasil o motor do agro? Na verdade, é evidente e flagrante que o agronegócio depende fortemente de subsídios do governo federal para sua sobrevivência, além de vários benefícios fiscais, como isenção de impostos sobre exportações e ITR com alíquota congelada há mais de 40 anos. É interessante notar que, todos os anos, o Brasil deixa de arrecadar cerca de R$ 14,3 bilhões em favor do agronegócio. Então, quem é o motor de quem? Quem pararia de funcionar sem o outro? Saiba mais

 
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from Blog do Rodrigues

Desde sua ascensão ao poder em 2018, Andrés Manuel López Obrador, também conhecido como AMLO, assumiu o cargo de presidente do México e se destacou por suas políticas sociais voltadas para os pobres e trabalhadores. Seu partido é o MORENA (Movimento Regeneração Nacional).

Os cidadãos mexicanos irão às urnas em 2 de junho deste ano de 2024. Devido ao sistema eleitoral mexicano, que não permite a reeleição, Cláudia Sheinbaun é a candidata apoiada pelo presidente López Obrador. Sheinbaun é uma cientista política que atuou como chefe de governo da Cidade do México de 2018 a 2023. Além disso, ela é uma líder da esquerda e tem grandes chances de se tornar a primeira presidente mulher do país.

De acordo com as últimas pesquisas de opinião, Sheinbaun está em uma posição mais favorável nas intenções de voto em comparação com a candidata da oposição, Xóchilt Gálvez. Sheinbaun conta com aproximadamente 59% das intenções de voto, enquanto Gálvez possui cerca de 36%.

 
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from Blog do Rodrigues

O “País Sul” deveria ter sua economia baseada no agronegócio e na exportação de commodities, porém sem o protecionismo do estado brasileiro, isso mesmo, quem vive do agronegócio está sujeito aos efeitos climáticos e meteorológicos, e sem o guarda-chuva do governo os prejuízos seriam exorbitantes. Ninguém fala, mas o Brasil deixa de arrecadar todo ano $R 14,3 Bi em prol do bém-estar do agronegócio, o Sul independente teria que aprender a viver sem essa proteção.

Outro grande problema seria a crise energética, sim a usina hidrelétrica de Itaipu, responsável por abastecer as regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, logicamente que continuaria do Brasil levando o suposto “País Sul” a enfrentar grandes dificuldades energéticas.

No suposto “País Sul” o Paraná representaria 38% da população do “país”, o Rio Grande do Sul representaria 37,8% da população e 48% do território já Santa Catarina 25,4% da população.

Não querendo tratar a situação do Rio Grande do Sul com desdém, sabemos que é algo sério e que o governo brasileiro e todo o Brasil já está se mobilizando em socorro do estado, mas como seria isso se o sul fosse independente?

ATENÇÃO: Qualquer ação que vise desmembrar o território nacional ou subverter a ordem política e social estabelecida pela Constituição Federal é considerada ilegal e passível de punição

 
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from Blog do Emanoel

Explorando as ferramentas da Bolha. Em busca de utilizar as ferramentas disponíveis na Bolha.tools, comecei a explorar cada uma para encontrar aplicação no mestrado em Tecnologia Educacional.

  • Mermaid – Criação de gráficos através da mermaid syntax. Dá para importar gists, assim posso versionar os gráficos que irei utilizar na minha dissertação? Interessante!
  • Overleaf – Ainda não tem os modelos, vou precisar importar do overleaf.com talvez.
  • HedgeDog – editor de notas online com muitos recursos. Achei bem completo. Vou usar!
 
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from notamental

Checado o SPF de um domínio.

spfquery --scope mfrom --id contato@gutocarvalho.net --ip 45.63.2.183 --helo-id mail.gcn.sh

O binário é nativo do mac e pode ser intalando no linux via gerenciador de pacotes.

 
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from João Carlos

Finalmeeeeente eu terminei esse carinha. Tudo começou em um post meu lá no Tabnews. Eu perguntava se alguém conhecia uma comunidade para encontrar projetos open source brasileiros para colaborar. Ninguém conhecia uma, e tinha gente naquele post compartilhando seus projetos até, mostrando que tinha essa vontade.

Então, como bom arteiro e programador que eu sou, decidi fazer o meu próprio, que demoraria algumas semanas ou um mês no máximo

(isso durou uns 5 meses)

O resultado final ficou bem satisfatório. Mesmo tendo que cortar algumas coisas, e ter que me segurar para não adicionar mais bobeirinhas. O projeto tá aí, tá lançado, e tá pronto.

