Barra do Dia

Poesia do Comum

Hoje faço 26 anos. Anteontem, diversas comunidades em Fortaleza sofreram com a chuva. No poço da draga uma trabalhadora perdeu toda sua casa. Ontem, vi a notícia que a operação Escudo da PM-SP já matou 15 pessoas em 7 dias na Baixada Santista. No RJ a PM matou a queima roupa um homem no Complexo da Maré. Na madrugada do dia 11 para o dia 12, vi o terrível ataque que Israel fez à cidade de Rafah em Gaza, matando 50 pessoas e deixando tantas feridas, tantas crianças.

O carnaval, que por um bom tempo foi muito central em minha vida, me vem com uma neblina intragável. Existe sangue por todo lado. E ainda há de se questionar se estamos vivos mesmo. Talvez, um necrotério dos vivos, como diria Eduardo.

A pergunta fica: o que celebrar? Questiono enquanto os mosquitos rondeiam a lâmpada do poste da rua. Tão intangível...

A indignação poderia me levar a agir pelo meu máximo agora neste momento. Daria tudo de mim nos próximos 30 minutos. É tudo ou nada! Após os 30 minutos teríamos o resultado. A noite silenciosamente engoliria tudo e o amanhã surgiria sem nenhuma desconfiança.

Somente um breve momento é algo infinitamente pequeno ao nosso tempo histórico. É preciso não um dia ou um ano, mas uma vida inteira. Para que de algum modo, essa vida, ainda que pequena, tenha ao longo de sua trajetória, encontrado outras vidas. Junto com estas outras escrever com a própria pele um outro jeito de existir, como se fosse realmente vivo. Se estas tantas vidas encontrarem mais vidas. Aí sim, estaremos caminhando para fazer o amanhecer mais despertado do mundo.

Hoje, por enquanto, encontro algo a celebrar. A fé que mantem minha vida atrelada à tantas outras vidas. Centenas, milhares, milhões... À minha vida ofereço um propósito que a abarca por inteira. Esta é sua maior grandeza, que se espelha neste infinitamente pequeno dia.

“A Revolução é imensa, os acontecimentos gigantes, mas os homens são infinitamente pequenos. Eis o caráter de nosso tempo.”    – Mikhail Bakunin (Carta a Pierre J. Proudhon)