#10 – READ A PSYCHOLOGICAL OR SUPERNATURAL MANGA – TOMIE (20/20)
Fazia tempo que eu não postava por aqui, já tinha escrito um pouco sobre na nota #9, perdi totalmente minha animação pra mangá. E é perigoso. Da última vez que tive isso, foi quando resolvi começar o desafio e ler Bleach. Que atrocidade posso cometer dessa vez, ler Fairy Tail talvez?
Bom, acabei lendo Tomie. Culpa do meu consumismo. Estava vendo uma live do Pipoca & Nanquim, em que a equipe anunciou que restavam pouquíssimas cópias de Rohan no Louvre disponíveis para compra (se eu me lembro bem, 73 cópias) e que não haveriam planos para reposição. Corri e garanti o meu, o Rohan é o meu personagem favorito de JJBA e não podia deixar de ter essa peça na coleção. Acabou que anunciaram na mesma live a pré-venda do volume 2 de Tomie. E, se comprasse junto com o volume 1, ganhava um baita desconto. Não pensei duas vezes, e esse é o estratagema do consumismo.
A questão é: eu não sou o maior fã do Junji Ito. Ou ele acerta em partes, ou ele erra feio. Uzumaki se perde quando deixa de ser formado por capítulos desconexos para virar uma história contínua. Gyo se perde no gore, tudo ali é intenso demais, apelativo, entra o dramalhão, a mistura não fica legal. Ma no Kakera, publicado como Fragmentos do Horror no Brasil pela Darkside, possui um ou dois contos que valem a pena ler, o resto é totalmente desinteressante, nada se salva. E eu já tinha lido os primeiros capítulos do Tomie há muito tempo atrás, e sabia que não é do meu gosto. Quando recebi as edições, achei o acabamento muito bom, e me peguei pensando que tinha comprado justamente pela parte física do livro, e não pelo conteúdo.
Fiquei com raiva. Resolvi sair do limbo de não ler nada de mangá há meses (nem One Piece estou acompanhando, que vergonha) e ler esse para não sentir que joguei dinheiro fora, com o ódio como minha motivação. E deu certo, tanto que terminei. Como são boas algumas surpresas, acabei gostando bastante do título, é a melhor coisa que já li do autor.
Tomie é um organismo macroscópico que funciona com as lógicas moleculares. Como DNA, Tomie tem o impulso primário de reprodução e necessita de todo um maquinário para isso. As moléculas de material genético comandam o comportamento celular para atingir seu objetivo de clonagem, assim como Tomie precisa seduzir os homens e comandá-los a realizar ações absurdas para, no fim, esquartejá-la e espalhar seus pedaços pelo mundo.
Há um ponto nisso tudo, semelhante aos primeiros capítulos de Uzumaki, que torna tudo muito mais interessante. A grande potência do horror da obra não está no sobrenatural, na Tomie em si e em suas deformações, mas sim na loucura dos homens e até onde são capazes de ir. É essa perversão que me deixou realmente assustado, um controle praticamente molecular, não há como lutar contra. Se Tomie aparecesse na minha frente, todo meu organismo ia agir para que eu realizasse o esquartejamento da garota. E isso é assustador.
Uma última consideração, meio desconexa de tudo que comentei até agora. Li em muitos fóruns de teorias sobre o que é a Tomie, e tem muita gente dizendo que ela é uma Succubus e tal. Achei uma merda. Parte da graça é desconhecer a origem da garota, não sabemos nem se o primeiro esquartejamento ilustrado foi realmente o primeiro. Além disso, nem toda sedução de Tomie está ligada ao sexo, há capítulos que essa sedução se move por conta da juventude, ou por conta da maternidade (tanto na posição de mãe quanto na posição de filha), por exemplo.
No final, ter me impulsionado pelo consumismo acabou me trazendo uma boa leitura. Não que seja de todo bom, acabei gastando mais dinheiro, poderia ter lido online. O consumismo me seduz tal qual Tomie me seduziria.