A stack é extremamente simples (a ideia desde o começo era simplicidade em tudo), é um site estático, com um pré processador gerando as páginas com os projetos e tals

Eu tive a decisão meio duvidosa de usar o bootstrap studio, porque odeio ao máximo desenvolvimento web, e estou muito por fora de padrões, boas práticas, o que precisa colocar no cabeçalho para fazer a bagaça funcionar em mobile. Mas no final foi bem útil, mesmo que precisei me virar muito para me adaptar com ele, e me deu o que precisava

Difícil foi processar os dados dele. Para maior flexibilidade, eu usei lua puro para fazer isso. ficaria difícil usar um pré-processador como hugo porque o bootstrap studio me limitaria muito na questão de criar os templates. Então usei lua, e uma biblioteca para fazer o parse do HTML, e tudo fluiu muito bem

A hospedagem tá sendo feito no GitLab pages, e com o domínio deles também. Se o projeto pegar mais tração eu posso comprar um domínio .com.br, e usar uma CDN melhorzinha. Mas eu quero bota ele pra fora esse MVP logo, e ficar escovando bits depois se precisar.

Em geral tô bem feliz de ter programado um negócio publico, para outras pessoas usarem. Não ser um desafiozinho bobo, que dura uma semana só.

O site é: joao620.gitlab.io/meu-projetinho. lá tem algumas informações como adicionar os seus, os meus projetos para demonstrar como fica, e bastantes bugs que eu fingir não existir para lançar ele logo :P (Usem no modo escuro, eu acho bem mais bonito)

 
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from notamental

Se quiser habilitar ou desabilitar o sshd

sudo systemsetup -getremotelogin
sudo systemsetup -setremotelogin on
sudo systemsetup -setremotelogin off

Se quiser iniciar, reiniciar ou parar o serviço sshd

launchctl start com.openssh.sshd
launchctl stop com.openssh.sshd
launchctl restart com.openssh.sshd
 
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from Blog do Emanoel

No arquivo de inventário do Ansible, estou utilizando apenas os IPs dos hosts e preciso de um alias para que sejam identificadas apenas pela posição de suas mesas. Ex: 243, 224, 331 etc.

Pois, do jeito que está, preciso saber o IP da máquina para atingir cada máquina.

A documentação mostra exemplos. Fazendo a transcrição, seria:

243 ansible_host=10.102.227.xx

Onde:

243 é a mesa (alias), seguido do atributo ansible_host que recebe o ip.

Assim, podemos utilizar o alias ao invés de saber o IP.

 
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from Covil do Oliver

Quem guardará os guardiões?

Eu tenho muito apreço pelo conhecimento que eu desenvolvi ao longo do tempo, inclusive e principalmente no que tange a ativismo e causas. Mas ao mesmo tempo eu tenho estado muito cansado.
Eu sou liderança em uma Associação de promocao e suporte aos direitos na neurodivergencia, portanto cuido de outros, mas e daí, quem cuida de mim? É complicado viver como eu vivo. Dando de mim sem ter tempo para repor. Tudo onde muito se tira e nada repõe faz falta

 
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from Sabedoria do Povo

Traduzido em 6 de março de 2024 pelo Projeto Sabedoria do Povo e publicado originalmente por Matilda Dow no site da IWW UK no dia 13 de agosto de 2023

Cada local de trabalho é diferente, mas isso não significa que você não possa formar um sindicato nesse local. A companheira de trabalho Matilda explica que muitos de nós evitamos nos organizar em nossos locais de trabalho racionalizando que nosso local de trabalho é “excepcionalmente ruim” para nos organizarmos. Mas isso é produto do medo e da impotência. Quando reconhecemos isso e obtemos o apoio de outros organizadores, cada um de nós pode romper esta barreira, não importa onde trabalhemos.

Uma das coisas com que sempre me deparei ao procurar outros membros da IWW ou outros trabalhadores, amigos ou conhecidos para incentivar a organização no local de trabalho é uma espécie de “excepcionalismo” em relação ao seu próprio local de trabalho.

“Meu local de trabalho”, as pessoas costumam dizer, “é impossível de organizar”. As pessoas então apontam várias características do local de trabalho, como colegas conservadores, contratos temporários, alta rotatividade ou “falta de interesse” dos colegas como prova. A lógica é que essas características fazem com que esse local de trabalho seja fundamentalmente diferente de qualquer outro local de trabalho mais organizável em que haja potencial para uma campanha.

“Simplesmente não há esperança aqui!”

Mas é claro que qualquer pessoa em qualquer local de trabalho pode encontrar motivos pelos quais seu trabalho específico é “excepcionalmente ruim”. Às vezes, os motivos de pessoas diferentes podem se contradizer. Por exemplo, em uma conversa que tive com dois amigos em locais de trabalho diferentes, um deles disse:

“Não há esperança em meu lugar. A rotatividade é muito alta e ninguém quer permanecer na empresa por toda a carreira.”

No entanto, outro disse:

“Não há lugar para um sindicato em meu local de trabalho. Os funcionários estão lá há anos e aceitam o as coisas como são”.

