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Tecnologia da Informação – Trabalho – Educação Profissional

A popularização das chamadas mídias sociais criou o que conhecemos por “influenciadores digitais”. São criadores de conteúdos que, publicados nas diversas plataformas, conseguem atingir milhares ou até milhões de adeptos, dispostos a absorver informações que podem ser mero entretenimento ou, inclusive, abarcar conteúdos envolvendo, por exemplo, divulgação científica e formação profissional, ainda que na modalidade não formal, executada fora dos espaços institucionais de educação. É, especificamente, no perfil dos influenciadores digitais do segmento da Tecnologia da Informação, que atuam na divulgação de conhecimento e na formação de profissionais através das mídias digitais, que minha pesquisa de mestrado em Educação Profissional propõe debruçar-se.

Youtubers

Um exemplo comum e recente da estratégia de atuação destes criadores de conteúdo formativo técnico na área de TI é visto no uso dos canais em plataformas de transmissão contínua ou streaming, principalmente de vídeo, tais como Twitch TV e a mais popularizada YouTube. Nesses espaços, profissionais mais ou menos experientes em determinadas carreiras dentro do segmento de informática, em termos objetivos, ministram cursos de qualificação organizados em uma ampla variedade de formatos e modalidades: abertos, de curta e longa duração, ao vivo ou gravados, imersivos, síncronos e assíncronos, entre outros.

A Bolha

A dinâmica das mídias sociais, dentro de um contexto global em que a polarização político-ideológica se acentua, inclusive com ascensão de grupos reacionários de extrema-direita, aparentemente influenciou uma organização online também polarizada e distribuída em nichos ou “bolhas”, com considerável clivagem ideológica, onde para além do interesse comum em torno de um assunto específico – que no caso desta pesquisa inclui a qualificação profissional em tecnologia informação, outros aspectos quais sejam comportamentais, políticos e ideológicos também influenciam fortemente na organização dessas comunidades online.
Nesse sentido, o interesse da pesquisa focaliza um nicho específico de formadores digitais em TI, a saber os aqui referenciados como “influenciadores digitais de tecnologia progressistas”, que trazem em seus conteúdos, mais do que tópicos estritamente técnicos, pois incluem discursos com características contra-hegemônicas, no sentido de que provocam nessas comunidades de práticas, mais ou menos explicitamente, discussões quanto às relações de trabalho, reconhecimento de classe, valorização profissional, anti-colonialismo digital, dentre outros assuntos que, em certa medida, contestam a narrativa dominante permeada pela racionalidade neoliberal (DARDOT; LAVAL, 2016).

Bolha Progressista e os IFs

Tomando o entorno dos influenciadores digitais de tecnologia como objeto desta pesquisa, a temática busca identificar-, por meio de uma análise multidimensional, sejam elas (mas não somente) as dimensões ontológica e epistemológica – as interfaces possíveis entre esses espaços, assim caracterizados, como não formais de aprendizagem online e as bases conceituais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, mais especificamente, os Institutos Federais, a saber, bases estas constituídas a partir da produção de autores clássicos como Marx, Engels, Gramsci, Saviani, Kuenzer, entre outros, tendo como mote a formação humana integral e o trabalho como princípio educativo. O esboço de Saviani (2023), um dos grandes pedagogos e referencial para Educação Profissional e Tecnologia enuncia esse projeto:

…começando por apresentar um esboço do projeto de escola de formação integral passando, no segundo momento, à defesa do referido projeto para a classe trabalhadora e também pela classe trabalhadora à qual cabe o protagonismo principal para se efetivar a implantação da escola unitária de formação integral. Finalmente, à guisa de conclusão, indica-se a importância da educação escolar articulada à organização das massas trabalhadoras para o desenvolvimento da consciência social como condição para a transformação revolucionária da sociedade.

Portanto, a pesquisa de mestrado propõe, nessa análise multidimensional, efetuar um diagnóstico sobre as estratégias de formação profissional em TI executadas em ambientes de ensino-aprendizagem não formais online e através das mídias sociais, especificamente as mediadas pelos chamados influenciadores digitais atuantes no segmento de tecnologia, bem como propor instrumentos para identificação e/ou criação de interfaces entre esses espaços não formais e a Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica – RFEPCT.

A ideia está dada

Uma pesquisa começa escolhendo a temática, delimitando o tema e identificando a pergunta de pesquisa. É isso que temos até agora, o projeto se encontra em estágio inicial com a certeza de que há muito o que aprender com a bolha progressista de TI. A ideia é compartilhar, sempre que possível, no Fediverso os aprendizados conquistados durante esse processo, contando com o feedback e as sugestões que possam ajudar a construir uma massa crítica em torno de Educação Profissional com bases contra-hegemônicas, que toque na Formação Humana Integral a partir de eixos (e seus desdobramentos) como Trabalho, Tecnologia e Mídias Sociais.

Se a Educação, nos moldes contemporâneos ainda pode ser vista como uma ferramenta do modo de produção capitalista, já que foi concebida para isso, pensá-la a partir de bases contra-hegemônica é, no mínimo, estratégico na busca por aproveitar as brechas que as contradições do regime de acumulação flexível (o capitalismo atual) possui, e assim cavar espaços no debate sobre as relações de trabalho, onde a classe trabalhadora de TI, munidos de consciência de classe, seja protagonista na luta por melhores condições formação e de trabalho, contra a precarização.

Algumas perguntas a serem respondidas?

  • Como influenciadores digitais de TI se reconhecem? Influencers ou Formadores?

  • Que bases constroem suas subjetividades?

  • Quais as possibilidades e limites das iniciativas de qualificação profissional ministradas online por influencers, a partir de uma perspectiva contra-hegemônica de valorização da classe trabalhadora de TI?

  • O que os Institutos Federais podem aprender com esses espaços populares de formação profissional?

  • A Certificação de Conhecimentos e Saberes (Re-Saber) pode cobrir lacunas, diplomando profissionais autodidatas ou formados em espaços não formais?

  • Uma Certificação ou Selo de Educador EPT para influenciadores/formadores faria sentido? Algo aos moldes das certificações de mercado (AWS, MS, Google, Scrum) mas para distinguir formador em Educação Profissional e Tecnológica na concepção contra-hegemônica?

  • Há espaço para elaborar um produto educacional que contemple ações de colaboração bilateral entre o espaço institucional e estes ambientes não formais?

Referências

BRASIL. Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A Nova Razão do Mundo. São Paulo: Boitempo, 2016. SAVIANI, D. Em defesa do projeto de formação humana integral para a classe trabalhadora. Revista Brasileira da Educação Profissional e Tecnológica, [S. l.], v. 1, n. 22, p. e13666, 2022. DOI: 10.15628/rbept.2022.13666. Disponível em: https://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/RBEPT/article/view/13666. Acesso em: 23 jul. 2023.

Tiago Juliano Ferreira Cientista da Computação Mestrando em Educação Profissional e Tecnológica