Qual seria o ideal hipotético para esses trabalhadores se organizarem? Um local de trabalho com rotatividade, mas sem muita rotatividade? Bem, o fato é que não existe um local de trabalho ideal que não tenha algo que o torne “excepcionalmente ruim”, porque esse não é um argumento racional. É uma resposta ao medo e ao trauma. Esses trabalhadores estão identificando desafios únicos em seu local de trabalho, mas essa é uma informação paralisante, pois eles já acham que uma campanha sindical não é possível.

Isso me faz lembrar de meu próprio histórico de depressão. Quando eu estava deprimido, os amigos me davam conselhos e eu descobria que sistematicamente invocava motivos pelos quais o conselho não funcionaria, como uma espécie de desamparo aprendido que prejudica a mim mesmo.

Isso me faz lembrar de meu próprio histórico de depressão. Quando eu estava deprimido, os amigos me davam conselhos e eu descobria que sistematicamente invocava motivos pelos quais o conselho não funcionaria, como uma espécie de auto-sabotagem que, sem esperança, aprendi.

Uma técnica que usei na tentativa de superar isso é reformular as peculiaridades de um local de trabalho como fatores que também poderiam ajudar uma campanha. Recentemente, eu estava conversando com um técnico de emergência médica (EMT) que estava lamentando as condições de trabalho. Ele mencionou, quase palavra por palavra, as duas linhas de raciocínio acima. A avaliação desse trabalhador era de que a equipe em seu local de trabalho era formada por universitários novatos, ansiosos para seguir em frente e começar uma carreira, e que provavelmente só ficariam para ter experiência suficiente para entrar nos serviços de saúde privados, ou por paramédicos mais velhos e experientes que, fundamentalmente, não queriam se mexer.

Organizar-se nesse local de trabalho era “singularmente impossível”!

Minha resposta a isso foi tentar mostrar como esses dois grupos, de fato, se complementam e ambos podem ser bons organizadores. Os graduados em medicina podem ter contatos em cenas ativistas locais. Eles podem estar interessados em criar uma carreira para si mesmos e têm um fogo e uma energia que os funcionários mais velhos podem precisar de mais esforço para acender. Por outro lado, os funcionários mais experientes têm um motivo muito bom para querer melhorar o local de trabalho e têm uma continuidade e um histórico que os tornam extremamente adequados para treinar novos membros. Além disso, eles se lembram de “antes disso ser uma merda”.

Essa forma de ressignificação é bastante semelhante às técnicas psicológicas para lidar com a depressão e outras formas de pensamento desordenado. Isso não é coincidência! O local de trabalho, por meio de suas estruturas e patrões, busca intencionalmente estimular a conformidade por meio de um sentimento de medo e uma ilusão de impotência. Ele é estruturado como uma hierarquia ditatorial em que o patrão tem um enorme controle sobre a sua vida e exerce esse controle por meio do seu supervisor direto. Você é sempre vigiado por um circuito fechado de televisão. Sua eficiência é monitorada por meio de metas de desempenho. Você é cronometrado por um relógio de ponto. Você está constantemente cercado pelo marketing e pela marca do local de trabalho. Você deve usar um uniforme.

Tudo isso gera uma sensação de que a empresa tem poder e você não. Outros locais de trabalho são mais distantes, e essa forma de propaganda psicológica não é tão registrada quando você não passa grande parte de sua vida sob o comando de alguém nesse local. Portanto, quando outro local de trabalho se organiza, pode ser muito fácil desconsiderar isso como uma situação em que eles obviamente tiveram muito mais facilidade do que você. Eles não tiveram de lidar com os mesmos desafios específicos que você teria de enfrentar se tentasse fundar um sindicato. Essa distância emocional mistifica outros locais de trabalho e cria a impressão de que as campanhas sindicais ou os organizadores são “especiais”. Não é algo que qualquer um possa fazer. Ou então, é algo que só pode ser feito em um local de trabalho “fácil” ou em uma circunstância perfeita, mitificada.

Para superar esse terror, temos de comparar a realidade material do local de trabalho com nossas ideias sobre ele e confrontar a maneira como ele nos treinou para percebê-lo de forma diferente. Talvez isso possa ser feito por meio de conversas com um amigo externo, conforme mencionado acima, ou de uma discussão com outro funcionário no local de trabalho. Talvez isso possa ser feito por conta própria. Essa reformulação não significa necessariamente transformar os aspectos negativos em positivos, mas sim pensar em como as características específicas de um local de trabalho mudam a forma como você pode operar. Quais métodos serão eficazes e quais podem não ser. Não existe um método único para uma campanha sindical.

De qualquer forma, porém, todo local de trabalho terá seus desafios. Esses desafios serão diferentes dos de outros locais de trabalho. Isso não é algo que deva ser temido; apenas o obriga a ser criativo.

Exemplos

Abaixo está uma lista de alguns motivos clichês pelos quais os locais de trabalho são “excepcionalmente ruins”. Eles não representam nenhum local de trabalho específico, mas servem como exemplos de como as táticas de organização podem mudar dependendo das condições materiais do local.

“Meus colegas de trabalho são conservadores e não vão querer se organizar.”

Muitas vezes, mesmo as pessoas que se identificam como conservadoras politicamente podem e ainda assim estarão interessadas em se organizar – desde que você não use muitos chavões anarquistas! Organizar-se com essas pessoas pode incentivá-lo a formar relacionamentos próximos para desafiar lentamente os preconceitos delas, em vez de rejeitá-las completamente devido a eles. Quando a campanha for lançada, você poderá melhorar significativamente a opinião das pessoas sobre a ação coletiva. O Daily Mail[^1] não vai aparecer para debater com você, portanto, se você tiver várias pessoas a seu lado, poderá superar o falatório. Consulte a Leitura sugerida no final para ver alguns bons artigos sobre como fazer isso, escritos pelo companheiro de trabalho Colt Thundercat, dos EUA.

“Meu local de trabalho tem uma rotatividade muito alta. As pessoas não ficam tempo suficiente para se organizarem.”

Muitas vezes, a alta rotatividade pode ser resultado de um sentimento de impotência, de uma força de trabalho predominantemente jovem ou de um local de trabalho que simplesmente mastiga as pessoas e as cospe fora. Se você quiser evitar contratempos em uma campanha de organização, insista com os organizadores e outros trabalhadores para que se firmem no local de trabalho. Alta rotatividade significa perda de continuidade e história no local de trabalho, portanto, os trabalhadores que permaneceram no mesmo local por algum tempo (ou, no caso de locais de trabalho temporários, como empregos em festivais, trabalharam para a empresa várias vezes) têm uma grande vantagem para se organizar: São eles que podem treinar outros trabalhadores e contar a eles como as coisas costumavam ser melhores. A alta rotatividade também facilita as táticas sujas. Se você está sempre no fio da navalha, bem, qualquer ação é tão perigosa quanto qualquer outra, portanto, é melhor não dar murros em ponta de faca.

“Meu local de trabalho tem muitos trabalhadores imigrantes. Há barreiras linguísticas e o patrão pode tirar os vistos.”

Os trabalhadores são feitos de barro, não de vidro, e presumir que os trabalhadores imigrantes não se organizarão porque podem ter o visto cancelado é uma falácia. Várias vezes, vimos que pessoas vulneráveis como essas são geralmente as mais dispostas a se organizar, pois seu visto pode ser retirado por qualquer motivo. Um exemplo disso é a Pan-African Workers Association no setor de cuidados, que organiza trabalhadores imigrantes africanos. Eles costumam usar um bom representante sindical quando necessário nesses casos, pois alguém com bom conhecimento da lei pode ajudar a identificar casos de escravidão moderna e discriminação que podem ser usados para ameaçar o chefe. Os trabalhadores imigrantes são vulneráveis à exploração e sempre devem ser contatados no início de uma campanha de organização para garantir que suas queixas sejam ouvidas.

É importante superar as barreiras linguísticas quando elas ocorrem, porque elas impedem que o sindicato se torne democrático. Se não houver trabalhadores bilíngues em um local de trabalho que possam se comunicar entre diferentes quadros de trabalhadores, talvez você tenha que aprender ou entrar em contato com o sindicato mais amplo para tentar “salgar” o local de trabalho com um membro que fale os dois idiomas. Uma vantagem disso é que você pode descobrir que tem um “idioma secreto”. Se os gerentes não falam o mesmo idioma que muitos funcionários, você pode se organizar à vista de todos sem que eles saibam!

“Estamos trabalhando em um local separado dos meus colegas de trabalho. É difícil até mesmo conhecê-los.”

Tem certeza de que eles já não estão se encontrando? Trabalhadores distantes, como mensageiros, caminhoneiros e professores remotos de inglês para estrangeiros, muitas vezes estabelecem formas de comunicação auto-organizadas e não aprovadas pela empresa, fora do controle do patrão, como uma necessidade prática do trabalho. Essa pode ser uma boa maneira de entrar em contato fora do local de trabalho. Você também pode investigar para encontrar os detalhes de contato das pessoas ou ter a chance de conversar em particular. Se nunca as encontrar, fique atento a fóruns, salas de bate-papo ou listas de discussão on-line onde os trabalhadores possam conversar. Você pode até pensar em criar a sua própria: Um grupo no Facebook ou subreddit “Deliveroo Drivers Edinburgh” pode atrair alguns dos seus colegas e lhe dar a chance de conversar com eles em particular.

“Meus colegas de trabalho não gostam de mim.”

Fazer com que seus colegas de trabalho gostem de você pode ser difícil, especialmente se você for marginalizado. Algumas dicas são: chegue na hora certa e ajude quando precisarem, faça perguntas proativamente e conheça-os, ouça seus problemas. Você sabe, amizade. Tente fazer pelo menos UM amigo no local de trabalho e faça com que ele participe da campanha de organização – quando houver dois de vocês, vocês podem coordenar o trabalho de conhecer as pessoas, uma de cada vez, até que tenham construído uma estrutura social forte no local de trabalho e feito amigos. Ter um aliado é uma das melhores coisas que você pode fazer.

“Sou dependente do meu patrão”, por exemplo, como estagiário, estudante ou empregado por parentes.

Certifique-se de ter um representante sindical de plantão ou, de preferência, um no local de trabalho para protegê-lo de retaliações. “Investigue” coletando grandes quantidades de evidências de saúde, segurança e discriminação no local de trabalho. Se você for demitido, poderá usar isso como uma ameaça para manter seu emprego, especialmente em um local de trabalho precário ou de alta rotatividade. Os trabalhadores vulneráveis geralmente resistem com mais força. Se você for um trabalhador africano no Reino Unido, entre em contato com a Pan African Workers Association para obter ajuda e orientação, bem como com a IWW.

“Meus turnos são muito longos e não me resta muita energia, ou estou trabalhando em vários empregos, sou deficiente.”

Tente fazer o máximo de trabalho sindical que puder “no horário de trabalho” em vez de em casa. Certifique-se de fazer isso em particular, é claro, e não deixe que seu patrão pegue nenhum de seus anotações, mas se você puder usar o seu tempo ocioso para alguma coisa, é melhor fazê-lo. Seja inteligente sobre como usar sua energia. Cuide de si mesmo em primeiro lugar e, aos poucos, faça progressos na organização. Lembre-se de que nenhuma pessoa deve ser o único responsável por um sindicato – ele DEVE ser democrático e descentralizado. Se você estiver fazendo todo o trabalho, então não é um sindicato, é apenas você. Delegue parte dessa carga de trabalho.

Sugestões de leitura

Além do F**k You (1) e (2) por Colt Thundercat Artigos sobre como confrontar e se organizar gradualmente com colegas de trabalho homofóbicos.

The Stopwatch And The Wooden Shoe (O cronômetro e o sapato de madeira), de Mike Davis Um artigo sobre a invenção da “administração científica” e como os chefes projetaram intencionalmente os locais de trabalho para quebrar seu espírito dessa forma.


Notas de Tradução: [^1] Daily Mail é um dos jornais mais populares do Reino Unido e bastante conservador.

 
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from Sabedoria do Povo


nota do tradutor Este texto é uma tradução dos acordos sobre ação sindical do XI Congresso Confederal da Confederação Nacional do Trabalho (CNT) da Espanha. O congresso ocorreu em 2015 e dentre seus acordos estabelecidos, a CNT firma sua perspectiva de economia coletivista e autogestão na secção 2.4 Ainda que o foco do Projeto Sabedoria do Povo seja o sindicalismo revolucionário, creio que este posicionamento dos anarco-sindicalistas tem muito a contribuir com a perspectiva emancipatória no Brasil.


Economia coletivista e projetos autogestionados

Criação de iniciativas autogerenciadas de produção e consumo pertencentes a sindicatos.

Em termos de produção

Partindo da análise de projetos autônomos ou cooperativas de produção, há uma comparação que pode ilustrar seu entendimento: um trabalhador assalariado tem de atender às condições impostas pelo patrão; ao trabalhar como autônomo, você não é livre, pois as condições são impostas pelo mercado e pelo Estado (seguridade social, leis relacionadas ao setor, tributação, aposentadoria, cotas de produção forçada, subsídios sob certas condições etc.).

O mesmo se aplica a uma cooperativa de produção: por dentro, ela pode ser muito horizontal, mas por fora está sujeita às condições do mercado e, portanto, ao capital. Como resultado, pode ser gerada uma subclasse empresarial ou uma autoexploração voluntária.

Para dar a esse tipo de projeto de produção um potencial emancipatório de acordo com nossos princípios, táticas e objetivos, é necessário fechar o ciclo de produção-consumo sem que o mercado seja o instrumento de troca (o que Isaac Puente, no conceito confederal do comunismo libertário, chama de meio ou sinal de troca). Isso implica que os projetos produtivos partem dos próprios sindicatos e não de fora, e que eles têm um caráter coletivista, não cooperativo.

O conceito de cooperativismo é uma transformação ou denegação do conceito de coletivismo, como a ideia original do socialismo humanista, conforme expresso e concretizado nos princípios fundadores da Primeira Internacional, cujos princípios a C.N.T. e o anarquismo em geral são herdeiros. A terminologia cooperativa de produção e consumo usada na maioria dos acordos dos sindicatos que os apoiaram, então, apresenta nuances de operação e propósitos que nos permitem identificá-los com o conteúdo coletivista do movimento anarco-sindicalista. Por isso, o termo COLETIVIDADE DE PRODUÇÃO E CONSUMO foi adotado como definição para todos os casos. Portanto, rejeitamos o cooperativismo como um fim em si mesmo, cuja dinâmica leva à integração na sociedade capitalista por meio da criação de novos empreendedores ou da autoexploração voluntária em benefício do mercado e do Estado.

As coletividades de produção e consumo que podem ser criadas hoje não devem ser consideradas como um meio direto e absoluto de alcançar a emancipação dos trabalhadores. Elas podem servir como um meio indireto de aliviar nossos problemas de compra e, por outro lado, colocar em prática realizações em que a capacidade de auto-organização dos trabalhadores seja demonstrada, eliminando intermediários, armazenistas, especuladores etc.

Esses coletivos de produção e consumo não são projetos de trabalho autônomo nem cooperativas, mas o trabalho é realizado pela participação voluntária dos membros do coletivo.

Os coletivos de produção e consumo, conforme atualizado em congressos anteriores, estão divididos em duas seções:

  • a) Casos de indústrias a serem coletivizadas devido a cerco patronal, abusos, etc., nos quais as condições em que são deixadas e a dependência de outras indústrias no que diz respeito ao fornecimento e/ou distribuição de produtos seriam levadas muito em conta.

  • b) O outro caso, de acordo com os documentos, é o dos Coletivos de Produção Agrícola, considerados como uma parte importante da seção sobre alternativas ao problema agrário.

A base para a organização das Coletividades é baseada na opinião majoritária dos sindicatos, que concordam, em princípio, com sua implementação na agricultura como a possibilidade mais viável no momento. Esse sistema de organização, objetivos, etc., é adaptável a qualquer tipo de Coletivo de Produção e Consumo que possa ser criado no futuro dentro da sociedade.

Na ausência de um estudo exaustivo da história e das características técnicas do movimento cooperativo, é necessária uma orientação geral para o funcionamento dessas Coletividades de Produção e Consumo.

Diante da estrutura econômica capitalista, os anarco-sindicalistas promovem as Coletividades de Produção e Consumo, embora não como um meio absoluto para alcançar a emancipação dos trabalhadores. Considerando que seu funcionamento se baseará em não ser confundido em nenhum momento com o sistema de cooperativas oficiais que tendem a reproduzir o conceito do pequeno empresário.

A estrutura geral será a seguinte:

  • Partirá de pequenos núcleos (sindicatos, federações locais etc.) para se estender às áreas naturais (região, província etc.).
  • Sua estrutura será aquela que não pode ser controlada ou assimilada pelo sistema.
  • Sua coordenação será federalista, mantendo a autonomia dos núcleos.
  • Seu sistema operacional será autogestionado.
  • Sua finalidade não terá fins lucrativos, ou seja, os lucros serão investidos na coletividade e no sindicato.
  • Os proprietários dos Coletivos de Produção e Consumo serão os sindicatos, as federações locais, etc., e não a organização como uma entidade.
  • A estruturação orgânica será usada para o desenvolvimento, o apoio e a implementação de coletividades de produção e consumo.

A CNT não pode, com a força atual da organização, assumir tudo, e deve ter clareza sobre em que apostar e como apostar. Pensamos que é viável começar pela esfera agrária, sem prejuízo de outros setores, pelo exposto e porque requer uma menor correlação de forças para ter acesso aos meios de produção.

Os projetos criados pelos sindicatos devem servir para integrar a luta anarco-sindical por meio da vivência de experiências que fortaleçam ainda mais a ideia da necessidade da revolução, da propaganda pelo fato de servir de apoio à luta anarco-sindical (suprindo necessidades em casos de crise econômica, auxílio a represálias, apoio a greves...).

Em termos de consumo

Em face da comercialização capitalista, devemos lutar pela eliminação imediata de intermediários e intermediárias. Promover canais de comercialização alternativos aos capitalistas. Tentar fazer o máximo uso da estrutura sindical para essa distribuição. Logicamente, isso deve ser acompanhado por uma rede de coletivos ou cooperativas de consumidores coletivizados que fornecerão esses produtos e lhes darão uma saída, dando assim um exemplo de organização como consumidores (V Congresso, ponto 8.7.3b).

O modelo de cooperativa de consumidores é conhecido como GAKs (grupos autônomos de consumo). Em projetos cooperativos que se baseiam exclusivamente no consumo, o pequeno (ou não tão pequeno) empresário é promovido como um empresário mais ecológico, mais equitativo e mais justo, mas, ainda assim, um empresário. O conceito GAK também pode ser entendido parcialmente como uma adaptação ou contextualização do rótulo de sindicato. Acreditamos que a criação de GAKS nos sindicatos seria um passo à frente na prática, mas somente no sentido de que a produção e o consumo são dois lados da mesma moeda e, portanto, é necessário influenciar ambos.

No entanto, estamos bastante relutantes porque, dada a evolução real dos grupos de consumidores nas áreas onde eles mais se desenvolveram (Madri, Catalunha, Andaluzia etc.), vemos um retrocesso na clareza e no entendimento da questão cooperativa vs. coletivismo em relação ao 5º congresso.

Entendemos que os GAKs nunca deveriam ser um objetivo da CNT, mas uma tática na situação atual, já que não podemos fornecer e coordenar a produção e o consumo por meio das federações de ramos. Para responder aos nossos princípios, táticas e objetivos, essa ferramenta deve ser direcionada novamente para o coletivismo, superando a troca por meio do mercado, buscando reduzir o dinheiro ao mínimo em favor de acordos baseados em uma satisfação planejada e participativa das necessidades.

Os GAKs poderiam, portanto, ser adaptados aos princípios, táticas e objetivos da CNT. É claro que não apenas o nome, que poderia ser Grupos Confederados de Consumidores, mas também a definição de seu objetivo e funcionamento. Da mesma forma que os projetos de produção precisam fechar o ciclo em direção ao consumo, os projetos de consumo precisam se mover em direção à coletivização dos meios de produção.

Por meio do GAK, podem ser feitos pactos com os produtores, apresentando diferentes opções de relações, dependendo do caso, e podem ser alcançados acordos nos quais a produção e o consumo são progressivamente assumidos em uma base compartilhada. Mas, por meio do consumo, também é possível estabelecer conflitos de luta exigindo certas condições, como mostram os casos históricos do anarco-sindicalismo, como as greves de consumo de pão, os boicotes contra o abuso dos lojistas ou as greves de aluguel.

Questões a serem consideradas para projetos econômicos dentro da CNT. Rumo à construção de uma alternativa econômica ao mercado e ao Estado.

Acreditamos que questões dessa profundidade devem ser o resultado do debate e das contribuições de toda a organização em relação aos projetos econômicos dentro da CNT, tendo consciência de que só alcançaremos o comunismo libertário por meio da revolução social. A título de exemplo, quando falamos de economia, estamos falando da satisfação das necessidades com base nos recursos que temos disponíveis, portanto, o objetivo da atividade econômica não precisa ser necessariamente de natureza monetária. Ou seja, um projeto produtivo pode ser realizado em relação à publicação de livros ou outros materiais para venda, mas também pode ser realizado com o objetivo de fornecer aos sindicatos os materiais que consideramos necessários.

Uma economia coletiva.

Em oposição ao individualismo, uma das características essenciais do capitalismo. Todas as outras bases devem ser construídas sobre essa lógica do coletivo. Essa opção não deve prejudicar o respeito ao indivíduo e o livre desenvolvimento de sua personalidade e criatividade em coexistência com a dos demais.

Consenso sobre os princípios básicos:

Estabelecer bases claras e escritas, que não precisem ser constantemente discutidas e que não dêem margem a infinitas interpretações. Isso implica aprofundar as questões básicas do projeto até que se chegue a um consenso. As pessoas que desejam participar do projeto devem se conhecer previamente.

Atender às necessidades básicas como objetivo:

Começar com um estudo das necessidades básicas (materiais e não materiais) a serem atendidas, pois o planejamento deve ser baseado nelas. O planejamento implica não apenas o quê e quando, mas também quem e como e, portanto, o treinamento prévio sobre os conhecimentos e as habilidades práticas necessárias. A cobertura das necessidades básicas implica a renúncia às necessidades supérfluas (sejam elas dos próprios membros ou de terceiros, no caso de produção externa).

Avaliações periódicas são essenciais para garantir que o planejamento seja adaptado à realidade e que a experiência acumulada seja bem utilizada. Não apenas as atividades planejadas devem ser avaliadas em relação a seus objetivos de curto prazo, mas também para ver até que ponto elas estão de acordo com os princípios, táticas e objetivos da CNT e seu impacto na atividade do sindicato. Por fim, é sempre necessário replanejar de acordo com os resultados das avaliações.

Autogestão:

A independência de todas as formas de poder é a consequência de uma atitude que deve estar presente em qualquer projeto alternativo ao sistema dominante: estar constantemente contra o poder. A tomada de decisões deve ser feita em assembleias por aqueles que fazem parte do projeto. Mas o assembleísmo não está, por si só, isento de formas de poder. Para que seja possível decidir em pé de igualdade, é necessário ter formas de comunicação em que todos tenham acesso às informações. Não há horizontalidade quando as decisões são iguais, mas a participação não é, pois algumas pessoas decidem o que as outras devem fazer.

A autogestão não é apenas decidir, é também fazer. Embora todos devam estar envolvidos na tomada de uma decisão na medida em que ela os afete em questões fundamentais, o sindicato tem a palavra final.

Aprendizado ao longo da vida:

O grau de experiência e conhecimento afeta todas as outras bases levantadas: desde como as decisões são tomadas até nossa relação com o meio ambiente.

É essencial criar espaços para a aprendizagem coletiva ou, melhor ainda, que a possibilidade de aprendizagem seja facilitada durante o desenvolvimento das próprias atividades (isso deve ser levado em conta no planejamento dessas atividades) e levada a todos os campos de forma transversal.

Atividade não especulativa:

qualquer atividade intermediária com caráter lucrativo é contrária à ação direta e não é de caráter econômico, mas especulativo. Por tanto a CNT não participa dela. (O transporte é uma atividade econômica).

Estabilidade independente do crescimento

Ao contrário do capitalismo, não se deve exigir crescimento constante para sobreviver. Isso significa eliminar a obsessão com o crescimento quantitativo e pensar mais em termos de multiplicação de iniciativas e sua federação, bem como o crescimento qualitativo em termos de colocar os princípios básicos em prática.

Acesso aos meios de produção

Os meios de produção não são apenas materiais, mas também o conhecimento, as relações, etc. Uma economia alternativa não pode se basear em pegar os meios de produção tradicionais do desenvolvimentismo capitalista e simplesmente colocá-los em outras mãos (por exemplo, não faria sentido autogerir as necessidades de energia ocupando uma usina nuclear). Há meios de produção que precisam ser reapropriados porque estão nas mãos das classes dominantes, e outros que precisam ser reapropriados porque foram desvalorizados e condenados ao esquecimento. Assim, a correlação de forças deve ser alterada para que se assuma o controle dos recursos naturais, mas outros meios de produção, como o conhecimento da natureza ou a capacidade de autossuficiência, também devem ser tomados.

O conhecimento da natureza ou a capacidade de auto-organização exigem grupos de aprendizagem coletiva para recuperar o conhecimento camponês secular adaptado às realidades locais e à memória histórica das lutas de nossa organização.

Preferência pelo uso de tecnologias simples.

A tecnologia usada não deve gerar novas necessidades ou dependências. No grau de eficiência (resultados obtidos entre os recursos utilizados), devemos incluir nos resultados os efeitos indesejados e o tipo de organização social que ele reproduz e, nos recursos utilizados, não apenas o momento de seu uso, mas também o encadeamento/acúmulo de custos reais anteriores. É essencial recuperar o conhecimento válido em termos de autonomia e eficiência de outras épocas e culturas e conceber (não idealizar) formas diferentes de produzir. O uso de outras tecnologias deve ser baseado em um estudo fundamentado de suas repercussões, e seu uso não está excluído.

Relação equilibrada com a natureza:

Começa levando em conta o custo ecológico real do que é produzido. Por um lado, o consumo de matérias-primas e energia para todo o processo deve respeitar a capacidade de regeneração dos recursos naturais que utiliza. Por outro lado, devemos estar cientes dos efeitos indesejáveis e da deterioração que nossa atividade econômica causar à autorregulação do sistema natural. O sistema natural deve ser restaurado, principalmente porque ele é, em última análise, a fonte de tudo o que é necessário para a vida e sua reprodução.

Interação com o contexto social.

Um projeto não pode ser fechado, mas deve transcender o resto da sociedade. Da mesma forma, dado que o capitalismo não é apenas um sistema econômico, mas que a dominação se estende a todos os aspectos da vida social, é necessário inserir essa luta econômica nos processos mais amplos de luta que a CNT mantém.

A tendência natural, com base em nossos objetivos, é dispensar gradualmente a relação com o mercado capitalista.

Participar de redes econômicas de apoio mútuo.

É muito difícil para um projeto isolado atender a todas as suas necessidades. Portanto, no futuro, é essencial coordená-las por meio de canais orgânicos e criar alianças com outros projetos, federações, pessoas e grupos com ideias semelhantes, ampliando o apoio mútuo.

Influência do não econômico sobre o econômico.

O econômico não é tudo. Há questões que afetam a economia e que não podem ser resolvidas pela economia. Sem uma mudança na cultura, nos valores, na consciência e nas formas de se relacionar com os outros, nenhuma alternativa de longo alcance será viável. Para alcançar o bem-estar pessoal e coletivo, é preciso haver equilíbrio entre o que pensamos, o que sentimos e o que fazemos.

A exceção não faz a regra.

Há ocasiões em que, na prática, não há alternativa a não ser não cumprir com uma ou mais das bases acima. Essas decisões não precisam afetar o futuro do projeto se forem tomadas em sã consciência e com o conhecimento do sindicato.

Elas não devem criar um precedente e não devem se tornar uma questão natural. Também é essencial que elas sejam acompanhadas de um compromisso de buscar outras soluções consistentes com os princípios da organização para a próxima vez que tais situações surgirem. Isso é particularmente importante quando se propõe começar de uma maneira e depois passar gradualmente a fazer as coisas de forma diferente. Gradualmente, passando a fazer as coisas da forma como realmente queremos fazê-las.

Que funcione:

Ou seja, que atenda aos objetivos estabelecidos pela organização. Quando não funciona, não devemos desanimar, mas sim estudar se a falha está na formulação do projeto em si (bases, planejamento) ou se é o desenvolvimento do projeto que está falhando.

 
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